Diante da crise hídrica que o Brasil vem enfrentando em 2021, que afeta a produção das usinas hidrelétricas e o preço da conta de energia, empresários do país todo enviaram um ofício ao presidente Jair Bolsonaro (sem partido) pedindo a volta do horário de verão, apontado como uma das soluções para economizar energia no período do final do ano.
A volta da medida não é unanimidade entre as entidades alagoanas, já que há discordância em relação aos benefícios que podem trazer aos diversos setores do comércio estadual.
Ao CadaMinuto, o conselheiro da Associação Brasileira de Bares e Restaurantes (Abrasel), Thiago Falcão, disse que a seccional alagoana da entidade apoia o retorno do horário de verão, já que há diversos benefícios associados à medida, para o comércio e para a população.
Falcão destaca a economia de energia, que é um dos principais argumentos para a defesa do horário de verão, e cita, também, a questão da segurança para a população. “Com a luminosidade, a gente consegue ter mais segurança, algo muito importante no momento em que vivemos”, defendeu.
Em relação às atividades comerciais, especialmente da Abrasel, Falcão cita o exemplo do happy hour em bares e restaurantes.
“A gente acredita que, com esse movimento em relação à adequação do horário de verão, possamos conseguir um estímulo maior, no Brasil inteiro, para o happy hour”, exemplificou.
Impacto reduzido
Para o presidente da Associação Brasileira da Indústria de Hotéis de Alagoas (ABIH-AL), Ricardo André Santos, o retorno do horário de verão não trará muitos benefícios para o setor hoteleiro do estado.
“Nós trabalhamos com três turnos e a equipe que chega cedo vai ter que acordar mais cedo, o relógio biológico é atingido. Não favorece muito a hotelaria porque o hóspede vai ter que acordar mais cedo para sair para os passeios”, contou.
Ainda de acordo com Ricardo, a medida não tem impacto significativo no Nordeste, pois a economia de energia elétrica é notada nas regiões Sul e Sudeste do país. “O Nordeste em si não tem benefícios de economia de nada, o benefício está principalmente para o pessoal do Sul e Sudeste, para o Nordeste não é um ganho muito grande”.
O gestor frisou que a ABIH não apoia diretamente o retorno da medida, mas que pode aceitar a condição, se for para o bem da maioria dos setores comerciais de Alagoas e para ajudar na situação atual que o país se encontra. Ele reforça que as vantagens para o estado não são grandes: “nós temos uma incidência solar de 12 horas por dia, então diminuindo uma coisa você perde outra, não há essa diferença como no Sudeste”.
Benefícios
O economista e professor da Universidade Federal de Alagoas (Ufal) Cícero Péricles reiterou que os setores de comércio e serviços foram penalizados fortemente durante este período de pandemia.
Ele defende que o horário de verão, aproveitando a luminosidade e prolongando por uma hora o horário vespertino, ajudaria porque ampliaria o horário de atendimento e das vendas do comércio, favorecendo as atividades dos segmentos vinculados ao turismo e entretenimento, como bares e restaurantes.
“Estes setores, que estão demandando a volta desse horário especial, são os dois mais importantes na economia de Alagoas e os maiores interessados no faturamento adicional que o horário de verão poderia proporcionar”, falou.
No estado, a medida pode trazer benefícios às atividades vinculadas ao turismo, justamente no período considerado como “alta estação”, assim como o comércio no varejo, que teria mais tempo de permanência dos consumidores. “Principalmente no final de ano, o período de maiores vendas, e janeiro, quando as promoções esperadas movimentam o setor comercial”, destacou.
Contudo, o economista alerta que o horário de verão não alteraria as tarifas de energia, porque a crise hídrica somente será superada quando acontecerem as chuvas, que são esperadas para dezembro.
Segundo Péricles, a expectativa é que a regularização dos reservatórios no Sudeste e Centro-Oeste somente aconteça depois de fevereiro, quando o verão já terá passado e, até lá, as termelétricas serão muito utilizadas, produzindo uma energia mais cara, com custo maior que continuará a ser repassado para os consumidores.
“A dificuldade maior do retorno [do horário de verão] está na opção cada vez mais utilizada pelo governo federal, que é a de aumentar o preço da tarifa da energia, desestimulando o consumo”, salientou, citando as campanhas de conscientização que visam a redução do uso de eletrodomésticos como ar condicionado, ferro de passar e chuveiro elétrico, principalmente no horário de maior consumo, entre as 18 e 21 horas.
Outra linha de atuação, comentou o economista, é a negociação com os grandes consumidores do setor industrial, com mudanças de horário para tentar modular a demanda. “Em decorrência desta opção, a conta de energia já subiu, nos últimos meses, tanto para o setor residencial como para o industrial”.
Sem previsão de retorno
Segundo avaliação do Ministério de Minas e Energia (MME), a possibilidade da volta do horário de verão em 2021 é pequena. O argumento apresentado pelas associações comerciais do país é contestado pela pasta, pois o retorno da iniciativa teria impacto limitado no consumo de energia elétrica no Brasil e não ajudaria a enfrentar a crise energética.
"A contribuição do horário de verão é limitada, tendo em vista que, nos últimos anos, houve mudanças no hábito de consumo de energia da população, deslocando o maior consumo diário de energia para o período diurno. Assim, no momento, o MME não identificou que a aplicação do horário de verão traga benefícios para redução da demanda", diz o Ministério, em nota.
Entretanto, por conta da pressão dos setores econômicos para o retorno do programa, o Ministério solicitou novos estudos ao Operador Nacional do Sistema Elétrico e, a partir daí, emitirá uma decisão.
*Estagiárias sob supervisão da editoria