Eu acompanho de perto a importância da escola em tempo integral há alguns anos, mesmo antes de assumir a Secretaria de Educação de Alagoas. Sempre defendi que, mais do que ampliar o período do aluno no ambiente escolar, essa modalidade de ensino expande as oportunidades de desenvolvimento que enxergam o ser humano como um todo.

Foi pensando nisso que lutei para aumentar o número de unidades em tempo integral de 62 para 104, em apenas 11 meses de gestão. Essa conquista deixou Alagoas entre os 5 estados que mais oferecem vagas neste modelo, na rede pública, contribuindo para a sua consolidação.

Entre as diretrizes apontadas pelos especialistas que defendem a ampliação, valorizar os estudantes em todo o seu potencial é a que mais me chama a atenção. Essa abordagem leva em conta a experiência de cada um, suas diferentes maneiras de ser, garantindo oportunidades para desenvolver, de forma planejada, o conjunto de competências e habilidades fundamentais para a vida nesses novos tempos, desafiantes e imprevisíveis.

Oportunidade é uma palavra-chave para entender a importância da aprovação do projeto de lei que cria o programa Escola em Tempo Integral, na Câmara Federal, no último dia 3, fomentando a abertura de vagas na Educação Básica, em todos os municípios e estados brasileiros. Isso significa a ampliação de 1 milhão de novas matrículas nas escolas que oferecem a modalidade, com a meta de alcançar mais de 3 milhões de alunos matriculados até 2026.

O desafio é enorme. A proposta ainda será debatida e votada pelo Senado Federal, mas seguiremos atentos e vigilantes para garantir sua aprovação definitiva, já que acredito ser esse o único futuro possível para a educação em nosso país. E digo isso baseado em evidências, em dados apresentados no relatório de um estudo do Banco Mundial sobre o Índice de Capital Humano (ICH) no Brasil.

A pesquisa traça um retrato duro sobre as desigualdades entre crianças e jovens nas diferentes regiões do país e, apesar de não medir o bem-estar social da população, propõe uma estimativa da produtividade futura dessa geração, caso as condições atuais persistam. 

Os resultados apontam que um brasileiro nascido em 2019 alcançará, em média, 60% (ICH de 0,60) de seu capital humano potencial aos 18 anos de idade. Isso significa dizer que 40% de todo o talento brasileiro permanece retido, invisível para a sociedade, em outras palavras, desperdiçado. Sem falar nas diferenças regionais, que já mencionei: são muitos “Brasis” dentro do mesmo país.

A escola em tempo integral é um dos caminhos possíveis para rompermos esse ciclo perverso de desigualdade. Desenvolver as diversas competências de um aluno é ampliar suas possibilidades de realizações no presente e de suas conquistas no futuro. Para além do domínio de disciplinas como português e matemática, o estudante é preparado para solucionar problemas reais, complexos, de forma colaborativa, criativa e responsável.  

São as chamadas "competências socioemocionais" que, quando desenvolvidas adequadamente, impactam em indicadores como saúde, emprego, renda, relações familiares, diminuição da violência e, consequentemente, aumento do Índice de Capital Humano. Os conceitos que embasam o ensino integral reduz, portanto, a desigualdade e cria a tão almejada oportunidade, capaz de produzir um mundo mais inclusivo e sustentável.

É por acreditar que todo aluno tem potencial para transformar o mundo, que aceitei com respeito o reconhecimento a mim concedido pelo Instituto Sonho Grande, no final da gestão como secretário de Educação, como parceiro na luta pela ampliação ensino em tempo integral no Brasil. É por isso que sigo, com responsabilidade, defendendo o direito de todo jovem a sonhar com o futuro que deseja, com menos desigualdade e mais oportunidades para todos.