As fases de Jó Pereira: 1) discursos duros e cirúrgicos na ALE; 2) silêncio estratégico; 3) de volta ao combate no tabuleiro político

05/05/2022 09:57 - Blog do Vilar
Por Lula Vilar
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Nesse processo pré-eleitoral, que define as composições para a disputa pelo governo do Estado de Alagoas, a deputada estadual Jó Pereira (PSDB) teve “fases”. 

 

As fases de Jó Pereira se iniciaram por um destaque natural que ganhou devido às pautas que comprou na Assembleia Legislativa do Estado de Alagoas. Em muitas delas, confrontou o ex-governador Renan Filho (MDB).

 

Na época, ainda como emedebista, Pereira tinha mais características de uma opositora do que mesmo de alguém da bancada do ex-chefe do Executivo estadual. A parlamentar chegou até a antecipar a crise vivenciada da falta de representatividade e sucessor natural do ex-governador, quando colocou que Renan Filho era um “líder solitário”. 

 

Exatamente isso! 

 

Não por acaso, o pré-candidato do MDB ao governo do Estado de Alagoas, o deputado estadual Paulo Dantas, não saiu das “alas palacianas”, mas foi forjado dentro do parlamento estadual pelo presidente da Casa de Tavares Bastos, Marcelo Victor (MDB). 

 

As circunstâncias a posteriori é que aproximaram ainda mais Dantas de Renan Filho, como sendo a opção viável para que o ex-governador dispute o Senado Federal.

 

A sempre falante Jó Pereira – que criticava o governo do MDB em temas variados, dentre eles o uso dos recursos do Fundo de Combate e Erradicação da Pobreza (Fecoep) para outros fins que não os originários – quando ganhou o destaque por conta do protagonismo na Assembleia Legislativa acabou sendo cogitada como uma possível candidata ao governo. 

 

O holofote natural fez Jó Pereira recorrer a um silêncio profundo sobre seu futuro político. Afinal, ninguém é candidato de si mesmo e ele depende das costuras internas do bloco do qual faz parte. Um dos motivos do silêncio paciente de Jó foi não falar em demasia e, desta forma, acabar atrapalhando o grupo político do qual faz parte e é comandado pelo deputado federal Arthur Lira (Progressista). 

 

Afinal, por maior que seja o destaque das peças isoladas de um grupo, em Alagoas prevalece o enxadrista-mor, o cacique. Nesse sentido, cabia ao deputado federal Arthur Lira as costuras e negociações com diversos partidos para que a oposição tivesse um candidato ao governo. 

 

Enquanto Jó Pereira silenciava, Lira fechou acordo com o senador Rodrigo Cunha (União Brasil). Cunha não gosta muito de externar que é o candidato de Lira, mas aceitou o ônus por conta do bônus: o grupo de Lira tinha a deputada estadual Jó Pereira para indicar como vice. 

 

Jó Pereira confirma a aliança com Arthur Lira sem o peso biográfico da aliança com Arthur Lira, se é que o leitor (a) me entende. 

 

É que o protagonismo de Jó Pereira, suas assertivas lógicas, sua capacidade de defender as próprias bandeiras, se tornam as credenciais que fazem com que a deputada estadual tenha cacife próprio para qualquer disputa. 

 

Logo, como vice em uma chapa, ela contribui. Ela ajuda Rodrigo Cunha a não perder um discurso no qual se agarra desde que o mundo é mundo: ser o rosto da nova política. Cunha, o prefeito João Henrique Caldas, o JHC (PSB), e outros tantos se apegam a isso como estratégia de marketing para se diferenciarem de caciques políticos conhecidos por práticas fisiológicas. Entre estes caciques estão Renan Calheiros e Arthur Lira, por exemplo. 

 

O silêncio estratégico – portanto - foi a segunda fase de Jó Pereira. Do ponto de vista político, ela estava correta. Soube se fazer presente sem atrapalhar o jogo de seus aliados.

 

Agora, a competente deputada estadual (diga-se de passagem) chega a sua terceira fase: com as alianças já desenhadas e quase que confirmadas, Jó Pereira – fora do MDB – se encontra livre, leve e solta para soltar o verbo. O principal alvo é aquele que já era alvo antes: o ex-governador Renan Filho.

 

Nas recentes declarações de Jó Pereira, que vão de críticas em relação ao uso de recursos do Fecoep, obras inacabadas do governo, ações desencontradas do antigo Executivo do MDB, a liderança czarista de Renan Filho aos pedidos de maior transparência nas políticas públicas, o que se tem é um resumo de tudo aquilo que levou a deputada estadual à tribuna da Assembleia Legislativa e, consequentemente, ao destaque que tem hoje.

 

As falas de Jó Pereira possuem substância, lógica e cautela como já possuíam antes. A diferença é que agora tem as cores das eleições. Agora, vale um adendo: as mais recentes entrevistas de Pereira, incluindo a concedida à Rádio Antena 7, servem de aula de retórica e argumentos para quem disputa um governo, não para quem é vice. Serve até de exemplo para o candidato dela (Jó Pereira) ao Executivo.

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