Sou uma BICHA nordestina. De Alagoas, um dos lugares mais pobres do Brasil, filho de pedreiro e vendedora de tecido.

20/08/2018 15:15 - Eu, Mulher Trans
Por Sophia Braz
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E o jornalista alagoano Márcio Anastácio escreve:

Sem saber de onde eu vim e quem eu sou disseram certa vez que eu precisava RECUAR. Não sabiam que, ao arrombar a porta do armário, o meu caminho era o de AVANÇAR. No sudeste do Brasil, as pessoas sempre sabem de tudo. Estão a frente de todos os debates. Ao chegar aqui, com a minha força de trabalho, com a vontade de construir e sem medo de avançar, fiz logo desafetos que me olham torto, que me difamam pelas esquinas da zona sul e dizem que eu preciso recuar. Só que infelizmente, retroceder não está no meu horizonte. Antes de querer me afrontar, as pessoas deveriam procurar saber de onde eu vim, que eu tenho um sorriso leve, mas os pés que, arrastando poeira, já caminhou um bocado. Sou uma BICHA nordestina. De Alagoas, um dos lugares mais pobres do Brasil, filho de pedreiro e vendedora de tecido. A minha família é constituída em sua maioria por pessoas simples onde poucos conseguiram concluir o ensino médio. Sempre fui deserespeitado, humilhado e deixado para atrás. Com muito esforço, sem apoio de ninguém, virei o jogo. Depois de varios horas por dia tentando recuperar o meu ensino medio deficiente em escola público. Me formei Jornalista e, só assim, tive um pouco de respeito das pessoas q estavam em minha volta ( É viado, mas pelo menos tem faculdade). Fui produtor, repórter, editor e colunista. Ano passado estive entre os 100 Jornalistas mais premiados do Brasil. Já venci 7 prêmios de Jornalismo, entre eles o MPT de Jornalismo, um dos mais importantes da America Latina. Mas nada disso me importa, pq eu quero mesmo é estar na luta pela garantia de direitos da população LGBT. Mas é incrível, esse povo só briga. E aqui no Rio, é impressionante, ninguém presta, e os que trabalham prestam menos ainda. O que me deixa tranquilo, as vezes, é saber que a minha disposição pra estar na linha de frente contra a lgbtfobia é saber que tem muita gente que precisa dessa energia de luta. NÃO RECUAREI. Nenhum passo atrás será dado e quem achar ruim entre na fila e pegue a ficha 24.

 

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