Nada melhor para abrir esta crônica domingueira do que uma ótima citação do cientista, escritor, jornalista, político e empresário britânico Mattheu White Ridley, que atende pelo nome de guerra de Matt Ridley. Lembrando que o tema central é a ignorância e o bem que ela nos faz (?):

- A maioria dos cientistas fica entediada com o que já descobriu. É a ignorância que os impele.

Quando esta é descoberta, vira uma permanente abertura para o que virá. Eis, assim me parece, a dinâmica da ciência, entendendo que as certezas absolutas e as verdades imutáveis só existem no campo da religião e dos credos - e eles são muitos pelo mundo afora.

Não por acaso, o sentido de Teoria no campo científico está sempre muito distante do uso vulgar da palavra. Para que algum conhecimento se torne Teoria, precisa percorrer um longo caminho, amealhar provas consistentes, mas se mantendo sempre aberta a novas informações - se consistentes. Tem de obedecer à “hierarquia” do saber humano, que começa quase sempre com a simples observação (que o digam Newton, Darwin, Einstein e tantos maravilhosos indivíduos que nos ajudaram a entender, ainda que só um pouco, o que somos e de onde viemos).

O progresso da Ciência, portanto, tanto está na consolidação do conhecimento quanto no seu questionamento. Isso é muito bom. Fato é que o avanço ocorre indo para um lado ou para o outro, admitindo que o que é sabido hoje pode ser contestado ou remodelado mais adiante. Mas mirando  sempre para onde podemos chegar, e não chegamos, deixando a fé para quem dela faz uso, ainda que com outra finalidade. 

O escritor Isaac Asimov, um norte-americano que nasceu na Rússia (acontece), escreveu vários livros de ficção científica e de divulgação da Ciência, e é dele uma tirada bem curiosa sobre essa “evolução” do conhecimento humano. 

Vamos a ela:

“Quando as pessoas achavam que a Terra era plana, elas estavam erradas. Quando as pessoas achavam que a Terra era esférica, elas estavam erradas. Mas se você acha que achar que a Terra é esférica é tão errado quanto achar que a Terra é plana, então seu ponto de vista será mais errado do que os outros dois juntos.”

Mas voltemos mais objetivamente a ela, a nossa musa de hoje – a ignorância. Na obra que trouxe Yuval Noah Harari ao mundo, Uma breve história da humanidade – Sapiens, o historiador israelense que produziu um best-seller improvável – pelo tema -, dedicou um capítulo à descoberta da ignorância, aqui apresentada como mãe/pai do conhecimento. Ele diz muito sobre o que nos trouxe até aqui em poucas palavras:

- A Revolução Científica não foi uma revolução do conhecimento. Foi, acima de tudo, uma revolução da ignorância. A grande descoberta que deu início à Revolução Científica foi a descoberta de que os humanos não têm as respostas para as suas perguntas mais importantes.

É de se indagar: quantas respostas obtivemos até hoje com 100% de certeza? Imagino que poucas ou nenhuma, levando ao pé da letra. Muito mais, porém, do que tínhamos em qualquer outro tempo da nossa história. Os nossos sentidos não são suficientes para que aprendamos tudo o  que está em nosso entorno, mas aquela massa que mora dentro do nosso crânio levou-nos a ampliá-los, dando-nos régua e compasso para traçar, com alguma precisão, as linhas do que está além do horizonte. Esse pode ser um pequeno resumo da jornada humana em nossa trajetória de milhares de anos (é pouco tempo, viu?).

Desconfio que todos os que mantêm seus corações e mentes embebidos pela Ciência e pela curiosidade - sem a qual a primeira não vive - seguem cheios de convicção na frase clássica atribuída majoritariamente a Sócrates, o filósofo grego: “Só sei que nada sei”.

É um bom começo. Ainda que esses personagens que tanto admiramos terminem, muitas vezes, abatidos pela própria vaidade.