Fala, Bolacheira! Acontece no dia 2 de agosto, a partir das 18h30, no Espaço Carambola (Jaraguá). O título ressignifica a expressão Bolacheira e o uso negativo que a palavra carregou por décadas. Transformar seu sentido é uma forma de enfrentar a violência de gênero . Desde o início, o evento se propõe como um ato político: deslocar sentidos, desmontar estigmas, tensionar a normatividade que insiste em apagar nossos corpos e nossas experiências. O que antes nos atingia como xingamento, agora é retomado em outras bases. Bolacheira é pertencimento, resistência e reinvenção.
Idealizadora do projeto, a jornalista Cíntia Ribeiro conta que a ideia do evento nasceu da necessidade de chamar atenção para a violência contra mulheres lésbicas em Alagoas e transformar ofensa em afirmação. “Numa conversa com Carmen Lúcia Dantas e a fotógrafa Fernanda Piccolo, criadora do projeto Documentadas, falávamos sobre a origem do termo “bolacheira” como sinônimo de mulher que ama mulher — e da necessidade de ressignificá-lo. Era hora de virar o jogo na linguagem”.
Programamos um evento singular, dedicado às mulheres lésbicas, promovendo não apenas a visibilidade, mas a preservação a memória dessa comunidade, frequentemente estigmatizada e violentada. Mais que um encontro, Fala, Bolacheira! é um território de afirmação. A repercussão do evento superou as expectativas da organização. Os ingressos gratuitos, disponibilizados pelo Sympla, esgotaram em apenas cinco dias. O alto número de inscrições reflete a urgência e o desejo coletivo por espaços de escuta e de visibilidade.
PROGRAMAÇÃO PULSA DIVERSIDADE E TERÁ INTERPRETES DE LIBRAS
Exposição Fotográfica: Fotografias de Fernanda Piccolo, ilustram o cotidiano de mulheres lésbicas documentadas em Alagoas.
Rodas de conversa : mulheres poderão compartilhar suas histórias, desafios e conquistas, contribuindo para um diálogo enriquecedor. O território de debate chama atenção para a diversidade e a complexidade das identidades lésbicas.
DJ e Pocket Shows: Performances da DJ Carlota e das cantoras Fernanda Guimarães e Mary Alves (compositora negra), ambas com histórico de ativismo em relação à causa LGBTQIAPN+ .
Intervenções Urbanas: Um mutirão de colagem de lambe-lambes a partir da experiência do projeto Documentadas pelas ruas de Jaraguá, com frases de afirmativas e imagens de casais lésbicos, como um meio de visibilizar essas relações em espaços públicos, desafiando preconceitos.
Fala, Bolacheira! Fala, Bolacheira! é uma realização da Política Nacional Aldir Blanc (PNAB), operacionalizada pela Secretaria de Estado da Cultura e Economia Criativa (Secult-AL) e Ministério da Cultura do Governo Federal. Produção: Pirambeba Lab, Perereca de Brejo e @documentadas .Apoios : @carambola.lab @piracemastudio @festadassaficas @aeufemea @dago_producoes @americancrimefitness e Instituto Casa Delas.
CONFIRA OS TEMAS DAS RODAS DE CONVERSA
BOLACHEIRA –REIVENÇÃO COTIDIANA DOS SENTIDOS QUE SILENCIAM
A expressão bolacheira atravessa gerações como marca da lesbofobia. Ressignificamos o xingamento em seu efeito de resistência. Propomos escuta e fala coletivas sobre os sentidos que desinformam e tentam nos apagar da história de nosso tempo. A reflexão é sobre territórios que, pela linguagem e fora dela, atravessam corpos compulsoriamente vulnerabilizados pelo padrão cisheteronormativo. Reivindicamos bolacheira como a sintetize da reinvenção cotidiana das (re) existências lésbicas em Alagoas.
* Cíntia Ribeiro – mulher preta, jornalista, doutora e mestra em linguística pela UFAL. Realiza pesquisas que interseccionam raça, gênero, classe e desinformação. Ativista e organizadora do Fala, Bolacheira!.
II - MILITÂNCIA LÉSBICA. DOCUMENTAÇÃO E PRODUÇÃO DE SABERES
A militância na e pela ciência: encruzilhada de sentidos analisa como os marcadores sociais de gênero e raça tensionam e transformam o campo científico. A militância pela ciência assume contornos específicos quando grupos historicamente marginalizados lutam pelo direito à produção e ao acesso ao conhecimento científico. Já a militância na ciência se expressa quando esses grupos minoritários introduzem novas epistemologias, temas e métodos que desafiam a suposta neutralidade do saber acadêmico.
*Débora Masmann – professora da UFAL, doutora pela USP e pós-doutora pela UNICAMP. Pesquisa discursos com foco em gênero, raça, diversidade e patrimônio. Lésbica e intelectual engajada, promove a articulação entre ciência e militância por justiça social.
Documentadas : toda bolacheira é um arquivo vivo. Histórias dos corpos lésbicos e os afetos que atravessam o tempo. A importância de narrar e documentar.
