Uma das frases mais injustas e cruéis, tão frequentemente repetida, surge como uma condenação aos professores, mesmo àqueles a quem devemos considerar como “mestres”.

Ei-la: “Quem sabe faz; quem não sabe, ensina”.

É esta uma rematada bobagem, que não considera a importância de um professor na formação de grandes profissionais em quaisquer áreas, além de serem decisivos, muitas vezes, na composição do indivíduo.

Os cientistas Carl Sagan e Richard Dawkins dedicam longos textos e estendem tapetes para alguns dos seus mestres, ao fim e ao cabo, responsáveis diretos – eles assim reconhecem – por terem trilhado com absoluto sucesso um dos caminhos mais difíceis para ganhar a vida e superar a morte.

“Se eu vi mais longe, foi por estar sobre ombros de gigantes”, bem que poderiam repetir os dois destacados personagens, que conseguiram espalhar pelo mundo conhecimentos que pareciam restritos apenas a alguns poucos privilegiados.

Não por acaso, países como a Coreia do Sul, Japão e Finlândia tratam os professores – e não apenas os das universidades – como trabalhadores fundamentais na formação de um povo. A se considerar, inclusive, a compreensão do que é cidadania e o aprendizado da convivência entre os diferentes. Certo: todas as sociedades sempre vão divergir ao ponto da violência – é próprio da condição humana. Mas há um esforço desses povos para que os conflitos sejam atenuados, pela força do conhecimento e pela eliminação da ignorância nossa de cada dia.

A Finlândia, considerado o país mais feliz do mundo – e há muitos problemas por lá, já que a humanidade não consegue viver sem eles -, dá um tratamento especial aos professores de nível médio, por óbvio, bem diferente daquele que os países das Américas dedicam a esses trabalhadores intelectuais.

Os educadores dos adolescentes no país nórdico, nos conta Jared Diamond - em Reviravolta –, “são recrutados entre os melhores alunos dos ensinos médios e superior”, gozam de status superior, socialmente, até mesmo ao dos professores universitários, além de receber ótimos salários e de ter formação continuada assegurada.

O resultado pode ser medido objetivamente: os estudantes finlandeses, antes mesmo que se tornem profissionais de nível superior pelas universidades - bons ou não – estão no topo do ranking mundial de alfabetização, matemática e capacidade de resolver problemas. O que vale para todos os gêneros (sejam estes quantos forem).

Não é um samba de uma nota só, mas me parece muito mais factível harmonizar uma sociedade bem educada, que consuma conhecimento, para que ela possa se tornar, tanto quanto possível, racional. E entender a condição humana é também compreender a si próprio, imagino, o que não é pouco.

É bem verdade que a criação humana nem sempre dedica seus melhores capítulos aos que espalham, de bom grado, aquilo que aprenderam – e com esforço. Talvez porque tantos deles não conseguem tornar real o que ensinam como sendo o “ideal” em sua área.

Vejam, por exemplo, Cantiga de esponsais, o saboroso conto de Machado de Assis. O Bruxo do Cosme Velho narra os últimos instantes do Mestre Romão, um dedicado professor de música, que exercia sua arte nas missas e nas festas populares, onde a presença do seu cravo era indispensável.

Acometido de uma febre que lhe foi fatal, Mestre Romão viveu sua tristeza até o último suspiro - o instante em que ouviu de um casal apaixonado as notas de uma canção desconhecida, a que ele buscara obsessivamente a vida inteira para compor como obra sua. Tudo bem: foi Machado, um dos gênios da literatura brasileira, quem inventou o belo espécime humano.

Mas o que dizer de Honoré de Balzac, impiedoso com os críticos literários – professores de fato ou não – na sua definitiva manifestação de vingança?

- Todo crítico é um autor impotente. Compreendendo as regras do jogo sem poder jogar, professa.

Creio que ele, também, deve ter tido ótimos professores – ainda que longe das salas de aula.