O CM Cast, podcast que analisa os bastidores da política local e nacional, lançou um novo episódio nesta quinta-feira (13).

Os jornalistas Carlos Melo, diretor do Grupo CadaMinuto, e Ricardo Mota debatem o acordo firmado na última segunda-feira (11) entre a Braskem e o Governo de Alagoas, no valor de R$ 1,2 bilhão, para compensar os danos causados pelo afundamento do solo em cinco bairros de Maceió.

Para Mota, o ponto mais grave é a falta de transparência. “Um acordo dessa magnitude, envolvendo recursos públicos e uma empresa responsável por uma tragédia urbana sem precedentes, não pode ser firmado nos bastidores”, afirmou. 

O jornalista defende que o governo deve explicar os critérios, as condições e, principalmente, onde e como esse dinheiro será aplicado. Ele alerta ainda para a sensação de impunidade corporativa. 

“A Braskem conseguiu resolver seus problemas jurídicos com a prefeitura e o Estado por valores muito abaixo do esperado. E o que é pior: com quitação total. É um precedente perigoso”, destacou.

Melo observa que, enquanto as esferas de governo tentam encerrar o assunto, as famílias afetadas continuam enfrentando incertezas. “Os moradores vivem uma dupla punição: perderam suas casas e ainda veem os governos fazendo acordos que não mudam sua realidade”, comentou.

Para os jornalistas, o episódio revela um padrão que se repete em tragédias ambientais no Brasil. “De Mariana a Maceió, o roteiro é parecido: empresas poderosas negociam diretamente com o poder público, reduzem valores e, no fim, o cidadão fica à margem. É o retrato da desigualdade institucional que favorece quem tem força econômica”, resumiu Mota.

Ele também chama atenção para a discrepância entre o valor acordado e o tamanho do prejuízo. “Não há justificativa técnica ou moral para um acordo tão baixo. Quando o próprio governo estimou perdas de até R$ 30 bilhões, receber R$ 1,2 bilhão soa como capitulação”, avaliou.

Segundo Mota, o processo foi conduzido de forma silenciosa. “Tudo foi resolvido em sigilo, sem debate público ou audiências. O acordo apareceu pronto, e o governo apenas confirmou o que a empresa divulgou. Isso fere o princípio básico da gestão pública: o de prestar contas”, criticou.

O jornalista ainda reforçou que, no fim das contas, quem mais perde são os moradores. “São 60 mil pessoas que tiveram suas vidas interrompidas e que seguem sem uma reparação justa. O Estado e a prefeitura receberam bilhões; o cidadão recebeu R$ 20 mil. É um abismo que mostra bem como funciona a justiça ambiental no Brasil”, finaliza.

Os episódios do CM Cast vão ao ar às segundas e quintas-feiras, a partir das 12h.