O mês de agosto é marcado pela campanha Agosto Dourado, que promove a conscientização sobre a importância do aleitamento materno. O nome faz alusão ao leite materno como “alimento de ouro”, fundamental não apenas para a nutrição e imunidade dos recém-nascidos, mas também para o desenvolvimento orofacial, ou seja, da face e do crânio da criança.

Para entender melhor essa relação, o CadaMinuto entrevistou a cirurgiã-dentista Amélia Tavares. Segundo ela, os benefícios da amamentação vão muito além da nutrição.

“O aleitamento materno tem papel essencial no desenvolvimento orofacial da criança. O ato de mamar no peito exige esforço ativo e coordenado de língua, lábios, bochechas, mandíbula e maxila. Esse movimento fortalece músculos e estimula o crescimento dos ossos da face e do palato (céu da boca), contribuindo para funções futuras como respiração nasal, mastigação, deglutição e fala.”, explica a dentista.

De acordo com Amélia Tavares, o aleitamento materno é determinante para o crescimento harmônico da face. 

“Ao mamar no seio materno, o bebê ativa um padrão motor complexo que envolve pressão negativa, elevação da língua contra o palato e mobilização de músculos como masseter, temporal e pterigóideo. Isso estimula o crescimento da mandíbula, da maxila e da articulação temporomandibular (ATM). Estudos mostram que bebês amamentados por mais tempo apresentam melhor conformação facial e menor incidência de alterações estruturais, como mordidas cruzadas ou mandíbulas retraídas.”

A especialista destaca uma série de vantagens que o aleitamento materno oferece para o desenvolvimento bucal e craniofacial:

  • Estímulo ao crescimento dos ossos da face (mandíbula e maxila)
  • Fortalecimento da musculatura orofacial
  • Favorecimento da respiração nasal
  • Melhora das funções de fala, deglutição e mastigação
  • Contribuição para o posicionamento adequado da língua e da arcada dentária
  • Prevenção de hábitos deletérios (como uso de chupeta, mamadeira e sucção digital)
  • Redução da prevalência de maloclusões, como mordida cruzada e aberta

“O aleitamento exclusivo por pelo menos 6 meses reduz significativamente o risco de alterações oclusais e no perfil facial.”, afirma Amélia.

A dentista também alerta para os impactos negativos da ausência de amamentação, especialmente quando associada ao uso prolongado de bicos artificiais:

  • Déficit no crescimento da mandíbula
  • Palato estreito e profundo
  • Mordida aberta, cruzada ou protrusões dentárias
  • Posição inadequada da língua no repouso e durante a deglutição
  • Aumento da respiração oral
  • Maior necessidade de tratamento ortodôntico precoce

“Crianças não amamentadas têm quase o dobro de chances de desenvolver hábitos não nutritivos e maloclusões, além de maior risco de alterações na estética facial e na qualidade de vida.”, disse. 

Quando a amamentação não é possível, a dentista sugere algumas medidas que ajudam a simular o estímulo natural. 

“Deve-se usar a mamadeira de forma consciente: preferir bicos ortodônticos com fluxo lento, posicionar o bebê em ângulo semi-sentado e estimular a coordenação entre respiração, sucção e deglutição. Também é recomendado evitar o uso de chupetas antes do primeiro mês e limitar seu uso até os 12 meses. Além disso, não se deve estimular a sucção digital (chupar o dedo)”, alertou. 

Para Amélia, a amamentação funciona como um dentista natural que contribui para o desenvolvimento da face do bebê. 

“O aleitamento materno é atua como um “ortodontista natural”, guiando o crescimento dos ossos da face e favorecendo funções orais equilibradas. Quando a amamentação não é possível, o acompanhamento com profissionais e o uso de estratégias adequadas fazem toda a diferença na prevenção de alterações.”, concluiu.






*Estagiário sob supervisão da editoria.