Setembro: flores amarelas para esperança

12/09/2023 07:15 - Avança+
Por redação
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Nunca se falou tanto sobre segurança emocional e saúde mental. Podemos dizer que essa maior abordagem dos temas é uma reação direta ao período pandêmico, quando a sociedade, em todo o mundo, enfrentou situações de estresse só vistas em tempos de guerra ou de grandes catástrofes, como a Covid-19. Incerteza, isolamento e perda levaram as pessoas a buscar apoio, acolhimento e cura. 

O simbolismo do Setembro Amarelo, além da prevenção ao suicídio, é uma excelente oportunidade para falarmos sobre esperança. Eu acredito muito na força dos bons pensamentos que desencadeiam as boas ações. As pessoas precisam saber e sentir que são amadas: em casa, no trabalho, na escola. E é sobre a importância e a necessidade de dar atenção psicossocial aos estudantes e profissionais do ensino que quero dedicar a coluna de hoje.

No último mês de maio, promovi uma audiência pública, na Comissão de Educação da Câmara dos Deputados, para debater o cumprimento da Lei 13.935/19, que garante atendimento por profissionais de psicologia e serviço social aos alunos das escolas públicas de educação básica. Durante o encontro, parlamentares, especialistas da área e representantes de diversas entidades foram unânimes em defender a urgência dessas contratações, assim como o acompanhamento dos trabalhos nas unidades de ensino.

Nossa comunidade escolar é carente de atendimento multidisciplinar especializado, que possa garantir o diagnóstico, o acompanhamento e o tratamento de casos de ansiedade e depressão, que atinge estudantes, mas também professores e servidores. Não se pode mais fechar os olhos para as estatísticas: além dos casos recorrentes de violência física e mental, como o bullying, as crises coletivas de ansiedade trazem apreensão para todos, em todas as regiões do país.

Em dezembro do ano passado, o Instituto Datafolha realizou uma pesquisa encomendada pelo Itaú Social, Fundação Lemann e BID, sobre a Educação sob a perspectiva dos estudantes e suas famílias. Dentre os inúmeros dados relevantes, um em especial chamou a minha atenção: mais de 60% dos familiares que responderam a pesquisa, acreditam que o principal problema da escola, em relação à forma de lidar com as questões de saúde mental dos alunos, é a falta de profissionais qualificados.

As escolas precisam ser locais de referência onde aqueles que se sentirem vulneráveis possam encontrar ajuda. O psicólogo, o psicopedagogo, o assistente social são profissionais preparados para fornecer orientações e acolher os que precisam. E vou ainda mais longe: eles estarão atentos a sinais, como a queda no rendimento, as faltas sucessivas sem motivo aparente e as mudanças bruscas de atitude e comportamento, como a agressividade e o isolamento.

Ao longo dos últimos anos, tenho me encontrado com milhares de alunos, professores, diretores, servidores que atendem as demandas na ponta, ou seja, nas salas de aula. Aprendi, nessas visitas, que só é possível promover o respeito, necessário ao ambiente escolar, se ouvirmos cada segmento, na linguagem deles. E existe escuta mais atenta que a promovida por profissionais qualificados? 

A escola precisa ser cada vez mais um ambiente agregador, onde todos possam ser emocionalmente saudáveis, construindo suas características pessoais a partir de uma identidade coletiva, forjada pelo próprio grupo, com acompanhamento técnico e olhar amoroso. O sinal de alerta emitido durante o mês de setembro é apenas simbólico de uma luta que continua o ano inteiro. 

É preciso encarar o bem-estar mental como condição essencial para o processo de ensino-aprendizagem. É preciso garantir apoio incondicional a quem passa por algum tipo de sofrimento emocional. Vamos continuar distribuindo flores amarelas, reforçando a esperança de que toda vida é importante. 

 

 

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