As ações da Braskem registraram forte queda nesta sexta-feira (26) na B3, a bolsa de valores de São Paulo, após a companhia anunciar a contratação de assessores financeiros e jurídicos para avaliar alternativas voltadas à sua estrutura de capital. No início da tarde, os papéis caíam 14%, cotados a R$ 7,09 — a mínima intradia desde março de 2015.

O comunicado ocorre em meio a um cenário adverso para o setor petroquímico global, em ciclo de baixa que, segundo a própria empresa, deve se prolongar por vários anos. “A Braskem contratou assessores financeiros e jurídicos para auxiliar a companhia na elaboração de um diagnóstico de alternativas econômico-financeiras para otimizar a sua estrutura de capital”, afirmou a empresa, sem detalhar possíveis medidas.

O UBS BB avaliou que o anúncio reforça o momento desafiador da companhia, que enfrenta margens pressionadas e depende de fatores externos — como tarifas de importação mais altas e a aprovação do REIQ/Presiq — para reduzir o consumo de caixa no curto prazo. O banco reduziu a recomendação das ações de “compra” para “neutra” e cortou o preço-alvo de R$ 15 para R$ 10.

O desempenho negativo na bolsa também reflete a piora na percepção de risco da Braskem. Na semana passada, a agência de classificação de risco S&P rebaixou a nota de crédito da petroquímica de “BB-” para “B+”, com perspectiva negativa, indicando maior risco de inadimplência.

Controlada pela Novonor (antiga Odebrecht), que está em recuperação judicial desde 2019, a Braskem acumula desafios financeiros e reputacionais. A companhia é alvo de ações judiciais e indenizações bilionárias pela extração de sal-gema em Maceió (AL), que provocou o afundamento do solo em vários bairros e a retirada de cerca de 60 mil moradores. Em 2023, uma das minas desabou sob a lagoa Mundaú, intensificando a crise ambiental.

Além das questões no Brasil, a parceria com a mexicana Idesa também enfrenta dificuldades e já contratou assessores para avaliar alternativas financeiras. A alavancagem da Braskem chegou a 10,59 vezes no primeiro semestre, muito acima dos níveis registrados em 2023, enquanto a dívida bruta alcançou cerca de US$ 8,5 bilhões (R$ 45,4 bilhões). A posição de caixa da empresa no fim de junho era de US$ 1,7 bilhão (R$ 9 bilhões), sem contar uma linha de crédito rotativo de US$ 1 bilhão válida até 2026.

Em agosto, o presidente da companhia, Roberto Ramos, defendeu a estratégia de reestruturação baseada na substituição da nafta por gás natural e na produção de químicos “verdes”, derivados de fontes renováveis. Segundo ele, o problema da empresa não está no volume de dívida, já que não há vencimentos significativos no curto prazo. Ramos também disse não ser favorável à venda de ativos para amortizar débitos.

O futuro da Braskem, contudo, segue cercado de incertezas. Além do alto endividamento e do ambiente desafiador no mercado petroquímico, a venda da participação da Novonor na companhia permanece incerta — e a crise ambiental em Alagoas pode se tornar um obstáculo ainda maior para potenciais interessados.