O Dia do Trabalho, celebrado em 1º de maio, vai além das conquistas trabalhistas históricas: ele também abre espaço para refletir sobre as condições atuais dos ambientes profissionais, especialmente no que diz respeito à saúde mental dos trabalhadores. Em um cenário onde produtividade é constantemente cobrada, a saúde emocional de quem trabalha continua sendo negligenciada por muitas empresas e instituições.

 

Para a psicóloga e mentora de líderes Thirza Reis, o bem-estar no ambiente de trabalho é diretamente afetado por fatores como excesso de tarefas, pressão por resultados, relações interpessoais difíceis e ausência de reconhecimento. “O trabalhador não adoece só por causa do volume de trabalho. Ele adoece quando sente que não é visto, quando não tem voz, quando suas necessidades emocionais são ignoradas”, explica Thirza.

 

Ela também lembra que o estresse, embora natural, precisa ser monitorado. “Nem todo estresse é ruim. O estresse positivo nos impulsiona, nos ajuda a dar o melhor de nós. O problema começa quando ele se torna tóxico — contínuo, sem pausas e sem apoio. Isso pode gerar sintomas físicos, emocionais, cognitivos e comportamentais que comprometem não só a produtividade, mas também a saúde de forma geral”, afirma.

 

Os impactos do estresse prolongado incluem desde dores físicas e insônia até ansiedade, depressão e o temido burnout. Quando a pressão ultrapassa o limite, muitos trabalhadores acabam se afastando, seja por problemas de saúde ou por esgotamento emocional. “O excesso de cobrança, a cultura da urgência e a falta de pausas têm um preço alto, que afeta tanto a vida do colaborador quanto os resultados da empresa”, alerta a psicóloga.

 

Thirza reforça que é possível promover um ambiente de trabalho saudável sem comprometer a entrega de resultados. “Saúde mental e produtividade não são opostas. Na verdade, trabalhadores felizes e equilibrados são mais criativos, engajados e eficazes. O segredo está na construção de um ambiente seguro, onde se possa conversar, descansar e colaborar com autonomia”, explica.

 

Entre as estratégias que ela sugere estão a valorização do trabalhador, a clareza nas tarefas, a oferta de apoio psicológico e o estímulo a uma liderança mais humana. “O líder precisa saber ouvir, dar feedbacks, reconhecer os esforços da equipe e servir como modelo de comportamento saudável. Quando há abertura para falar sobre dificuldades sem medo de julgamento, o ambiente se transforma”, comenta.

 

Segundo Thirza, os primeiros sinais de que algo não vai bem são geralmente sutis, como irritabilidade, cansaço constante, dificuldade de concentração ou queda no rendimento. Por isso, é fundamental que tanto colegas quanto gestores estejam atentos e saibam acolher. “A escuta atenta, sem julgamentos, é uma das formas mais eficazes de apoio. E buscar ajuda não é sinal de fraqueza, mas de coragem”, pontua.

 

Além disso, é fundamental que as empresas invistam em políticas e programas de bem-estar emocional, como rodas de conversa, campanhas internas, atendimentos psicológicos e canais seguros para diálogo. “A saúde mental precisa deixar de ser tabu. Falar sobre isso tem que ser parte da cultura das organizações, porque só assim conseguimos criar espaços realmente saudáveis e sustentáveis”, conclui a especialista.