O Museu Théo Brandão de Antropologia e Folclore (MTB) celebra, neste mês de agosto, cinco décadas de dedicação à cultura popular nordestina, com ênfase especial na riqueza artística e simbólica de Alagoas. Inaugurado em 20 de agosto de 1975 como equipamento cultural da Universidade Federal de Alagoas (Ufal), o MTB nasceu a partir da doação da preciosa coleção do professor, médico e folclorista Theotônio Brandão Vilela, que dá nome à instituição.
Inicialmente instalado no bairro do Pontal da Barra, em Maceió, o Museu Théo Brandão se consolidou como um dos mais importantes espaços de preservação da arte e da cultura popular do Nordeste brasileiro. O acervo é composto por peças que narram histórias, tradições e expressões simbólicas do povo nordestino com um olhar afetuoso e profundo sobre as manifestações culturais alagoanas.
Entre cerâmicas, brinquedos populares, peças de fibra vegetal, máscaras e indumentárias de folguedos, o museu abriga obras de grandes mestres da arte popular, como Fernando Rodrigues, Dona Irinéia, Sil de Capela, entre tantos outros que são referência na cultura do povo nordestino. Além da coleção tridimensional, o equipamento detém um dos maiores e mais valiosos acervos documentais, fotográficos e sonoro do país voltados para a cultura popular, com registros que atravessam gerações e preservam a memória oral, visual e simbólica das tradições populares Nordestinas e brasileiras.
Hoje situado na Avenida da Paz, em um belíssimo casarão de arquitetura eclética do início do século 19, que pertenceu à tradicional família Machado, o MTB passou por um processo completo de restauro no início dos anos 2000. A reabertura em junho de 2002 devolveu à cidade um espaço cultural renovado, com intervenções que respeitaram e preservaram suas características arquitetônicas originais.
O prédio está temporariamente fechado, devido a problemas estruturais tanto internos quanto em seu entorno, agravados pela falta de investimentos regulares na manutenção e na valorização do espaço. “Apesar da situação atual, o Museu segue vivo, presente na cena cultural e acadêmica, e encontra renovadas esperanças em um projeto submetido ao Edital do PAC Seleções, com a proposta de criação do Complexo Cultural Théo Brandão. O projeto prevê um futuro promissor para a cultura alagoana, com o restauro do Museu Théo Brandão. As ações incluem também a construção de um anexo moderno, acessível e integrado à paisagem urbana”, disse a diretora, museóloga Hildênia Oliveira.
De acordo com ela, a falta de investimentos prejudica um dos equipamentos mais significativos da cultura e da memória alagoana. “Mesmo temporariamente fechado, o museu segue buscando parcerias para a preservação da cultura e da identidade alagoanas: aliado a outras instituições – como a Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), o Centro Nacional de Folclore e Cultura Popular e o Núcleo Multidimensional de Gestão do Patrimônio e Documentação em Museus – o Museu Théo Brandão colabora na coordenação do projeto ‘Memórias Alagoanas: o acervo sonoro de Théo Brandão’”, completou a diretora.
Para dar visibilidade e audibilidade ao acervo sonoro de Théo Brandão, esse projeto trabalha o material composto por gravações originais de áudios da cultura popular realizadas entre os anos 1940 e 1970. Fazem parte desse projeto os registros sonoros de Théo Brandão: identificação e itinerários de uma coleção fonográfica, financiado pelo CNPq, por meio da Chamada CNPq/MCTI/FNDCT Nº 18/2021.
A diretora Hildênia Oliveira, salienta, ainda, que ao longo de 50 anos, o Museu Théo Brandão se consolidou como uma das mais importantes instituições culturais de Alagoas. É um espaço de formação, de pesquisa, de memória e de celebração das expressões populares, sendo referência para pesquisadores, estudantes, músicos, artistas, mestres da cultura popular e toda a comunidade. “Com seu rico acervo, que conta a história da arte e da cultura popular nordestina — e, em especial, alagoana —, o museu se reafirma como um guardião do patrimônio imaterial e simbólico da região, resistindo às adversidades e construindo pontes entre passado, presente e futuro”, revelou.
Resistência
O Museu Theo Brandão, em seus 50 anos, é símbolo de resistência da arte popular e do Folclore alagoano. Por meio de manifestações como o reisado, o guerreiro, o coco de roda, a rendeira e o artesanato em palha e barro, o povo alagoano preserva tradições que atravessam gerações. Para o reitor da Ufal, Josealdo Tonholo, o MTB não apenas guarda a história, mas mantém viva a tradição e contribui para que as futuras gerações conheçam e valorizem a rica herança cultural de Alagoas.
Tonholo também comenta que, em seus 50 anos de atividades, o Museu Theo Brandão exerce um papel essencial na preservação, valorização e divulgação da cultura popular alagoana. “Muito além de ser a casa permanente da Mamãe Alagoas, que permite aos seus Filhinhos prolatarem o começo da epifania do Carnaval, este espaço santo da arte e do folclore abriga um vasto acervo de peças folclóricas, fotografias, indumentárias e obras de arte popular, funcionando como um centro de pesquisa, educação e memória”, destacou.
E completa: “Cinquentenário e mais vivo que nunca, mas pedindo socorro, como tudo que se relaciona à cultura no Brasil. Teimoso como toda gente alagoana, o MTB clama por um restauro, aguardado há um bom tempo [que esperamos vir com recursos do Programa PAC]. Que venha o restauro, que venha a nova expografia, pois é o MTB que nós nos enxergamos e nos reconhecemos. Não é a toa que ele é a Casa da Gente Alagoana”.