Uma tecnologia inovadora de base biotecnológica e com potencial de aplicação em setores industriais foi desenvolvida graças ao apoio do Governo de Alagoas, por meio da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado (Fapeal).
O estudo, intitulado “Uso de simbiose microalga-fungo para o tratamento de efluentes (agro)industriais alagoanos”, está ligado ao Programa de Pós-Graduação em Engenharia Química da Universidade Federal de Alagoas (PPGEQ Ufal).
Sob a coordenação do professor Carlos Eduardo de Farias, e com a execução da bolsista Brígida Villar, o projeto uniu o conhecimento do coordenador na área de bioprocessos com a expertise da bolsista sobre fungos e novos desafios com microalgas. Dessa forma, o estudo passou a investigar o uso da integração destes elementos no tratamento dos efluentes de setores estratégicos da economia alagoana, como o de laticínios e o petrolífero.
Segundo os estudiosos, a escolha pela combinação partiu da integração entre os dois grupos de microrganismos: “Os fungos são eficientes na remoção de carga orgânica, enquanto as microalgas atuam fortemente na eliminação de nutrientes como nitrogênio e fósforo. Juntas, essas duas espécies formam um sistema mais sólido e eficaz para tratar efluentes que causariam impactos severos ao meio ambiente”, explicou a dupla, se referindo ao acúmulo excessivo dessas substâncias nas águas.
A simbiose também se mostrou precursora para o cenário local. De acordo com os pesquisadores, esse tipo de pesquisa ainda é pouco explorado no estado, apesar do alto potencial de aplicação industrial. Portanto, no projeto, foi encontrada a oportunidade ideal para gerar conhecimento, formar recursos humanos e desenvolver uma tecnologia promissora para o tratamento de resíduos de alta carga poluidora.
%20(3).jpg)
Resultados científicos e aplicabilidade prática
Durante os dois anos de duração, o estudo atingiu resultados expressivos, tanto em produtividade acadêmica, quanto na aplicação tecnológica. No campo da produção científica foram gerados 15 trabalhos internacionais — sendo sete artigos já publicados, outros sete em fase de submissão, mais um capítulo de livro. Além disso, a pesquisa contribuiu diretamente para a formação de novos acadêmicos no âmbito da Ufal, com a conclusão de duas teses de doutorado, sete dissertações de mestrado, três Trabalhos de Conclusão de Curso (TCC) e seis projetos de iniciação científica.
Do ponto de vista técnico, os experimentos realizados comprovaram a eficiência do sistema simbiótico microalga-fungo na redução de contaminantes a níveis compatíveis com os parâmetros estabelecidos pela legislação ambiental brasileira e também por normativas europeias – que são ainda mais rigorosas. Segundo a bolsista Brígida Villar, foram utilizados efluentes reais, como o soro de leite (subproduto da produção de queijo) e a água produzida pela indústria do petróleo, ambos coletados em unidades alagoanas.
A partir desses testes, os resultados indicaram que a biotecnologia desenvolvida é vantajosa para o uso em escala industrial, com potencial de promover sustentabilidade baseada em evidências científicas.
A jovem doutora destaca, no entanto, que a maturação tecnológica é um processo que exige tempo, refinamento e investimento contínuo. “O que alcançamos até aqui é um passo essencial, mas há um caminho a ser percorrido até a aplicação em larga escala”, ressaltou ela.
.jpg)
Expansão internacional e formação permanente
Um desdobramento importante e robusto do projeto foi o fortalecimento das redes de colaboração científica com instituições do Brasil – Universidade Federal de Sergipe (UFS), Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), Instituto Mauá de Tecnologia – e do exterior – Universidade de Lisboa, Universidade de Buenos Aires, Tambov Technical State University (Rússia) e Chongqing Three Gorges University (China).
O grupo de pesquisa, vinculado ao Laboratório de Bioprocessos da Ufal (LaBio), está atualmente desenvolvendo três reatores piloto com o propósito de aumentar o tratamento de efluentes e a produção de biomassa (pellets) a partir da simbiose microalga-fungo. Esses estudos avançam com apoio do CNPq, mas também graças à colaboração internacional, sendo um reflexo direto dos resultados alcançados com o suporte conjunto Fapeal/CNPq com o edital para fixação de jovens doutores.
Outro marco igualmente importante foi a recente aprovação pelo Programa de Pesquisas em Taxonomia Biológica (PROTAX/CNPq-Fapeal) em 2025, do projeto que cria a Coleção de Culturas Fúngicas e Microalgais Carlos Eduardo de Farias Silva (CCFSM) — o primeiro biobanco do estado voltado à preservação e estudo dessas espécies.
Com sede no Centro de Tecnologia (CTEC) da Ufal, o acervo funcionará como base para pesquisas futuras e desenvolvimento de novas tecnologias, especialmente com espécies nativas, que demonstraram desempenho superior em testes comparativos.
Fapeal como agente transformador da ciência aplicada
Para o coordenador do projeto, o apoio da Fapeal foi essencial desde o início de sua trajetória. Ele mencionou os desafios enfrentados ao chegar à Ufal em 2018, e como os cortes financeiros federais dificultaram a estruturação de uma linha de pesquisa consistente:
“A Fapeal foi a instituição que viabilizou o pontapé inicial e permitiu que o conhecimento adquirido no exterior pudesse ser revertido em impacto científico e social para o estado”, afirmou ele. Sem esse suporte, Carlos Eduardo de Farias explica que teria sido inviável equipar propriamente o laboratório e garantir a continuidade das atividades do grupo de pesquisa. Já na percepção da bolsista, o edital foi determinante para o fortalecimento de toda a equipe envolvida:
“Tem-se a plena certeza e convicção de todos que participaram do projeto que a Fapeal é uma importante aliada para o desenvolvimento da Ciência e Tecnologia em Alagoas, com a formação de recursos humanos valiosos para atuarem nas indústrias do estado, além de fornecer subsídios para o desenvolvimento de tecnologias promissoras”, frisou ela.