Ufa!

Finalmente os bichos a que condenamos a existir apenas nos zoológicos, num futuro não muito distante, aprenderam a temer a maior de todas as feras. E tudo comprovado com a prática da boa ciência, que essa mesma espécie tida e havida como um superpredador, fazendo jus ao título, vai desenvolvendo e alertando: - Tome juízo!

E já não era sem tempo, não é, gente?

Uma pesquisa realizada pela Universidade Western, do Canadá, em território da África do Sul, onde ainda habitam belas e nobres espécies da fauna que vai sumindo do planeta, foi precisa e reveladora: o tal do Homo Sapiens é o maior inimigo da vida na Terra.

Tudo bem que você já sabia, mas pode saber um pouco mais – se é que já não sabe.

A pesquisa com 19 espécies que ainda fascinam as crianças em todo o mundo, que as conhecem por imagens e fotografias, foi bem objetiva e perspicaz: rinocerontes, girafas, búfalos, hipopótamos, zebras, leopardos e outras maravilhas que a Natureza criou foram expostos continuamente a sons diversos numa área em que os bichos sempre vão beber água – e em tempos de seca. 

Os sons que mais assustaram os “animais irracionais” não nos incomodariam e nos são muito familiares: vozes humanas conversando e provocando pavor/fuga desses bichos enormes, que demoraram tanto a entender que aonde nós chegamos levamos a morte – ampla, geral e irrestrita.

Leões rugindo, cães latindo, tiros em série – nada disso espantou tanto os maravilhosos animais quanto os papos dos nossos iguais. Eles, os bichos, ao se depararem com os sons que emitimos – repito: em simples conversas -, debandavam numa velocidade pelo menos 40% maior do que ao ouvirem os tiros e o rugir de outras feras (?).

É tarde demais para ter medo?

As notícias não parecem alvissareiras. 

O tal do Homem, a fera de todas as feras, que já escreveu uma história de destruição e extinção de tantas espécies, não acha – na média – que é hora de parar. Nem mesmo se conhecem a tragédia ocorrida com a megafauna, animais gigantes encontrados nos continentes mais tardiamente habitados pelos humanos, e que não sobreviveu ao nosso convívio.

Dá para imaginar uma preguiça de seis metros de altura habitando em terras brasileiras? Pois é: ela existiu, só que uma combinação de clima inóspito e presença dos nossos antepassados deixou apenas alguns fósseis a nos avisar: - Olha, eu estive por aqui!

A Austrália, pelo que se sabe, possuía a mais espetacular e estranha megafauna, o que inclui os cangurus-gigantes, de três metros de altura, que deixou uma descendência bem menor - essa que conseguiu sobreviver. Na Nova Zelândia, aves enormes, como os moas-gigantes, chegavam a até quatro metros de altura, mas elas não foram páreo para a espécie que se expandiu e varreu o planeta.

Aliás, e eis que voltamos à pesquisa da universidade canadense, esses bichos de grande porte, concluem paleontólogos do mundo inteiro, cometeram um pecado inapagável: não tiveram medo do Homem, um bichinho ridículo, que procria mais do que rato e que os matava para comer, inicialmente, chegando ao espetáculo final da morte pela morte. 

Ora direis: mas o homem também mata homem!

É verdade. E acena continuamente para uma destruição em massa inclusive dos espécimes da nossa espécie que se diferenciam por cor, língua, credo e ocupação territorial. Creio que a afirmação não carece de explicação.

Mas sempre há novidades. Por exemplo: o governo dos EUA anuncia o projeto de uma nova bomba nuclear, ao custo de U$ 400 bilhões até 2046. Capacidade de destruição 24 vezes maior do que da bomba de Hiroshima, que, idiotamente, considero um crime contra a Humanidade, mas que nunca foi a julgamento. Um desses artefatos pode nos levar ao mesmo destino das tais preguiças que eu adoraria ter conhecido.

Antes que vocês me alertem, eu já confesso: sim, eu sou mais um dessa turma que espalha terror, medo e devastação. Ainda que, sabendo disso, tome lá meus próprios cuidados, enclausurando a fera que nos é comum - se a identifico chegando. 

E se me permitem, por desfecho, deixo uma sugestão, tão simples quanto óbvia: se os outros bichos aprenderam a nos temer, que tal nos olharmos no espelho – como Riobaldo, enfrentando seus medos - e dizermos em alto e bom som para nós mesmos, repetindo, repetindo, repetindo, até acreditarmos:

- No pasarán!