A moda no Brasil vive um momento de transformação. Mais do que vestir, o ato de consumir moda tornou-se uma forma de expressão, pertencimento e propósito. A valorização do produto autoral, a busca por sustentabilidade e o resgate de saberes manuais têm redesenhado o comportamento do consumidor e impulsionado o mercado em direção a uma nova economia criativa.

Em Alagoas, esse movimento ganha cada vez mais força. Segundo dados do Sebrae, o estado conta com 20.874 empresas ligadas à moda, entre confecções, lojas e ateliês. O setor é formado majoritariamente por microempreendedores individuais (MEIs) e microempresas, que representam mais de 95% dos negócios. Mesmo enfrentando desafios, o segmento demonstra vitalidade: o número de empresas cresceu 1,4% entre 2024 e 2025, e a tendência de expansão no período de cinco anos chega a 21,4%. Esses números revelam um setor que se reinventa, impulsionado pela criatividade e pela força empreendedora local.

Apesar do mercado competitivo, os índices de longevidade e sustentabilidade do setor mostram o potencial de crescimento. A média de vida das empresas de moda em Alagoas é de 10,4 anos, e o Índice de Sustentabilidade do Desenvolvimento Econômico Local (ISDEL) registra 0,25, o que indica espaço para evolução, especialmente por meio de capacitação e inovação.

Sebrae impulsiona a moda alagoana com capacitação e inovação

Com o propósito de fortalecer o ecossistema da moda no estado, o Sebrae Alagoas vem realizando diversas ações voltadas para o setor. Uma delas foi a segunda edição do Moda 360, evento que reuniu empresários, estilistas e consultores para discutir tendências e estratégias de mercado. A programação contou com a presença da especialista Angélica Coelho, do Senai/CETIQT, e da consultora de branding e moda Renata Abranchs, do Estúdio Renata Abranchs Branding, duas referências nacionais no setor.

A gerente da Unidade de Relacionamento Empresarial do Sebrae Alagoas, Fátima Aguiar, destacou a importância da iniciativa. “O intuito do Sebrae é abrir caminhos para o mercado, manter os empreendedores atualizados e preparados para as vendas e as novas demandas do consumidor. Quando trazemos especialistas como essas, estamos facilitando a vida dos empresários na tomada de decisão”, afirmou.

A analista do Sebrae, Carolina Ávila, reforçou que o Moda 360 é parte de um conjunto de ações voltadas à profissionalização do setor. “Já realizamos capacitações em vendas, em uso de inteligência artificial e em técnicas de moda. Nosso foco é preparar tanto o varejo quanto a indústria e a moda autoral para competir com o mercado online. É preciso entender que o diferencial das marcas locais está no atendimento, na experiência sensorial e no pertencimento que a moda regional desperta”, explicou.

O diretor técnico do Sebrae Alagoas, Keylle Lima, ressaltou o papel da moda como agente de autoestima e conexão. “A loja física continua sendo um espaço de relacionamento. Quando o cliente entra, ele não está apenas comprando uma roupa, mas vivenciando um encontro, uma troca. Isso é algo que a internet não substitui”, pontuou.

Tendências e identidade: o futuro da moda é humano e artesanal

Durante o encontro, a especialista Angélica Coelho apresentou as tendências para as temporadas Primavera/Verão 2026-2027, destacando o resgate da manualidade como diferencial competitivo. “A tecnologia tem avançado em ritmo acelerado, mas o toque humano, a singularidade e o saber artesanal são o novo luxo da moda global. Alagoas, com técnicas como o filé e a renascença, tem um potencial enorme de protagonismo nesse movimento”, afirmou.

Angélica, que atua há mais de uma década no Senai CETIQT, lembrou que o Brasil está em sintonia com as grandes feiras internacionais, como a Première Vision Paris, onde as “artesanias” ganharam espaço central. “As bolsas de crochê e os bordados manuais estão nas vitrines das grandes grifes. É o momento de olhar para o que já fazemos bem e transformar isso em produto com valor agregado e identidade.”

Já a consultora Renata Brandes trouxe o olhar estratégico do branding para as marcas locais. Para ela, o desafio das pequenas empresas é aprimorar sua imagem e comunicação sem perder a essência. “A resposta não está fora. Está na identidade e na ancestralidade alagoana. O que falta é dar um novo contorno, uma apresentação mais profissional e emocional. É como servir uma tapioca em um guardanapo de papel e outra em uma porcelana: o sabor é o mesmo, mas o valor percebido é outro”, comparou.

Renata destacou ainda a força coletiva da moda alagoana, que tem se consolidado nacionalmente por meio de movimentos como o “Renda-se” e a presença constante de marcas do estado no Minas Trend, uma das principais vitrines da moda brasileira. “Há uma vocação natural em Alagoas para unir tradição e contemporaneidade. A marca alagoana Foz, do estilista Antônio Castro, por exemplo, se tornou uma embaixadora dessa estética e inspira novas marcas a acreditarem no próprio potencial”, completou.

Alagoas segue trilhando seu caminho de autenticidade no cenário nacional, valorizando o que tem de mais precioso: o talento, o saber manual e a força criativa de quem faz moda com alma.