Para mim ficou claro que ex-juiz e ex-ministro Sérgio Moro saiu na hora certa do governo Jair Bolsonaro.
Isso do ponto de vista simplesmente pragmático, de quem é candidato porque deixou e rompeu com o governo no meio de duas graves crises, a de saúde e a econômica.
Além de sair atirando, o discurso utilizado e as duas acusações dão todas as dicas de que irá seguir carreira política.
A primeira, interferência política na PF, deu errado do ponto de vista jurídico. Foi um "traque que, o que é pior, pifou". Mas será tema de polêmica por um longo tempo.
A segunda dica ocorreu durante a entrevista ao Fantástico, neste domingo (24). O novo torpedo dirigido veio ao afirmar que o presidente nunca o apoiou nos projetos apresentados ao Congresso de combate a corrupção. Ainda condenou a aproximação de Jair Bolsoanro com os perigosos políticos do centrão.
Portanto, agora uma boa parte do empresariado, dos antipetistas, lavajistas, do eleitorado de centro, entre outros simpatizantes de bolsonarismo, têm um candidato que ainda carrega a imagem de juiz honesto e duro com políticos corruptos.
Tenho pra mim que Sérgio Moro efetivamente também representa e será defendido e protegido pelas famílias proprietárias dos grandes meios de comunicação que estão em guerra aberta e declarada contra o governo federal: Principalmente os grupos Folha, Estadão e Globo.
É visível o uso da mesma estratégia utilizada em outros períodos e mais recentemente contra o governo Dilma, Lula e todo o aparato político e econômico ao redor do governo federal. Não há concorrência pela notícia, pelo furo, mas sim repercussão pelos demais veícuos do fato divulgado por um deles.
Há, certamente, muita verdade no que vem sendo noticiado, como por exemplo o negacionismo idiota de Bolsonaro quanto ao coronavírus e a visão incorreta quanto ao meio ambiente. Porém, há muitos excessos e visível tentativa de tornar verdade outros casos, como o da suposta interferência indevida na PF.
Isso é feito com as entrevistas opinativas de 'especialistas' que compactuam com a mesma ideia e de políticos da oposição.
Claro, incapaz de liderar politicamente o país, de governar para todos, o presidente segue de forma perigosamente errática, como quem se fortalece do caos e de conflitos para sobreviver e imperar.
É que Jair Bolsonaro e muitos dos seus ministros se alimentam de informação que circula nas redes sociais para decidir sobre questões nacionais. As mesmas redes onde essa turma publica mentiras para os seus seguidores.
Por sorte nossa neste momento de profunda e contíua crise, como diz o ex-presidente do STF, Carlos Ayres Britto, "O judiciário não governa, mas impede o desgoverno". Ele diz ainda que a "Constituição governa permanentemente, quem governa transitoriamente". E avalia que "o presidencialismo é maior que o presidente da República e o governo maior que o governante".
"Alenta-nos, porém, constatar que, se o perigo mora ao lado, ao lado também mora a solução: a Constituição brasileira. Uma solução tão objetiva quanto legítima, por ser ela que governa quem governa. Mais: ela é a criadora de todas as instâncias de Poder (todo o Poder Executivo no meio), e o certo é que nenhuma dessas criaturas pode se rebelar contra o seu criador", conclui ele.
Que assim seja.
Em Tempo - As declarações do ex-ministro do Supremo Tribunal Federal foram concedidas ao jornal "A Tarde", que você pode ler aqui.