O desafio de ser educador

13/06/2023 07:16 - Avança+
Por redação
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As alagoanas Ely Quintela e Márcia Malafaia, atualmente gestoras nas escolas em que trabalham, são dois exemplos de educadoras que sempre gosto de citar: vocacionadas e comprometidas com a Educação do nosso Estado. Elas representam professores e servidores que honram, com dignidade, a profissão e asseguram o alto grau de excelência da nossa rede pública de ensino. Atualmente, a carreira docente vem sofrendo com a baixa procura por parte dos jovens, fenômeno amplamente discutido e pesquisado.

Para Ely, gestora da Escola Moreira e Silva, a formação de professores no Brasil precisa dialogar melhor com as demandas dos dias atuais, que exige enxergar a escola de forma diferente, ampliando sua atuação no contexto das transformações tecnológicas. O avanço das redes sociais e da Inteligência Artificial na vida dos alunos pede um reposicionamento das instituições e dos profissionais.

Na opinião de Márcia, gestora da Escola Théo Brandão, o grande estímulo do professor é ver o resultado do seu trabalho e sofre com a invisibilidade de sua atuação nesse atual estágio da educação brasileira, sendo "ou pedra de tropeço ou tábua de salvação". Ambas concordam que a vulnerabilidade financeira e a desvalorização social contribuem para crise atual e o desinteresse em seguir a carreira docente.

Ser professor já fez parte dos sonhos de futuro de muita gente, mas nas últimas décadas a crescente falta de valorização, tanto profissional quanto salarial, tem afastado o jovem da jornada. Diferente de Ely e Márcia, cujas trajetórias tanto orgulham seus alunos e colegas de trabalho, a maioria dos educadores de hoje ingressa nos cursos de pedagogia e nas licenciaturas por pura "falta de opção". Porém, entre os que seguem adiante, as razões apontadas não deixam dúvidas: o despertar da vocação durante o curso e a vontade de transformar a realidade.

Esses dados, aparentemente conflitantes, aparecem na pesquisa "O Futuro da Docência no Brasil", sobre os desafios e as perspectivas atuais sobre a carreira de professor no nosso país. A iniciativa é da organização Conectando Saberes, que reúne mais de 600 profissionais da Educação, em todas as regiões do Brasil, tendo como foco a valorização profissional e a construção de soluções para enfrentar os desafios impostos diariamente pelo ensino público. 

Os números, apresentados em fevereiro deste ano, são riquíssimos e apresentam um resumo significativo do quadro atual. Aqui nesse espaço de reflexão, vou destacar alguns percentuais que nos ajudam a entender a crise que envolve principalmente os professores, que estão na linha de frente do trabalho nas salas de aula. 

O primeiro ponto diz respeito ao problema da inadequação docente, já que 70,5% dos entrevistados reportaram o fato. Isso se dá quando um professor de determinada área acaba também lecionando em outras disciplinas, sem possuir formação adequada para tal. O desequilíbrio, que já perdura há anos, está relacionado à baixa oferta de profissionais em algumas licenciaturas, o que acaba sobrecarregando outras, gerando descontentamentos e resultados abaixo da média, na maior parte das escolas pesquisadas.

Um outro dado que chama atenção é o que relaciona a atividade docente à saúde mental: 75,5% afirmaram que um dos principais fatores que levam ao afastamento ou desistência da profissão se referem a questões psicológicas. Esse número reforça a minha luta em defesa da aplicação da Lei nº 13.935/2019, que prevê a prestação de serviços de Psicologia e Assistência Social em escolas públicas de todo o país. É preciso acompanhar de perto esses profissionais, dar o suporte necessário, e evitar com isso o aumento do número de faltas e afastamentos ao trabalho, provocado pelo desequilíbrio emocional. 

Por fim, destaco a questão salarial e os planos de carreira. A grande maioria dos profissionais entrevistados, mais precisamente 77,6% concordam de forma parcial ou total que esse é um fator que pesa na hora de decidir sobre continuar ou não na carreira docente. E aqui lembro de uma marca na minha gestão como secretário da Educação de Alagoas, a aprovação de um Novo Plano de Cargos, Carreiras e Salários, depois de mais de 20 anos de espera. Na prática, houve 40% de aumento no salário inicial, além da possibilidade de dobrar os rendimentos com a participação em programas como Professor Mentor e Vem que Dá Tempo. 

Ser profissional da Educação no Brasil não é uma tarefa fácil, nós sabemos. Mas precisamos colocar os professores e servidores no centro dos debates sobre a própria carreira. Eles que estão na linha de frente têm as melhores condições de propor soluções e saídas para a maioria dos problemas que enfrentamos. Precisamos exercitar essa escuta ativa sobre o cotidiano nas escolas e abrir o diálogo para atingir os melhores resultados. Só dessa forma teremos mais exemplos a seguir, como nas trajetórias de Ely e Márcia, que tão verdadeiramente representam os educadores de Alagoas. 

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