* Fernanda Pícollo - catarinense e se dedica à fotografia há 14 anos. É pós-graduada em Diversidade, Acessibilidade e Inclusão e fundou o Documentadas em 2021, buscando a representatividade das mulheres no movimento LGBT+ brasileiro.
III- AUTOCUIDADO E SAÚDE MENTAL –EM PERSPECTIVAS AMPLIADAS
O autocuidado vai além da dimensão física: envolve também o bem-estar mental, emocional e espiritual, fortalecendo práticas como autoestima, autoamor e autopreservação. Mas esses processos não são individuais ou neutros — estão diretamente atravessados por dimensões sociais, políticas e econômicas que moldam (ou ferem) a experiência de ser, especialmente quando o corpo dissidente afirma sua identidade por meio da sexualidade e da performance. Autocuidar-se é também um ato político
* Regina Lopes - Socióloga, professora e pesquisadora extensionista. Atuou como consultora no Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento – PNUD: Plataforma JurisRacial (AGU/MIR); Caderno Temático de Relações Raciais nos serviços penais (CNJ); Caderno Temático LGBTQIA+ (MJSP) . Defendeu tese “Lesbianidade no front: gênero, raça, performances e silenciamentos na PMBA.
A saúde mental de mulheres lésbicas é atravessada por violências invisíveis. Discriminação, solidão e preconceitos internalizados aumentam o risco de sofrimento psíquico. Ignorar essas camadas é perpetuar o adoecimento. É urgente olhar com sensibilidade e responsabilidade para essas existências.
* Cíntia Maria - Mestra em Ensino na Saúde na Faculdade de Medicina FAMED/UFAL. Pós graduada em Psicologia Hospitalar e da Saúde. Pós graduada em Psicanálise, Psicopatologia e Saúde Mental. Psicóloga no Hospital Geral do Estado Osvaldo Brandão Vilela e na Escola Municipal Kátia Pimentel Assunção. Militante. Apaixonada por esportes.
IV- EXISTÊNCIAS DISSIDENTES - INCLUSÃO E INDEPENDÊNCIA ECONÔMICA
Reflexão sobre como a heteronormatividade opera como uma norma invisível que marginaliza existências dissidentes. Os desafios enfrentados por quem não se encaixa nesse modelo, e sobre como resistimos: a partir do corpo, do afeto, da arte, da política e da coletividade.
* Ticiane Simões - Atriz, Dramaturga e Artivista feminista, é fundadora e diretora do Ateliê Ambrosina. Mestranda do PPGCEN da UNB onde pesquisa atuação e preparação de elenco em filmes de baixo orçamento.
* Nefertiti Souza - Travesti, negra, artista, pesquisadora e uma voz de referência na cena ballroom de Alagoas. Pesquisadora comprometida em registrar e problematizar as narrativas de travestis na sociedade alagoana.
* Gracielle Oliveira - Mulher Lésbica . Pessoa Surda sinalizante. Técnica em segurança trabalho . Presidente da Associação dos Surdos de Alagoas (ASAL)
VI- LINHA DO TEMPO DAS LÉSBICAS EM ALAGOAS: MEMÓRIA, PRESENTE E FUTURO
Da velha bolacheira ao movimento sáfico atual. A trajetória das lésbicas que abriram caminho e a resistência geracional . Painel sobre o que as bolacheiras falam, do que se alimentam, onde vivem e o que amam. Existências e resistências.
*Carmen Lúcia Dantas (79) - é uma das bolacheiras mais potentes de Alagoas. Museóloga pela UFRJ é mestre em Literatura Brasileira pela UFAL, onde foi professora. Em 2025 foi umas mulheres lésbicas brasileiras na Exposição O Mais Profundo é a Pele, sobre o envelhecimento dos corpos LGBTs+, em cartaz no Museu da diversidade (SP). Com vasta pesquisa nas áreas de levantamento e catalogação patrimonial, em 2023 foi condecorada com a Medalha do Mérito Museológico, pelo Conselho Federal de Museologia. Autora de vários livros sobre cultura alagoana.
*Luiza Leal - Artista audiovisual, produtora cultural, tradutora e fundadora da Piracema Studio. Idealizadora e diretora Criativa da Mostra Mulheres+ no Cinema, que coloca em protagonismo filmes produzidos por mulheres cis e trans, pessoas não binárias e homens trans, combatendo a desigualdade de gênero e ampliando a atuação técnica de mulheres+ no audiovisual alagoano.
* Clariar (21) é lésbica, multiartista e produtora da Festa das Sáficas. Graduanda em Música — Licenciatura com ênfase em canto lírico pela Universidade Federal de Alagoas (UFAL), integra o projeto de musicalização infantil LAPPEM (Laboratório de Pesquisas e Práticas da Educação Musical Infantil) e o coro da universidade, Corufal. Atua também como DJ, compondo o cenário cultural e noturno de Maceió a partir de uma perspectiva feminina e sáfica.
