Uma análise técnica independente, elaborada com base em dados da Defesa Civil de Maceió, revela que cerca de 80% do bairro Bom Parto apresenta níveis críticos de afundamento do solo. O levantamento indica que várias áreas já deveriam ter sido incluídas no grau máximo de criticidade desde dezembro de 2024, o que exigiria a imediata realocação de moradores.
Segundo o defensor público Ricardo Melro, que compartilhou os dados em suas redes sociais, regiões da porção sudoeste do Bom Parto apresentam subsidência intensa e contínua, com velocidades que superam os –5 milímetros por ano. Em alguns pontos, a movimentação vertical do solo chega a –50 milímetros anuais, o que, conforme os critérios do Comitê de Acompanhamento Técnico (CAT), enquadra as áreas como criticidade 00 (grau que exige evacuação).
Com base nos dados, a Defensoria Pública protocolou duas ações civis públicas. Uma pede a inclusão do Bom Parto no plano de realocação com a elaboração de um novo Mapa de Criticidade (versão 6). A outra solicita o retorno do Serviço Geológico do Brasil (SGB/CPRM) a Maceió para retomar os estudos presenciais e atualizar os diagnósticos da subsidência.

O estudo aponta ainda que parte do bairro sequer aparece na versão mais recente do Mapa de Criticidade (versão 5), embora já reúna características para ser incluída na classificação mais grave. Apenas 20% do território monitorado segue fora das faixas 00 e 01.
Apesar da análise considerar apenas os dados de dezembro de 2024, Melro ressalta que, se considerados os deslocamentos acumulados desde o início do monitoramento, em 2019, a situação seria ainda mais grave. Há áreas no Bom Parto que já acumulam quase 30 centímetros de afundamento.
“Ignorar isso não é mais erro técnico, é escolha institucional”, afirmou Melro. “Escolhas assim, em pleno desastre urbano, trazem consequências”.