Parece novela tantos são os personagens envolvidos. Também pode ser uma série de horror tantos foram os estragos na política, na economia, na sociedade e no sistema judiciário. E num só dia todos esses personagens e suas histórias ganham mais um capítulo na trágica realidade na história brasileira.

Cena/episódio 1 – O ex-procurador-geral da República, Rodrigo Janot, revelou que certa vez entrou no STF com uma pistola. Ele pensava em matar o ministro Gilmar Mendes e depois se suicidar.

Esse trecho é narrado no livro de memórias do ex-procurador, que deverá ser lançado ainda este mês.

O desejo assassino parece ter sido causado por divergências entre ambos e insinuações que Gilmar teria feito sobre sua filha em 2017.

Em nota – que você pode ler na íntegra no final do texto -, Gilmar Mendes disse que “nada mais me resta além de lamentar o fato de que, por um bom tempo, uma parte do devido processo legal no país ficou refém de quem confessa ter impulsos homicidas”.

Cena/episódio 2 – O que juristas e advogados vinham defendendo está se confirmando. Sérgio Moro e os procuradores atropelaram o devido processo legal no caso de muitos dos envolvidos na Lava Jato.

O ex-juiz, por exemplo, foi desnudado na sessão do STF desta quinta-feira por erro na condução dos processos. Quando um delator acusa um réu é direito dele se defender e conhecer a acusação. E isso só se dá se a acusação for feita primeiro.

 A Constituição garante amplo direito de defesa. Um delator apresenta acusações contra os outros réus. É direito deles, portanto, defender-se delas. Só pode fazê-lo se conhecê-las. Só as conhecerá se forem apresentadas primeiro. A lógica é, portanto, incontornável: Moro errou na condução dos processos.

Isso é amplo direito de defesa para todos os cidadãos e quem garante é a Constituição.

Cena /episódio 3 – Um dos mais ferrenhos opositores do PT e do governo da ex-presidente Dilma Rousseff, o ex-senador tucano Aloysio Nunes Ferreira disse, na Folha (leia aqui), que agora considera que houve ‘manipulação política do impeachment’ de Dilma pela força-tarefa da lava Jato em Curitiba e pelo ex-juiz Sérgio Moro.

Antes de acreditar nesse novo olhar crítico/analítico do ex-senador, é preciso lembrar que “o ex-presidente da OAS Léo Pinheiro relatou, em sua proposta de acordo de delação, que Aloysio teria pedido propina a campanhas do PSDB em troca da liberação de recursos de obras em São Paulo”.

Resta agora acompanharmos as próximas cenas e episódios dessa trágica novela que tem arrependidos, culpados, inocentes, justiceiros e bandidos e espertalhões ainda na vida pública.

Leia abaixo na íntegra a nota de resposta de Gilmar Mendes:

"Dadas as palavras de um ex-procurador-geral da República, nada mais me resta além de lamentar o fato de que, por um bom tempo, uma parte do devido processo legal no país ficou refém de quem confessa ter impulsos homicidas, destacando que a eventual intenção suicida, no caso, buscava apenas o livramento da pena que adviria do gesto tresloucado. Até o ato contra si mesmo seria motivado por oportunismo e covardia.

O combate à corrupção no Brasil - justo, necessário e urgente - tornou-se refém de fanáticos que nunca esconderam que também tinham um projeto de poder. Dentro do que é cabível a um ministro do STF, procurei evidenciar tais desvios. E continuarei a fazê-lo em defesa da Constituição e do devido processo legal.

Confesso que estou algo surpreso. Sempre acreditei que, na relação profissional com tão notória figura, estava exposto, no máximo, a petições mal redigidas, em que a pobreza da língua concorria com a indigência da fundamentação técnica. Agora ele revela que eu corria também risco de morrer.

Se a divergência com um ministro do Supremo o expôs a tais tentações tresloucadas, imagino como conduziu ações penais de pessoas que ministros do Supremo não eram. Afinal, certamente não tem medo de assassinar reputações quem confessa a intenção de assassinar um membro da Corte Constitucional do País.

Recomendo que procure ajuda psiquiátrica.

Continuaremos a defender a Constituição e o devido processo legal."