Derrotado na disputa pela Presidência da República, o petista Fernando Haddad deu a sua primeira entrevista, na Folha de S. Paulo, após o segundo turno.
Ele fala sobre passado, presente e futuro. Promete que vai participar de uma frente em defesa dos direitos civis, trata sobre extrema direita, Ciro, Marina, Lula.
Haddad encerra a entrevista exatamente com esta frase: “Porque na política ninguém perde a guerra. Não existe a guerra, com começo, meio e fim. É só batalha. Uma atrás da outra.”
Leia abaixo algumas frases da entrevista concedida a Mônica Bergamo.
Há dois anos, eu te dei uma entrevsita. E talvez tenha sido um dos primeiros a dizer: “É muito provável que a extrema direita tenha espaço na cena política nacional”.
Está havendo, portanto, um quiproquó: os EUA negam o neoliberalismo enquanto não nos resta outra alternativa a não ser adotá-lo.
Está claríssimo que, se não tivessem condenado o Lula num processo frágil, que nenhum jurista sério reconhece como robusto, ele teria ganhado a eleição. Eu fiz 45% dos votos [no segundo turno]. Ele teria feito mais de 50%.
O PT é um player no sentido pleno da palavra. É um jogador de alta patente, que sabe fazer política. Sabe entrar em campo e defender o seu legado.
O PDT [de Ciro] é um partido de esquerda, “pero no mucho”.
Entendo que devemos trabalhar em duas frentes: uma de defesa de direitos sociais, que pode agregar personalidades que vão defender o SUS, o investimento em educação, a proteção dos mais pobres. A outra, em defesa dos direitos civis, da escola pública laica, das questões ambientais.
No Brasil está sendo gestado o que eu chamo de neoliberalismo regressivo, decorrente da crise econômica. É uma onda diferente da dos anos 1990. Ela chega a ser obscurantista em determinados momentos, contra as artes, a escola laica, os direitos civis.
Eu permaneci à frente do MEC por oito anos. As expressões "ideologia de gênero" e "escola sem partido"não existiam. Era uma agenda de ninguém. Ela foi criada, ou importada, como um espantalho para mobilizar mentes e corações.
Quando um presidente eleito vem a público num vídeo dizer que os estudantes brasileiros têm que filmar os seus professores e denunciá-los, você está em uma democracia ou em uma ditadura?
Eu acredito que o Lula pós-eleição está num momento mais difícil. Mas a capacidade de regeneração dele é grande. Já superou um câncer, a perda da esposa, a privação de liberdade.
E há estudos mostrando que, se eu tivesse no mundo evangélico o mesmo percentual de votos que tive no mundo não evangélico, eu teria ganho a eleição.
Assim como no final da ditadura foi possível abrir um canal de diálogo com a Igreja Católica, a esquerda tem agora o desafio de abrir um canal com a igreja evangélica, respeitando suas crenças.
Com toda a sinceridade: vivi um momento tão rico que foi o que menos importou. Não que eu não tenha lamentado o Ciro não ter ficado no Brasil ao meu lado.
Leia a entrevista na íntegra aqui.