Quanto mais informação, menos atenção.

Essa é uma das máximas já consagradas pelos estudiosos dos meios de comunicação, com destaque especial, é claro, para as redes sociais e seus assemelhados. 

Entendo que este não é um mal em si, algo que nasceu para ser ruim para a humanidade - como a bomba atômica, por exemplo.  Mas já estou convencido de que, pelo menos por enquanto, a tecnologia que brotou sob o signo do conhecimento, paulatinamente, se transforma em um instrumento a quem ignorância coletiva já deve muito.

É claro que o problema, eis o óbvio, se deve à nossa própria espécie, que adora a tecnologia e abomina a ciência ou qualquer coisa que nos consuma algum tempo e neurônio para entender (ainda que o aprendizado seja algo que nos remeta ao território do prazer). Deixo claro que, para mim, o conhecimento - seja sobre o que for - só vale a pena se operar como uma força transformadora, de compreensão do mundo e do que a gente é, cada um de nós, nesse planeta.

A opção majoritária tem sido, no entanto, repetir aquilo que chega pela rede mundial de computadores, sem qualquer questionamento ou processamento. Até porque duvidar dá trabalho e exige sempre a atenção que quase nunca estamos dispostos a oferecer. 

O charuteiro que tratou de desvendar a alma humana, o tal do Sigmund, já apontava a vocação dos "bípedes implumes" para a preguiça - algo que vai além, que fique claro, da disposição para a briga pela sobrevivência num mundo que será sempre mais hostil à maioria das pessoas. 

Mas deixemos a discussão sobre o preconceito e o comportamento de classes para outro dia - e sempre haverá um outro dia para que se fale sobre eles, e por falantes e escreventes mais competentes e qualificados do que este aqui.

Fato concreto é que os redistas apaixonados e encegueirados, entregues sem resistência ao comando externo, se acham donos de um saber que poucos humanos detêm, e que simplesmente lhes chega pelas pontas dos dedos, dando-lhes a sensação de terem vivido epifanias sem fim, em série, inquestionáveis.

Eis que essa gente ganhou certezas demais, sem que tenha feito qualquer esforço para chegar ao estágio, raro, de conhecimento sobre tudo e para além daquilo que é acessível aos seres comuns - esses seres ignorantes que somos e sempre seremos.

Os leitores e leitoras deste espaço talvez até imaginem os xingamentos de que sou alvo diariamente, de internautas iracundos, que expressam - em poucas linhas, mas com muita fúria – um sentimento de profundo desprazer com a vida que levam e também, claro, com este velho jornalista, calejado, mas ainda disposto a escrevinhar algumas linhas que provoquem uma mínima reflexão.

Descarto os comentários que me chegam com alto teor de veneno, preservando a minha saúde emocional e a dos que ainda se dão ao trabalho de acessar este espaço com alguma frequência. 

A saber: toda semana, a depender do tema abordado, me vendem para algum grupo político, e como esses são os mais distintos e antagônicos entre si, imagino que sigo um rumo bem razoável para quem está numa lida que ainda me parece importante, mesmo que perca espaço e atenção em todo o planeta (creio que sem grande vantagem para os símios pelados, de forma geral).

Mas, eis meu mantra, sempre me mantendo fora das redes sociais. Talvez por imaginar que seja possível viver com serenidade longe dos territórios onde a paz não é uma opção factível - algo que Freud chamou de “felicidade da quietude”. 

Não busco mais solidão do que já tenho e que conservo por considerá-la suficientemente boa para os meus propósitos, até porque mantenho uma agradabilíssima interação com aqueles e aquelas que me trazem algum conforto de alma, um colo para as ideias e sentimentos que me mantêm visceralmente preso à vida. 

Tento tirar proveito do conselho de Voltaire, sujeito beligerante, é verdade, mas ousado nas suas proposições. Para ele, “devemos cultivar o nosso jardim”. Um belo caminho para exercer a arte da paz em tempos de guerra.

A tarefa inicial e indispensável, assim me parece, é buscar saber onde ele, o jardim, está. Depois regá-lo até, se for preciso, com as próprias lágrimas.