Com o pé no chão da periferia e o coração nos palcos, Cristiano Maggu prova que a cultura é um poderoso motor de transformação. Fundador do Teatro Escola Maggu, no Benedito Bentes, ele viu sua trajetória como artista e educador popular dar uma guinada quando conheceu o Acelera Perifa, programa do Sebrae Alagoas voltado ao fortalecimento de pequenos negócios nas comunidades da capital.
Criado para apoiar empreendedores das comunidades periféricas, o Acelera Perifa oferece orientações gratuitas, capacitações práticas e acompanhamento técnico com foco em diagnóstico, planejamento e crescimento dos negócios.
Antes mesmo de entender o que era empreendedorismo, Maggu já atuava como um. Seu "negócio", como ele define hoje, nasceu da necessidade de ocupar espaços com arte e dar voz a quem historicamente foi silenciado.
“Cresci em um lar simples, mas cheio de afeto. Minha mãe me ensinou que cultura e educação são caminhos. Eu só quis devolver pra minha comunidade tudo que ela me deu: sentido, pertencimento, raiz”, conta ele, com orgulho ao relembrar sua história.
A trajetória do Maggu (48), como é conhecido no Benedito Bentes, começou com peças escolares e apresentações na igreja, mas ganhou força em 1999 com a fundação da Companhia de Teatro Cortina. Entres espetáculos educativos e de comédia, realizou a maior Paixão de Cristo de Maceió com um elenco de mais 100 atores, algo jamais visto no bairro. “Mas tudo era muito altruísta e sem fins lucrativos, reinvestíamos em novos espetáculos o pouco que lucrávamos”, relembra Maggu.
A grande virada veio anos depois, em 2019, com a criação do Teatro Escola Maggu, um centro cultural independente, que oferece oficinas de teatro, canto, capoeira, audiovisual, coco de roda, cordel, libras e até horta e compostagem comunitária. Tudo isso com acesso gratuito ou em moeda solidária (forma de pagamento alternativa, baseada em trocas ou contribuições simbólicas).
Acelera que impacta
Este ano, Maggu entrou para o Acelera Perifa e, pela primeira vez, viu sua atuação artística sob a lente da gestão estratégica. Aprendeu a montar uma apresentação estratégica do negócio, precificar cursos, desenhar planos de ação e usar o digital como ferramenta de expansão.
“O Acelera me mostrou que era possível estruturar tudo isso sem perder minha essência. Aprendi que cultura também é negócio. E que negócio pode ser ponte entre sonho e oportunidade”, explicou Maggu.
Em 2025, o Acelera Perifa realizou cinco encontros presenciais com temas como marketing digital, gestão financeira e estratégias de vendas, sempre com linguagem acessível e foco na realidade local. Um dos pilares do programa é a atuação de 19 agentes capacitados pelo Sebrae Alagoas para oferecer acompanhamento direto aos empreendedores.
A transformação do Teatro Escola Maggu foi acompanhada de perto pela agente de atendimento Victoria Muritiba, que atuou como mentora do projeto durante a capacitação. Segundo ela, o salto foi visível:
“O Maggu tinha um trabalho belíssimo, mas faltava organização e presença digital. Hoje, ele tem estratégia de comunicação, cronograma de postagens e um posicionamento claro. Tudo isso fortaleceu ainda mais o impacto do projeto”, destaca a agente.
Perifa que se multiplica
O Teatro Escola Maggu já impactou mais de mil pessoas, entre crianças, jovens e adultos. Mas os números não contam tudo. As histórias falam mais alto — como a de Diogo Philipe, jovem tímido que entrou no teatro para atuar, tornou-se iluminador cênico, e hoje é idealizador e responsável pelo projeto de compostagem da comunidade, além de atuar como monitor da turma de libras, inspirando outros jovens.
“Aprendi a me expressar, a liderar, a conviver com gente diferente. O Maggu me ensinou a ver a potência que eu mesmo não enxergava em mim. O que o Cristiano Maggu faz através da escola de teatro é preparar jovens para lidar com diversas situações que eles vão ter que enfrentar ao sair do colégio, eu sou a prova do impacto dele na comunidade”, resume Diogo.
O ciclo virtuoso é contínuo: quem aprende, ensina. Quem é impactado, transforma. O Teatro Escola Maggu é hoje uma referência em arte comunitária, com iniciativas reconhecidas nacionalmente, como o Cineclube Maggu, projeto-piloto da plataforma Tela Brasil, que leva cinema às praças e escolas, além de participar de mostras internacionais de animação e direitos humanos.
Outra frente liderada por Maggu é o projeto de compostagem orgânica comunitária, que ensina sustentabilidade, gera renda e conecta arte e meio ambiente de forma prática e sensível. A formalização como Organização da Sociedade Civil (OSC) ampliou o alcance do trabalho, agora com foco especial na primeira infância.
Potência que nasce na base
Para o Sebrae Alagoas, histórias como a de Maggu sintetizam o propósito do Acelera Perifa: mostrar que o empreendedorismo periférico tem força, criatividade e um potencial gigantesco para transformar comunidades inteiras.
“O Maggu é um exemplo claro de que quando a cultura encontra apoio técnico e reconhecimento, ela floresce mesmo em meio às dificuldades do dia a dia. O Acelera Perifa existe para isso: para potencializar o que já pulsa nas periferias e ajudar esses empreendedores a ocuparem o espaço que sempre foi deles”, afirma Danúbia Dantas, analista do Sebrae Alagoas, gestora do Acelera Perifa.
A jornada de Cristiano Maggu é feita de palco, suor, papelão, compostagem, redes sociais e sonhos. Mas, acima de tudo, é feita de gente. “Aqui, ninguém fica de fora. A arte é de todos. E o meu maior papel é garantir que ela chegue onde mais precisa”, finaliza.