O portal CadaMinuto, em parceria com o Instituto Ibrape, realizou uma pesquisa entre os dias 5 e 10 de dezembro de 2024, entrevistando 3.000 eleitores alagoanos com 16 anos ou mais. O levantamento teve como objetivo avaliar a percepção da população sobre a possibilidade de o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) ter articulado uma tentativa de golpe após a vitória do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT).
Os resultados mostram um estado dividido: 42% dos entrevistados acreditam que houve uma tentativa de golpe, enquanto 44% discordam. Outros 14% não souberam ou preferiram não opinar.
As opiniões variaram de forma expressiva entre as regiões de Alagoas. No Sertão, a crença na tentativa de golpe é majoritária, com 63% dos entrevistados concordando com a hipótese e 29% discordando. Por outro lado, no Norte do estado, prevaleceu a rejeição: 52% não acreditam no golpe, enquanto 35% concordam que houve uma tentativa.
Na Grande Maceió, o ceticismo também foi predominante. Entre os moradores da região, 51% descartam a hipótese de um golpe, enquanto 33% acreditam que ele ocorreu. Na capital, especificamente, 49% negam a possibilidade, contra 38% que acreditam nela.
Perfil eleitoral e polarização
Para a cientista política Luciana Santana, a pesquisa revela um contraste interessante, especialmente entre as regiões do Agreste, Sertão e a Grande Maceió. Ela aponta que esse fenômeno reflete o perfil do eleitorado nas últimas eleições.
“A capital e a Grande Maceió têm apresentado um voto mais à direita. E, historicamente, a direita sempre teve um bom desempenho em algumas regiões. Por exemplo, Lula nunca ganhou em Maceió. Essa percepção sobre a tentativa de golpe reflete um eleitorado que ainda tem uma forte identificação com o que escolheu nas urnas”, comenta.
Em contrapartida, Luciana observa que em outras partes do estado, como o Agreste e o Sertão, há um apoio maior a figuras menos conservadoras, que estão mais focadas na construção de políticas públicas.
“O interior do Estado têm se beneficiado de políticas públicas desde os anos 2000, com o legado do presidente petista. E as pessoas continuam acompanhando as discussões sobre a tentativa de golpe, refletindo essa divisão do eleitorado em dois polos.”

Além disso, Santana explica que, especialmente em relação à presidência, a polarização persiste e que não é uma exclusividade de Alagoas, mas sim uma tendência no Brasil na totalidade. O eleitorado tem uma ideia fixa sobre quem deve presidir o país, o que faz com que a discussão se torne superficial.
A cientista política exemplifica: “Por exemplo, ao discutir a interferência do Banco Central na economia, vemos uma adesão muito forte entre eleitores de Bolsonaro, em contraste com os de Lula. Esse padrão também se reflete em temas como o golpe e a democracia. O que ocorreu no Brasil não se resume ao dia 8 de janeiro, mas a uma série de atentados contra a democracia, e isso está diretamente relacionado ao perfil do eleitorado.”
Diferenças por gênero, idade, escolaridade e religião
A pesquisa também revelou variações de opinião entre diferentes grupos demográficos. Os homens (45%) foram mais propensos a acreditar na tentativa de golpe do que as mulheres (40%).
A faixa etária entre 60 anos ou mais foi a que mais acreditou na hipótese, com 50%. Por outro lado, entre os eleitores com 16 e 24 anos, a rejeição à tese foi maior, com 50% discordando da ideia de golpe.
O nível de escolaridade também teve impacto significativo. Entre os eleitores com ensino médio, 38% acreditam na tentativa de golpe, enquanto entre os analfabetos, esse índice é de 39%.
A religião se mostrou um fator crucial: evangélicos foram os menos propensos a acreditar na tentativa de golpe (33%), seguidos por católicos (48%). Já entre os eleitores sem religião, 35% acreditam que houve golpe.
A especialista explica que a polarização política está fortemente ligada a estes fatores. Ela destaca, porém, que a religião exerce um peso significativo na divisão do eleitorado.
“Essas variáveis estão diretamente relacionadas ao perfil do eleitorado e influenciam a adesão ou não à tese de que houve ou não golpe no Brasil. É importante frisar que não se trata apenas de um ataque ao Lula ou ao PT, mas sim um ataque à democracia”, finaliza.
*Estagiária sob supervisão da editoria