Mesmo com evidências científicas de que o tratamento precoce (conjunto de remédios como hidroxicloroquina, azitromicina e ivermectina) não funciona contra a covid, muitas pessoas defendem esse tipo de tratamento para tratar a doença. Mas afinal, o tratamento precoce existe? O Cada Minuto conversou com dois infectologistas que falaram sobre os riscos desse tratamento e afirmaram que ele não funciona. Para os especialistas, esses médicos trazem a falsa sensação de ‘proteção’.

Segundo o infectologista Fernando Maia, as evidências mais atualizadas mostram claramente que esses remédios para o tratamento precoce, não funcionam.

“Não é que é droga perigosa, nem é que faça mal, mas são drogas que simplesmente para a covid não funcionam”, disse. De acordo com ele, parece que apenas os brasileiros insistem nesse tipo de tratamento.

“Porque no mundo todo, as sociedades médicas já contra indicaram o uso. Nenhum governo no mundo inteiro está autorizando o uso dessas substâncias porque realmente não funcionam”, explicou.

O médico reforçou que quando a covid surgiu, ninguém sabia nada sobre ela e era feito o que se podia. Mas reforçou que hoje em dia, já existem evidências que mostram que esses remédios não funcionam para o tratamento precoce.

“Realmente o seu uso deve ser desestimulado, deve ser contraindicado, porque não há razão para fazê-lo”, afirmou.

Infectologista Fernando Maia 

Risco do corticoide

Quem acompanha a mesma fala do médico é a infectologista Verônica Rocha, 35 anos. Ela trabalha como coordenadora do controle de infecção hospitalar do Instituto Couto Maia, em Salvador.

A infectologista reforçou ao Cada Minuto que não existe tratamento precoce que possa ser feito em casa para prevenir a infecção ou as formas graves da covid-19.

Para ela, alguns trabalhos científicos de qualidade ruim, mal feitos, contribuíram para essa grande confusão que observamos em relação a esse tema.

“É importante ressaltar que o corticoide reduz o risco de morte pela covid-19 quando administrado no momento correto que é quando o paciente tem indicação de oxigênio”, enfatizou.

A médica disse que o uso do corticóide antes desse momento não teve benefício comprovado pelos estudos e pode prejudicar a resposta do sistema imunológico se tomado de forma muito precoce.

Riscos do tratamento precoce

Os infectologistas alertaram para os riscos do tratamento precoce e afirmaram que esse tratamento dá a falsa sensação de proteção. A médica Verônica informou que o tratamento precoce tem consequências a curto e longo prazo.

“A curto prazo pode gerar uma falsa sensação de proteção, confunde a compreensão da doença gerando gastos desnecessários de recursos da saúde em um momento tão crítico e aumenta o risco de reações medicamentosas”, disse.

A médica disse que tem visto sinais de intoxicação pela vitamina D, arritmias, hepatites medicamentosas, sendo algumas bastante graves levando a necessidade de transplante hepático.

Infectologista Verônica Rocha

“A longo prazo o uso inapropriado de azitromicina, ivermectina e hidroxicloroquina pode gerar aumento da resistência bacteriana, de verminoses e da malária a esses medicamentos”, acrescentou.

Já o infectologista Fernando Maia também disse que a pessoa sente uma falsa impressão de que está melhorando, mas que não estará.

“O risco que existe é do paciente subestimar os possíveis sintomas que podem aparecer e deixar de fazer o acompanhamento correto, porque tomou o remédio acha que está tudo bem, mas na verdade não está”, explicou.

Fernando Maia disse que para ele, o maior risco é o paciente abandonar o acompanhamento da Covid. “O mais importante de tudo é o acompanhamento do paciente, acompanhar e pedir exame. Porque aí precocemente nós conseguimos ver quem está evoluindo bem e quem não está. E aí, nós podemos intervir com drogas efetivas, fazendo o tratamento correto. “Infelizmente, muitos médicos ainda fazem esse tipo de tratamento”, lamentou.