Precisamos falar sobre ansiedade coletiva no ambiente escolar

28/03/2023 09:00 - Avança+
Por redação
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Quero pedir a atenção de vocês para abordar um tema delicado: a importância de promover o bem-estar de toda comunidade escolar, com foco no acolhimento e no olhar mais atento ao que se passa com nossas crianças e adolescentes. Na semana passada estive na Escola Estadual Edmilson de Vasconcelos Pontes, no bairro do Farol, em Maceió. Na sexta-feira, dia 17, a unidade de ensino teve sua rotina alterada por uma crise de ansiedade coletiva, que deixou os alunos agitados.

A intenção da visita foi levar meu apoio aos estudantes, professores, funcionários, merendeiras, auxiliares e a gestão da escola, que tiveram um comportamento exemplar durante todo o processo. A escola convocou os pais, assim como acionou o Samu, que prestou atendimento a 20 meninos e meninas. 

Mas não vou ficar apenas na ação imediata, de estar presente na escola. Através do Requerimento nº 32/2023, solicitei a realização Audiência Pública para debater e fiscalizar o cumprimento da Lei nº 13.935, de 11 de dezembro de 2019, que “dispõe sobre a prestação de serviços de psicologia e de serviço social nas redes públicas de educação básica". A previsão é que o assunto já esteja na pauta dessa semana, na Câmara dos Deputados.

O que ocorreu em Maceió, infelizmente, não é um fato isolado e vem se repetindo com certa frequência em escolas de todo o país. Estados como Pernambuco, São Paulo e Ceará, só para citar casos que tiveram grande repercussão na mídia, registraram ocorrências semelhantes nos últimos anos, chamando a atenção dos especialistas e da opinião pública em geral. Afinal, o que caracteriza a crise de ansiedade em grupo?

Para começo de conversa, quero deixar claro que não se trata de frescura, assim como não se deve partir em busca de culpados pela situação. Devemos evitar julgamentos e a propagação de fake news, principalmente no "tribunal" das redes sociais, terreno fértil para a especulação, que pode agravar determinados comportamentos e estimular os preconceitos.

Uma sociedade que não cuida das suas emoções costuma enfrentar dificuldades de relacionamento, seja na família, no trabalho ou na escola. Crianças e adolescentes são alvos fáceis de diversas condutas preocupantes que vão do bullying ou do cyberbullying até reações autodestrutivas, que podem levar a diversos transtornos, que por sua vez  afetam a saúde mental e, consequentemente, o desempenho em sala de aula. 

"Geração do Quarto" - Claro que a pandemia da Covid-19, o isolamento social e o retorno às atividades presenciais, na sequência, acentuaram sintomas de estresse e vulnerabilidade emocional, num mundo cada vez mais incerto e em constante mutação. No livro A Geração do Quarto, o neuropsicólogo Hugo Monteiro Ferreira aborda esse terreno movediço que pode levar crianças e jovens a desenvolver medo acentuado no enfrentamento de determinadas situações.

Quando não observados e tratados da forma devida, esses medos podem desencadear crises de pavor e até de pânico. Segundo ele, "essa nova conjuntura social pode desencadear crises de ansiedade coletiva, que é um grande pedido de socorro". Os alunos, segundo o autor, têm medo de se expor, de errar, de não cumprir prazos das demandas escolares. Nesse contexto, surgem sintomas como suor frio, falta de ar e taquicardia, que caracterizam o mal-estar generalizado.

Bem-Estar - Para combater esse tipo de situação e estimular positivamente crianças e adolescentes é preciso investir na capacitação dos profissionais que atuam diretamente com esses públicos e promover ações que fortaleçam a autoconfiança e a segurança no ambiente escolar. É isso que defendem os pesquisadores Andy Hargreaves e Dennis Shirley no livro Bem-Estar nas Escolas, publicado recentemente no Brasil pela série Desafios da Educação, da Editora Penso.

Na obra, os autores defendem que garantir esse bem-estar tem uma ligação direta com a aprendizagem e, dessa forma, com o correto desenvolvimento de crianças e jovens em idade escolar. Lembrando que a OMS define a saúde como "um estado de completo bem-estar físico, mental e social e não apenas a ausência de doenças ou enfermidades”.

É nisso que acredito, é isso que eu defendo. Para combater situações de vulnerabilidade devemos promover o acolhimento. Só aprofundando a discussão sobre a preservação da saúde mental de crianças e adolescentes podemos assegurar o seu futuro. Vou continuar trabalhando por isso, contem sempre comigo.

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