BOTA PRA FUDER!!!

26/11/2021 08:00 - Blog Roqueiro Mofado
Por Fernando Godoy
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      O ano era 1986, a banda era Camisa de Vênus, o local Trapichão e o show foi o primeiro, de inúmeros que pude prestigiar deste gênero que acompanhou e acompanha minha vida até hoje.

      Estávamos em um grupo de aproximadamente 06, adquirimos os ingressos e só aguardávamos ansiosamente o prestigioso dia do que seguramente prenunciava e viria a se confirmar, como um dos maiores shows de rock que assisti até hoje e olhe que já tive o prazer de ver, ACDC, IRON, DEEP PURPLE, OZZY, KISS, JUDAS, ACCEPT, ROGER WATERS, MIDNIGHT, SEPULTURA, TITÃS, LOBÃO e tantas outras bandas de inegável qualidade.

     Chegou o dia e fomos ao Rei Pelé (Trapichão), não para assistir mais um espetáculo do Azulão do Mutange, mas de uma banda que ainda hoje sou fã – Camisa de Vênus. Na época estavam com um hit nas rádios – Eu não matei Joana D’arc. Confesso que não era muito fã da música, mas apreciava. Preferia My way, Silvia, O adventista, Beth morreu, Deus me dê grana, Só o fim, etc.

    Cabe aqui mencionar, que o Camisa sempre foi considerada por mim, uma banda de pegada punk e postura bem agressiva, tanto nas letras quanto no som, faltava vê-los ao vivo e a cores.

    Assistir a shows em estádios é algo grandioso até hoje para mim, imagina naquela época, ver um bando de gente (algumas milhares) espremida nas arquibancadas defronte ao gramado, onde o palco espreitava o público como se algo grandioso fosse acontecer. Os momentos que antecederam ao espetáculo permanecem vivos em minha memória, aquela ansiedade em ver algo que não se tinha idéia exata do que seria, mas pressentia-se que seria mágico, como de fato foi.

     Iniciou o show e de cara percebemos a atmosfera indescritível de um concerto de rock, que só quem admira o gênero e já foi a algum, é capaz de saber. Tocaram todos os seus clássicos e dentre eles os mencionados acima. Lembro que quando tocaram My Way e Silvia, a galera foi ao delírio com os palavrões.

     Entre uma música e outra, ocorre pela primeira vez (ao menos para mim) aquilo que viria a se transformar em marca registrada dos shows dos caras, o grito ritmado de, Bota pra fuder!! Bota pra fuder!!

   Cara, você tem noção do que já era aquele show para um garoto de 14 anos a presenciar tudo aquilo até o momento, rock de qualidade, palavrões, letras de duplo sentido, a exemplo do que fizeram com uma música do Rei Roberto. “...todo homem que sabe o que quer, pega o pau pra bater na mulher...” Essa era parte da letra de Silvia, mas direto e rock’n’roll impossível.

    Àquela altura eu já estava em estado de êxtase com tudo, mas como que para coroar o evento, Marcelo Nova – vocalista da banda, passou a conversar com a platéia e soltou duas pérolas que permanecem indeléveis até hoje em minha memória. Uma foi quando indagou à platéia se havia alguma banda de rock na cidade. Alguns poucos levantaram a mão e ele emenda: “....é bom mesmo ter, porque senão vem aqueles cariocas com aquela papagaiada de entrei de gaiato no navio...” Uma clara afronta aos Paralamas do Sucesso e ainda narrou que a gravadora deles – Som Livre, havia sugerido que mudassem o nome da banda, porque Camisa de Vênus não pegava bem. É bom ressaltar que era início da era pós-ditadura militar, período pré-aids, o país era totalmente diferente do que é hoje. Mas, voltando a história do vocalista do Camisa, ele respondeu: “...posso sim, mudar... pra capa de pica...” Bem, se o show já estava demais, você imagine com esse tempero rock’n’roll a mais do Marcelo Nova. Foi o ápice e depois ele emendou outras músicas finalizando o showzaço!!

   Aqui eu faço um registro, na minha opinião, uma banda de rock não pode está adstrita somente a uma boa perfomance musical, mas sobretudo atitude ofensiva e postura. Nestes quesitos, o Camisa foi demais!

   Considero até hoje, um dos melhores shows que assisti e mais, abriu com chave de ouro o caminho para o universo do rock para um futuro ex-garoto “mofado” como eu.


 

GODOY DE VÊNUS

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