O 7 de setembro foi marcado por atos a favor do atual presidente, Jair Bolsonaro (sem partido). Além disso, no dia do 7, Bolsonaro fez um discurso com ameaças ao Supremo Tribunal Federal (STF), recebendo apoio de seus seguidores. Ao Cada Minuto, a cientista política, Luciana Santana, destacou que as declarações do presidente foram antidemocráticas e constituem crime de responsabilidade.

CM: Como você avalia o fato do presidente Jair Bolsonaro incitar a população contra o Supremo Tribunal Federal (STF)?

LS: Esse tipo de postura e as pessoas que se aliam a isso são antidemocráticas, o movimento em si, se torna antidemocrático. As pessoas podem criticar os poderes, os governos, mas a partir do momento que você ataca frontalmente, pede fechamento de instituições que são importantes e estão previstas constitucionalmente, isso é um ato antidemocrático e não pode ser concebido de forma nenhuma, não pode ser aceito.

Muitas pessoas e manifestantes têm assimilado como algo natural, mas não é natural você pedir o fechamento de instituições políticas. Quem faz isso está cometendo um crime contra a democracia, está sendo avesso ao regime democrático e ao estado de direito.

CM: Quais as possíveis consequências das alegações de Bolsonaro neste 7 de setembro?

LS: Com relação à popularidade do presidente, não acho que vá crescer por conta dessa manifestação. O presidente já tem apoio, que é muito coeso e muito sólido, e essa base se mantém, vai dar apoio ao presidente independente do que ele disser. Não acho que vai se ampliar, mas precisamos das futuras pesquisas para avaliar.

A grande maioria da população é contra esse tipo de manifestação, até porque as pessoas, hoje, estão sentindo na pele a ausência dessa liderança no país, de políticas que realmente estejam atentas aos problemas da sociedade. O que a gente tem hoje é uma crise econômica, inflação elevada, desemprego alto, baixas expectativas de melhoras, dólar alto, poder de compra baixo. Alguns devido à própria pandemia, mas alguns por conta da gestão deficitária que tem hoje no poder.

Do ponto de vista institucional e na relação entre os partidos, já vimos que os partidos não aceitam e já estão se posicionando contrários ao presidente e suas falas antidemocráticas.

Então, eu diria que as manifestações de 7 de setembro foram um “tiro no pé”. O cenário que temos hoje é de maior isolamento do presidente na política.

CM: Como você avalia as manifestações do dia 7 de setembro?

LS: Nas manifestações de 7 de setembro tivemos um volume de pessoas que a gente não tinha visto ainda em outras manifestações, desde o início do mandato do atual presidente.

No entanto, havia uma expectativa dos próprios organizadores de que houvesse uma maior adesão e essa expectativa foi frustrada.

Eu considero antidemocráticas, porque diferentemente de outras manifestações - e eu defendo o livre direito de manifestar, onde as pessoas se expressam de alguma maneira, fazem críticas  aos governos ou até instituições, pois isso é possível de ser feito - mas, as manifestações de agora, tinham um componente adicional, que já aparecia em outras manifestações.

Haviam pedidos claros de fechamentos de instituições políticas, falas que antecederam e, inclusive, no dia de algumas concentrações, pessoas falando em invasão ao Congresso Nacional e ao STF.

CM: O que o STF pode fazer com relação às falas do presidente?

LS: As falas do presidente também tinham um tom ditatorial, golpista e antidemocrático. Isso configura crime de responsabilidade. Os discursos do presidente foram antidemocráticos e passíveis de crime de responsabilidade. O que a gente precisa saber é se as instituições vão realmente levar isso adiante para cobrar essa responsabilidade e punir dentro do que é previsto constitucionalmente.

*estagiária sob supervisão da editoria