Imagens de câmeras corporais desmentem a versão de dois policiais militares acusados de executar com tiros de fuzil o alagoano Jeferson de Souza, de 40 anos, durante uma abordagem sob o Viaduto 25 de Março, no Centro de São Paulo. O crime aconteceu na noite de 13 de junho.
Natural de Alagoas e em situação de rua, Jeferson foi cercado por seis policiais e, mesmo desarmado e acuado, foi morto com três disparos de fuzil — na cabeça, tórax e braço. Nas imagens, ele aparece sentado, de pernas cruzadas, com as mãos para trás, chorando, antes de ser baleado. Nenhuma reação violenta ou tentativa de fuga foi registrada. Um dos PMs ainda cobre a lente da câmera no momento da execução.
Com base nas imagens, o Ministério Público de São Paulo denunciou os PMs Alan Wallace dos Santos Moreira, tenente da Força Tática, e Danilo Gehring, soldado, por homicídio doloso, falsidade ideológica e obstrução da Justiça. A Justiça aceitou a denúncia e determinou a prisão de ambos, que estão detidos no Presídio Militar Romão Gomes desde 22 de julho.
Após o crime, os policiais alegaram que Jeferson tentou pegar a arma de um dos agentes e que era foragido por ameaça e estupro. No entanto, até agora a Polícia Civil não apresentou qualquer confirmação de antecedentes criminais nem conseguiu identificá-lo pelas digitais.
A defesa do tenente Alan alegou legítima defesa. A do soldado Danilo não foi localizada. A Secretaria de Segurança Pública de São Paulo afirmou que repudia a conduta dos policiais e que um inquérito foi instaurado na Corregedoria da PM.
Na decisão que determinou a prisão, a juíza Luciana Scorza destacou que a vítima estava rendida e não oferecia risco algum. Segundo ela, os PMs atuaram com “sadismo” e demonstraram “absoluto desprezo pelo ser humano”. O tenente efetuou os disparos e o soldado Danilo, segundo a magistrada, aderiu ao crime ao obstruir a gravação da câmera corporal no momento dos tiros.
O próprio porta-voz da Polícia Militar de São Paulo, coronel Emerson Massera, classificou a conduta dos policiais como “inaceitável” e “vergonhosa”. Para ele, as imagens “violam todos os valores da instituição, inclusive da legalidade”
“O vídeo contraria completamente a versão apresentada pelos policiais. Ele [a vítima] estava tranquilo, conversando, e do nada o tenente efetua três disparos de fuzil. É uma ocorrência sem nenhum respaldo jurídico. Nos envergonha muito”, declarou Massera.
Entre janeiro e maio de 2025, o estado de São Paulo registrou 299 mortes decorrentes de ações policiais — quase duas por dia. No mesmo período de 2024, foram 311. Desde o início de 2023, 517 PMs foram presos e outros 351 demitidos ou expulsos da corporação.
*Com informações do G1