GALERIA DO ROCK

23/03/2022 19:01 - Blog Roqueiro Mofado
Por Fernando Godoy
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          Em meados dos anos 90 (acho que por volta de 94, 95), estive pela primeira vez na capital paulista. Na oportunidade, fui visitar o amigo-irmão e parceiro Betuca, que residia na Paulicéia Desvairada, estudando Engenharia na Faculdade Mackzenzie.

          Impressionado com o tamanho de tudo e a diversidade de Sampa, fomos a vários lugares, mas nenhum me impressionou tanto quanto a Galeria do Rock, um Shopping Center do rorck’n’roll, dispondo de tudo que você possa imaginar a respeito do gênero: discos, CDs, camisas, bottons, etc.

         Vários andares de lojas sobre o tema, com direito a uma infinidade de artigos acerca de sua banda predileta: discos piratas, discos fora de catálogo, vinis raros, camisas de banda das melhores marcas e por aí vai.

         Conseguia passar diversas horas olhando, garimpando, sem perceber o tempo passar, realmente um verdadeiro paraíso para os amantes do rock, que podiam desfrutar de um espaço gigantesco para achar o que bem entendesse. Dificilmente não encontraria o que estivesse procurando, por mais raro e estranho que pudesse parecer. Lembro que por lá consegui encontrar os dois primeiros discos do Quiet Riot, com Randy Rhoads na guitarra. Um disco do Accept ao vivo que procurava há tempos, dentre outras raridades.

         Estive recentemente em São Paulo (setembro de 2021) e para não perder o costume, pensei em passar por lá, para conferir se ainda existia e valia a pena, diante da forma atual de se consumir música. Fui advertido por uma amiga de lá, a não ir, pois segundo a mesma, o local estava com ares deprimentes e obsoletos. Teimoso que sou, fui lá conferir. Para minha alegria e surpresa, estava tudo lá, desde a atmosfera rock’n’roll às lojas; tipo, Baratos afins, Paranoid, Stamp... Graças à Deus, o culto ao rock permanece firme e forte. Amém!!

          Voltando à Galeria do rock dos anos 90, lembro de ter comprado um CD duplo do Smashing Pumpkins - Mellon Collie and the Infinite Sadness, disco que adquiri meio que impulsionado pela onda Grunge que assolava o mundo na época e confesso que gostei bastante e continuo apreciando até hoje. Apesar de não ser um grande fã desse soturno gênero, mas esse álbum, em especial, me conquistou. Músicas como 1979, Tonight, tonight, Bullet with buterfly wings, To forgive, Muzzel, Where boys fear to tread e Bodies, exerceram em mim uma imediata empatia com a banda. As guitarras distorcidas, as melodias suaves intercaladas com a pegada pesada, apesar de não ser nenhuma novidade (Pixies e Nirvana já faziam isso), soaram modernas sem parecer esquisitas, o que em relação ao “rock alternativo” é algo que merece destaque. Exemplo disso é a belíssima música Tonight, tonight.

          Ressalto que apesar do enorme sucesso do Grunge, durante a primeira metade da década de 90, o que mais ouvi nesse período nada tinha a ver com o referido movimento, foram duas bandas: Black Crowes – excepcional banda de pegada setentista e Oasis – maravilhosa trupe de rock britânica, com uma base melódica inspiradas nos Beatles

       Retornando ao disco do Smashing Pumpkins, o que dizer de uma banda capaz de transitar com a mesma desenvoltura entre músicas como Bullet with buteerfly wings (pesada e com distorções na medida certa) e Thirty-Tree (lenta e melódica), como se uma fosse a sequência natural da outra, apesar das diferenças inerentes as duas, revela que merece todos os louros e elogios que se possa fazer a respeito da criatividade e diversidade musical do grupo, sobretudo do líder, vocalista, guitarrista e letrista, Billy Corgan.

         E se ousadia pouca é bobagem, o que dizer então de uma banda que lança um CD duplo de estúdio com 28 canções? Diria que essa proeza, no meu sentir, rendeu bons frutos, muito embora concorde que não há como manter o mesmo nível na obra toda, mas há muita coisa boa, sim.

       Pois é, a gente nunca é feito de uma camada só, somos vários dentro de uma mesma pessoa, capaz de comportar gostos meio conflitantes, sem problemas.

         Após confessar certo apreço por uma banda grunge (nem tanto, está mais para ‘alternativo’) mesmo tendo me referido tão mal ao movimento quando escrevi sobre o glam metal, isto apenas demonstra que não estamos adstritos a rótulos ou mesmo eventuais mágoas quando o assunto é rock’n’roll. O que realmente importa é sermos fieis às nossas impressões acerca do que escutamos, sem amarras e preconceitos. E assim, seja.


 

GODOY “QUASE” GRUNGE

 

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