Ah, os males de idade!
Eu fico atordoado ao ler, diariamente, por obrigação e disciplina profissionais, as manchetes de todos os sites de “notícias” do país – os mais tradicionais, ressalto.
Como já confessei aqui mesmo neste espaço, não tenho redes sociais. Tentando ser tolamente engraçado, explico sempre que não preciso viver num hospício para saber o que é a loucura. E cá para nós, não é necessário ter grande capacidade de compreensão do mundo e das gentes para chegar a essa conclusão.
Mas vamos ao meu problema cotidiano, que eu entendo, provocado pelas minhas dificuldades pessoais. Um mal do tempo, poder-se-ia dizer. A questão é que eu me perco em meio à multidão de rostos e sorrisos, num número cada vez maior, de famosos e famosas que fazem sucesso e atraem milhares e/ou milhões de fãs e seguidores.
Claro: terão, seguramente, seus méritos de encantamento e convencimento, fazendo rir ou chorar, ou simplesmente sendo cúmplices do assassinato do tempo - para aqueles que o querem vê-lo morto e enterrado (e tem muita gente, não é não?).
Particularmente, tenho dificuldade de distinguir famosos/ famosas pelo mesmo motivo: a semelhança de lábios, feições e traços do rosto, já que a mim, um cegueta geracional, parecem ter sido lapidados na mesma linha de produção. Obviamente para que o produto saia exatamente igual ao modelo original - se é que este já existiu. Dizem que tudo é feito à base de seringas e dolorosas agulhadas, salvo engano (de novo, perdoem a minha ignorância). O que não se faz em nome da beleza, não é não?
Que ninguém ache que esta é uma crítica a gostos e paixões, afinal, cada um (a) que escolha como quer se mostrar para o mundo. Seja lá qual for o sinal recebido, garantindo que é possível ser feliz quando nos igualamos em aparência aos que já parecem felizes e exultantes nas mídias. Tudo resultado da metamorfose facial? E por que não, incrédulos de plantão?
Estamos falando de pessoas que romperam a insuportável invisibilidade social, viraram celebridades do dia para a noite, recheando as contas bancárias bancadas pelos alvos da sua fulminante conquista. Até porque o mundo anda veloz, mesmo. Se me permitem, elas se tornaram os perseguidos "morangos do amor" feitos em carne, osso, lábios e maçãs do rosto.
O que elas fazem, pouco importa. Bem sabemos, o que não parece nenhum problema para a maioria de nós, que carregamos a forte tendência de admirar famosos simplesmente por serem famosos. Vejam casos de assassinos frios e psicopatas, até, que atraem paixões da cadeia simplesmente por terem se tornado celebridades (mas hoje não é dia de falar de coisas ruins, certo?).
Eis a mais rentável profissão do momento: para quem tem talento a expor, é garantia de fama e fortuna, mesmo que temporária, até porque um outro há de aparecer trazendo a novidade do momento. E a turma não para de inventar. Afinal, se tem público, tem show.
Recordo-me do quadro de um programa de humor na TV em que os pais, muito preocupados com o futuro do filho, perguntam o que ele gostaria de fazer quando crescesse (e nem leve em conta que era um “garotão” de mais de 30) para garantir seu sustento.
Ele?
- Eu sei imitar uma galinha-d'angola dançando! (fez o número).
Os pais explodem de alegria e vaticinam:
- Você vai ficar milionário!
A arte imitando a vida, ou o contrário?
Como quase todos da minha idade, ou próximos a ela, de quando em vez, pergunto quem sou eu na fila do pão. Até para que não me despeça dessa bola deformada amargando essa monumental ignorância.
Aí me vem a maldita frase replicada por Sócrates:
“Só sei que nada sei”.
De pelo menos uma coisa, pixototinha e sem qualquer importância para o Universo, eu já estou convencido: de que não sei imitar uma galinha, seja qual for a nacionalidade da emplumada.
Ricardo Mota