Na era das redes sociais como principais ferramentas de comunicação, vários profissionais encontram nelas as oportunidades ideais para se aproximarem de seu público-alvo. Isso acontece também na medicina e, nesse caso, o cuidado de lado a lado deve ser redobrado. O alerta foi dado pela Sociedade Brasileira de Dermatologia (SBD), depois dos casos de repercussão nacional envolvendo médicos celebridades e até falsos médicos em procedimentos estéticos que culminaram na morte de pacientes.
Para a entidade, a internet deve ser usada como instrumento de orientação e promoção da saúde. O sucesso nas redes sociais (medido pelo número de curtidas, seguidores, etc.) e os populares “antes e depois” não devem ser critérios de escolha de um profissional para realização de procedimentos estéticos. O “antes e depois”, inclusive, é uma prática proibida pelo Conselho Federal de Medicina (CFM).
Em entrevista ao CadaMinuto, a médica dermatologista Cleide Vieira, que atua em Alagoas, reforça a importância do alerta da SBD: “Quando buscamos um profissional, temos que procurar referências. A melhor propaganda é o boca a boca, de algum parente, amigo, de alguém que já se consultou ou realizou algum procedimento com aquele profissional. É preciso ter muito cuidado com as mídias, com a internet, porque hoje você coloca o que quer nas redes”.
Cleide Vieira lembra que o médico, nesse caso específico, o dermatologista, não está vendendo um produto qualquer. “Trata-se de um serviço que exige muita cautela. A gente vê muita propaganda, principalmente nas redes sociais, e as pessoas se deixam influenciar por número de seguidores e postagens de ‘antes e depois’, que são proibidas”.
Para ela, além de buscar referências, antes de marcar qualquer procedimento, o paciente precisa ir a uma primeira consulta, avaliar as instalações e pesquisar, no site da SBD (www.sbd.org.br) e em outros portais, como o da Sociedade Brasileira de Medicina e Conselho Regional de Medicina de Alagoas, por exemplo, se o médico possui realmente especialização naquela área em que apresenta.
“Muitas vezes médicos sem especialização se intitulam especialistas, principalmente no interior. O paciente também precisa se resguardar. Um procedimento é algo que pode ter complicações, intercorrências, até quando efetuado por alguém totalmente habilitado, imagine quando feito de qualquer jeito. Saúde não é brincadeira. Tem que ter muito cuidado”, finaliza.
Cautela
Por meio da assessoria de Comunicação da SBD, o vice-presidente da entidade, Sergio Palma, recomenda “ter cautela, não acreditar em tudo que é oferecido na Internet e evitar se submeter a qualquer tipo de procedimento ou serviço médico sem que haja antes uma consulta completa em ambiente adequado, com realização da anamnese e do exame físico para que não haja danos e riscos à saúde. Esses são os princípios básicos para não confiar a vida em mãos erradas”.
A entidade alerta também sobre a oferta indiscriminada de serviços médicos em sites de compras coletivas, prática proibida, e anúncios na internet onde são oferecidos pacotes e promoções visando estabelecer um diferencial na qualidade dos serviços. “Que profissional é esse que precisa fazer sensacionalismo e autopromoção para conquistar pacientes? Essa é uma reflexão que a SBD sugere que todos façam na escolha do profissional que cuidará da sua saúde”, conclui.
Guia de Boas Práticas
Paralelamente ao alerta dado a médicos e pacientes, a SBD lançou o Guia de Boas Práticas nas Redes Sociais, com orientações para os dermatologistas sobre o uso responsável das redes, tendo como referência as orientações e normas estabelecidas pelo Conselho Federal de Medicina (CFM).
“Esperamos que a cartilha sirva de apoio para todos os dermatologistas. Importante não perder de vista que os conteúdos que compartilhamos, bem como nossa postura, acabam nos diferenciando qualitativamente. Ao observar os critérios definidos pelo CFM, o médico estará valorizando a conduta ética e adequada em sua relação com os pacientes e com a sociedade. Certamente será um subsídio importante”, conclui o vice-presidente da SBD.
Danos irreparáveis
Há pelo menos dois anos, a Relações Públicas Fernanda Maria (nome fictício, a pedido da entrevistada) tem que conviver com o resultado da escolha equivocada de um profissional para realização de um procedimento estético: um preenchimento facial com o PMMA (polimetilmetacrilato).
Ela não sabia que, por não ser absorvível pelo organismo, o material caiu em desuso há alguns anos e não é recomendado para fins estéticos desde 2006, pela Sociedade Brasileira de Cirurgia Plástica (SBCP).
“Escolhi a profissional pelo sucesso dela nas redes, pelas fotos e promessas maravilhosas e pelo preço tentador. Confesso que não procurei referências. Confiei apenas no que vi na internet, esquecendo inclusive que, na mesma internet, há inúmeras fotos também de ‘antes e depois’ de procedimentos desastrosos e, algumas vezes, impossíveis de corrigir”, desabafou a RP.
Após fazer uma bioplastia para dar volume aos lábios e as maçãs do rosto, Fernanda sofreu com inchaços e nódulos nas regiões. Ela acredita que o fato da quantidade do produto utilizado ter sido pequena, não teve problemas maiores além do dano estético, discreto, perto do que já viu em outras pacientes, ou “vítimas”, como denominou.
“Não é algo gritante, que chame a atenção dos outros, mas me incomoda e é desagradável ao toque. Estou reunindo coragem e dinheiro para tentar retirar o produto, por meio de uma cirurgia. Se tem um conselho que posso dar é o seguinte: não caia no canto da sereia, porque os danos podem ser irreparáveis”, desabafou.