No segundo dia de depoimento à CPI da Covid, o ex-ministro da Saúde Eduardo Pazuello buscou se blindar de acusações por eventuais omissões na pandemia, culpou o governo do Amazonas na crise vivida pelo estado por falta de oxigênio hospitalar no início do ano e foi acusado de mentir 14 vezes pelo relator da comissão, Renan Calheiros (MDB-AL).

Hoje, senadores independentes e de oposição ao governo Jair Bolsonaro (sem partido) focaram menos em eventuais erros do presidente e buscaram individualizar a conduta do ex-chefe da pasta da Saúde durante a pandemia do novo coronavírus.

Pazuello defendeu não ser o "único responsável" pela situação da crise sanitária no Brasil. No caso da crise aguda de falta de oxigênio de Manaus, o general do Exército disse que o fornecimento do produto é de "responsabilidade exclusiva" do estado e da operadora contratada, por exemplo.

Distribuir as responsabilidades por eventuais erros na pandemia com governadores e prefeitos tem sido uma das principais linhas de ação da tropa de choque do governo na CPI em defesa da gestão Bolsonaro.

Entre os fatos com os quais Pazuello foi confrontado, destacaram-se:

O dia em que foi flagrado sem máscara circulando em um shopping em Manaus;

 A ideia de uma suposta "desumanidade" e "frieza" em relação ao cumprimento de ordens e burocracias em detrimento da agilidade na compra de vacinas; 

A suposta demora para o Brasil aderir ao consórcio Covax Facility; 

A falta de conhecimento técnico sobre a doença; O seu aval ao lançamento de um aplicativo oficial que recomendava o uso de cloroquina; 

A decisão de não-intervenção federal na saúde pública do Amazonas em janeiro deste ano.

Diante da ofensiva dos parlamentares, o ex-ministro adotou um tom emocional e disse ter "sofrido muito" em Manaus. A capital amazonense viveu no começo deste ano um colapso na rede pública de saúde, com falta de oxigênio medicinal e insumos hospitalares básicos. O cenário foi agravado pela aceleração dos efeitos da pandemia no país.

O general declarou ainda que pessoas de sua equipe no Ministério da Saúde foram adoecendo e que isso era algo "muito dolorido" para ele.

Pazuello confirmou que o governo optou por não decretar intervenção federal na saúde pública do Amazonas. A decisão foi tomada em reunião com a presença do presidente Jair Bolsonaro, de ministros e do governador do Amazonas, Wilson Lima (PSC), informou.

Em sua fala, Pazuello buscou reforçar que a decisão pela eventual intervenção não cabia a ele e que o posicionamento do governo federal foi tomado após ouvir o governador.

O pedido de intervenção havia sido feito pelo senador Eduardo Braga (MDB-AM), que é membro da CPI e foi o autor do questionamento durante a audiência de hoje.

Relator da CPI da Covid, Renan Calheiros voltou a criticar Pazuello pelas "contradições e omissões" durante seus depoimentos à comissão. Segundo Calheiros, que voltou a pedir a contratação de uma agência de checagem de fatos, o general já mentiu "flagrantemente" em 14 oportunidades.

"Nós já tivemos uma primeira amostragem dessas contradições, inverdades e omissões. O depoente em uma, duas, três, cinco, seis, sete... Em 14 oportunidades mentiu flagrantemente. Ousou negar suas próprias declarações. É uma nova cepa que nós estamos vendo aqui, a negação do negacionismo", disse Renan.