Nos primeiros cinco meses deste ano, até o dia 12 de maio, 22.726 jovens de 0 a 29 anos contraíram a Covid-19 em Alagoas, segundo dados da Secretaria de Estado da Saúde (Sesau). Em relação ao número total, a quantidade representa cerca de 30% dos casos confirmados.

A velocidade com a qual o vírus está contaminando os jovens preocupa infectologistas e pesquisadores, já que se aproxima cada vez mais do total do ano de 2020 inteiro, que foi de 28.783. 

O infectologista Fernando Maia conversou com o CadaMinuto sobre a situação e destacou a importância da manutenção dos cuidados, mesmo após receber as duas doses da vacina.

“Apesar do início da vacinação, a doença ainda não está controlada. Para lidar com a pressão de evitar a aglomeração e encontros com os amigos é simples: mesmo quem está vacinado ou quem teve a doença, ainda pode ter novamente, e principalmente pode transmitir. Então, ainda não é o momento de relaxar nas medidas de controle já estabelecidas: lavar as mãos, manter o distanciamento social e usar máscara”, reforçou. 

Fernando também explica que há três motivos que levam os jovens a essa tendência de contrair o vírus com mais facilidade: a nova variante P1, encontrada em Manaus, que tem atingido mais os jovens; os descuidos das medidas de proteção, pelo cansaço de estar vivendo a pandemia há mais de um ano; e o início da vacinação, que dá uma falsa ideia de segurança.

O médico frisou que a variante P1 tem se mostrado ainda mais capaz de infectar pessoas jovens, junto a elementos como a exposição intensa dos indivíduos nessa faixa etária e o desrespeito ao uso de máscaras e a ausência do hábito de lavar as mãos.

Ele ainda acrescentou que vacinar todos em 2021 é uma meta, que depende da chegada de novas vacinas, que está prevista para junho.

Maia alertou que o risco de uma terceira onda é sempre possível, sendo resultado de acomodações nas medidas protetivas, por mais que a vacinação ainda não tenha avançado suficientemente. 

“É exatamente por isso que as pessoas devem manter essas medidas protetivas até que se consiga a tão sonhada imunidade em rebanho, com um número grande de pessoas vacinadas, porque aí nós vamos ter um pouco mais de tranquilidade para poder voltar à nossa vida normal”, concluiu.

Terceira onda

O pesquisador do Observatório Alagoano de Políticas Públicas para o Enfrentamento da Covid-19 da Universidade Federal de Alagoas, Denisson Silva, destacou que nos dois últimos boletins da Fiocruz, houve um aumento de casos e óbitos entre os jovens no Brasil. 

No país, nas semanas epidemiológicas 14 e 15, a faixa etária entre 20 e 29 anos teve um aumento de mais de mil por cento. Essa mesma faixa, nas semanas 16 e 17, teve um aumento de mais de 600%.

“A sensação das equipes que estão na linha de frente nos hospitais é de que as pessoas mais jovens estão se infectando mais”, falou, explicando que isso é confirmado ao analisar o deslocamento dos casos e óbitos para os grupos mais jovens.

Dennison esclareceu alguns fatos que geram uma série de dúvidas para a população a respeito da chegada das novas cepas. “Os estudos têm mostrado que, em geral, as novas cepas são as que têm maior transmissibilidade”.

Seja por motivos de trabalho ou entretenimento, ele explica que os jovens são os que mais têm saído de casa, então esse aumento era esperado, "porém a grande preocupação agora é a fatalidade que está atingindo os grupos mais jovens”.

O pesquisador também alertou para a possibilidade de uma terceira onda da pandemia no país e em Alagoas, que pode ser ainda mais letal que as anteriores. Por mais que haja sinal de queda nos indicadores, é recomendado cautela na flexibilização de setores da economia.

Ele disse que, caso haja uma terceira onda no estado, levando em consideração a ocupação dos leitos de Unidade de Terapia Intensiva (UTIs), “vamos ter uma catástrofe maior do que a que já está ocorrendo, onde não será possível o governo continuar administrando a crise”. 

Descuido

A universitária Miranda Leite (nome fictício a fim de preservar a identidade), de 19 anos, contraiu Covid-19 em dezembro de 2020. Ela conta que reconhece os descuidos que teve antes de apresentar os sintomas. 

“Como trabalho com marketing, tive que gravar diversos vídeos para a empresa que atuo, e não usei máscara. Sei que cometi alguns erros durante esse período, acabei deixando minha máscara em cima do balcão da recepção e também limpei o batom com os dedos, ao invés de usar um pedaço de papel”, confessou, explicando que acredita ter contraído o vírus durante esses dias, já que saía de casa apenas para ir ao trabalho.

Miranda disse que os primeiros sintomas apareceram cinco dias depois, mas que pensava se tratar de alergia. “Tomei antialérgico, mas os sintomas como espirro, coriza e tosse não desapareceram. Depois, perdi o olfato e o paladar”. 

Após realizar o teste junto com a família, sua mãe teve resultado positivo, mas com sintomas leves, e seu irmão também, mas assintomático. Seu pai e sua irmã, que testaram negativo, ficaram isolados em seus quartos, durante 14 dias.

A estudante conta que, até hoje, não consegue sentir o sabor de alguns alimentos, mas que consegue identificar a maior parte, porém, em alguns dias, não consegue sentir cheiro de nada.

“Depois disso, redobrei os cuidados, principalmente porque meu pai não teve Covid e já tem mais de 60 anos”, disse Miranda. “Ele e minha mãe já tomaram a vacina, mas os cuidados continuam”.

*Estagiários sob supervisão da editoria