O caso envolvendo a morte do jovem Carlos Henrique Ferreira da Silva, de 19 anos, que ocorreu neste domingo (24), durante uma abordagem policial dos militares da Radiopatrulha, na Grota do Estrondo, no bairro da Pitanguinha, em Maceió, será apurado pela Corregedoria da Polícia Militar de Alagoas (PM/AL).
Em entrevista ao CadaMinuto, Marcos Sampaio, Comandante-Geral da PM/AL, disse nesta quarta-feira (27), que o caso já foi recebido pela Corregedoria e o depoimento da família deve ser apurado. Além disso, Sampaio alegou ainda que existe sempre uma prática de desconstrução do serviço da polícia. “É uma prática essa desconstrução do trabalho da polícia pelo crime organizado”, contou.
Ao falar sobre o depoimento prestado pela família de Carlos Henrique à Corregedoria, o Comandante-Geral disse também que foi alegado que um dos policiais estaria fazendo uso de drogas antes da ação. “Isso está no Termo de Declaração e a gente também vai representar caso isso não seja provado. Nós estamos em defesa dos policiais, mas não admitimos excessos, por isso que a Corregedoria está com o caso”, finalizou.
A reportagem entrou em contato com a assessoria de Comunicação da Polícia Militar de Alagoas (PM/AL), que informou que os familiares do jovem morto foram ouvidos por meio da Corregedoria e todas as providências cabíveis estão sendo adotadas. “É importante destacar que, inicialmente, a PM/AL trata o caso como uma ocorrência policial que teve a necessidade de intervenção policial”, explicou em nota.
Denúncias
O CadaMinuto entrou em contato com Carlos Alberto, de 50 anos, que é pai do jovem morto durante a ação da polícia. Ao falar sobre o caso, ele contou detalhes sobre como ocorreu a situação. “Tinham dois rapazes conversando na porta da minha casa, além do meu sobrinho, meu irmão e um primo meu. Esses dois rapazes vieram e, quando viram a viatura entrando na rua, eles correram e pegaram na mão do meu menino e gritaram: é a polícia! Quando eles correram, a polícia começou a atirar e meu irmão correu também”, relatou.
Ainda durante a entrevista, o pai de Carlos Henrique disse que, após correr da polícia, o filho dele teria encostado na parede com as mãos para cima enquanto os dois rapazes correram. “Quando a polícia chegou, perguntou: por que você correu? E ele respondeu: eu não ia correr não, mas eu me assustei porque eu não ia ficar na frente de bala. E a polícia disse: você deve ser traficante também”, explicou.
Além disso, o pai do jovem alegou que estava na porta de casa quando a polícia perguntou onde tinha droga, e Carlos Henrique disse que não sabia nada de droga, “quando, de repente, atiraram no meu menino, ele colocou a mão [na região baleada] e levantou a camisa. Quando ele viu que tinham atirado na barriga dele de lado, foi quando ele caiu no chão”, apontou Carlos Alberto.
Ao falar sobre a reação no momento da suposta ação dos militares, ele revelou que entrou em desespero quando arrastaram o jovem.
“Pegaram meu filho pelo pescoço e saíram arrastando pelo chão como se fosse um cachorro e levaram ele pra um lugar escuro enquanto ele gritava: socorro, painho, os caras querem me matar!”, disse emocionado.
Em seguida, o pai relatou que saiu desesperado com a esposa em busca do filho. “Eu perguntei o que estava acontecendo. Por que eles não foram me procurar? Eu moro aqui e meu filho tem nada a ver com isso não. Aí eles disseram pra gente não se aproximar, a gente insistiu, e ele começou a atirar em todo mundo que estava na frente, inclusive na direção da minha esposa. Eles disseram: segure ela senão eu mato ela também”, justificou.
Logo após, Carlos Alberto revelou que segurou a esposa e entrou em casa, quando o irmão dele chegou ao local e entrou em desespero. “Eu ouvi meu filho gritando lá pedindo socorro e eu no desespero sem poder fazer nada. Eu tentava ir lá, mas eles [os policiais] ameaçavam atirar. Depois deram mais dois tiros na barriga do meu filho, e colocaram um saco na cabeça dele para enforcá-lo. Meu filho não estava com nada na mão e nem estava armado”, explicou, mais uma vez emocionado, o pai.
Questionado sobre o depoimento prestado à Corregedoria em que os policiais, supostamente, estariam fazendo uso de cocaína, o pai do jovem contou que realmente a polícia foi avistada fazendo uso da droga antes da abordagem, porém, ele informou que não tem provas do ocorrido.
Liberação do corpo
Ao falar sobre a liberação do corpo, Carlos Alberto disse que ainda não conseguiu a liberação, pois o filho não tem documento com foto, apenas certidão de nascimento. Devido a isso, os familiares recorreram à Justiça para que o corpo seja liberado para o enterro.
A reportagem entrou em contato com o Instituto Médico Legal (IML), que explicou que por se tratar de uma pessoa maior de idade, a liberação não pode ser realizada apenas com a identificação visual feita pela família.
Questionado sobre a divulgação do laudo médico, o IML informou que o documento deve ficar pronto no prazo de 10 dias úteis e que o corpo permanece no instituto.
*Estagiárias sob supervisão da editoria