Fecoep utiliza menos de 35% dos recursos arrecadados para o combate à pobreza, revelam dados apresentados em audiência

30/11/2021 07:52 - Política
Por Assessoria
Image

Representantes de inúmeras entidades ligadas a sociedade civil organizada e ao terceiro setor participaram, nesta segunda-feira (29), da audiência pública proposta pela deputada Jó Pereira para discutir “O Fundo Estadual de Combate e Erradicação da Pobreza (Fecoep) e a Lei Orçamentária Anual”, na Assembleia Legislativa. Dados trazidos pela Secretaria da Fazenda, mostrando que, hoje, o saldo em caixa no Fundo é de cerca de R$ 600 milhões, geraram questionamentos dos presentes acerca das razões pelas quais os recursos não estão sendo utilizados para a finalidade do Fundo.

Após a apresentação feita pelo superintendente da Sefaz, Paulo de Tarso de Araújo, Jó Pereira traduziu, em uma conta rápida, que entre 2015 e novembro de 2021, o Fecoep arrecadou R$ 1,760 bilhão. Deste total, R$ 483 milhões foram desvinculados do Fundo para aplicações diversas no caixa do governo e, a partir deste ano, foram repassados, obrigatoriamente, R$ 73 milhões para o Fundeb.

“O saldo em caixa hoje é de R$ 616 milhões, sendo R$ 594,62 milhões no Tesouro Estadual e R$ 22 milhões nas secretarias, ou seja, menos de 35% dos recursos arrecadados foram destinados a projetos aprovados pelo Conselho. De toda a arrecadação do período, entre 2015 e 2021, apenas foram aplicados R$ 590 milhões em projetos aprovados pelo Conselho do Fundo. São recursos que praticamente não foram utilizados, sem considerar que dentro do que foi utilizado, houve ações desarticuladas, não organizadas e inadequadas para o combate à pobreza”, analisou Jó, apelando para a necessidade de adequar e utilizar os recursos do Fundo.

Diante das informações envolvendo o recorte do Fecoep no Orçamento para 2022, foram definidos os seguintes encaminhamentos: compromisso de divulgar a pauta, data e horário das reuniões do Conselho do Fecoep para acompanhamento de todos os interessados; criação de um Grupo de Trabalho (GT) para dialogar com o governo e de um Observatório do Fecoep  - compromisso esse firmado pela Seplag - para dar mais clareza à destinação dos recursos arrecadados; e discussão sobre a proposta de projeto de lei, apresentada pelo Movimento Solidário, reconhecendo o terceiro setor como parceiro indispensável para o combate à extrema pobreza.

“Essa não é a primeira audiência pública, com encaminhamentos, que realizamos com foco no Fecoep e em todas elas denunciamos o uso inadequado dos recursos do Fundo e a ausência do Plano Estadual de Combate à Pobreza. Esse anexo na LOA é uma conquista dessa Casa para dar transparência ao saldo financeiro do Fundo. Hoje temos acesso a informações importantes, porque só o conhecimento nos fortalece”, afirmou Jó. Ao final da audiência, a deputada respondeu alguns questionamentos e explicou as limitações da atuação dos conselheiros, principalmente pela ausência de paridade na composição do Conselho.

Além do representante da Sefaz, Gustavo Viana, superintendente da Secretaria Estadual de Planejamento e Gestão (Seplag), apresentou detalhes dos parâmetros utilizados na construção do anexo relativo ao Fecoep no Orçamento Anual.

“É necessário trazer recursos do Orçamento para o Fecoep e não o contrário, afinal de contas os desafios são muitos”, pontuou Jó, após questionar alguns dos dados apresentados, principalmente os cerca de 30% oriundos da desvinculação.  

Discussões e participações

Na abertura da sessão, Jó falou sobre a importância das audiências, suspensas durante a pandemia, para construção de políticas públicas, “principalmente após uma pandemia que desnudou toda as nossas desigualdades e mostrou importância do combate eficiente da extrema pobreza”; destacou a representação do terceiro setor na discussão e voltou a cobrar a construção do Plano Estadual de Combate à Pobreza, cuja ausência é sentida há quase 20 anos, desde que o Fecoep foi criado, em 2004, com a obrigatoriedade da existência desse plano, essencial para o diagnóstico, planejamento e acompanhamento das ações.

Reforçando a importância da audiência, a deputada explicou que, pela primeira vez, a Lei Orçamentária Anual (LOA) para 2022 traz um anexo específico sobre o Fecoep, em razão de uma emenda, de autoria dela, à Lei de Diretrizes Orçamentárias (LDO).

Gizelda Lins, presidente do Colegiado Estadual de Gestores Municipais de Assistência Social (Coegemas-AL) defendeu a importância do co-financiamento estadual para a área, lembrando que a assistência social é a única política pública que trabalha diretamente com as pessoas mais vulneráveis, e falou sobre a luta para a aprovação, no Congresso Nacional, da PEC que obriga o governo federal a aplicar, pelo menos, 1% da receita corrente líquida da União no Sistema Único de Assistência Social (Suas).

Antônio Pimentel, do Movimento Solidário, apresentou à deputada Jó Pereira, que presidiu a sessão, uma proposta de Projeto de Lei reconhecendo o terceiro setor como parceiro indispensável para o combate à extrema pobreza. “Há muito dinheiro em caixa, mas não chega em nós, do terceiro setor, que efetivamente combate a vulnerabilidade social. É inconcebível ter R$ 500 milhões em caixa e a população alagoana passando fome”, desabafou.

Entre outros participantes da audiência, representantes de várias entidades, a exemplo do procurador-geral da OAB-AL, João Viegas, usaram a palavra. Membro do Conselho Integrado de Política e Inserção Social, que administra o Fecoep, a conselheira Suely Sobral explicou um pouco sobre o funcionamento do Conselho e afirmou, emocionada, que o coração dela, assim como daqueles que realmente lutam pela assistência social no estado, “sangra ao ver que tem tanta gente precisando e há tantos recursos na conta do Fundo”: “Queremos que esse dinheiro não sirva só para dar cestas básicas e sopa. É preciso propostas para atender as reais necessidades das pessoas”.

Jó Pereira disse que as ações do Fecoep precisam ser mais bem organizadas: “O que precisa mudar é a realidade das pessoas. Não tem como fazer um combate à pobreza sem planejamento e sem políticas públicas efetivas e estruturadas”, afirmou a parlamentar.

Também participaram das discussões integrantes da Cufa, Sebrae, Embrapa, Associação Família de Anjos, Terra Viva, Cedim, Cooperal, Unicafes, Ceapa, Conselho do Idoso, Instituto Raízes de África, entre outros. 

Your alt text
Your alt text

Comentários

Os comentários são de inteira responsabilidade dos autores, não representando em qualquer instância a opinião do Cada Minuto ou de seus colaboradores. Para maiores informações, leia nossa política de privacidade.

Carregando..