Diz o professor de ciência política da Universidade Federal de Pernambuco, Marcos André Melo, que as coalizões se tornaram arranjos degenerados entre políticos e seus meros interesses de sobrevivência sistêmica.
Ele cita o premiê britânico Disraeli: “os ingleses detestam coalizões”, mas emenda com o ex-premiê alemão Willy Brandt: “soa como ato sexual pervertido” (leia aqui).
Pode ser. E até parece que tal perversão aumentou ainda mais, por essas bandas, desde a redemocratização. As coligações e composições para ocupação de cargos de um governo – em todos os níveis, representam tal promiscuidade.
São vários os casos. No Ceará, por exemplo, o PT decidiu, por 200 votos a 70, que o partido não vai indicar nenhum nome para compor chapa com o governador Camilo Santana, do mesmo partido. Portanto, não terá candidato ao Senado, abre mão da vaga atualmente ocupada pelo senador José Pimentel para favorecer a aliança entre o governador do PT e o senador Eunício Oliveira (MDB).
Ora, e quem é Eunício? Presidente atual do Senado, votou pelo afastamento da presidente petista Dilma Russeff e é aliado do presidente Temer. Tudo bem que o tempo de Pimentel pode ter passado, não tem mais votos, etc, etc. Mas abrir mão de um cargo que já ocupa por um acordo com um – como dizem os petistas -, golpista, não será demais? Bom, o senador Pimentel disse em nota que essa decisão “possibilita o fortalecimento dos setores que hoje atacam as conquistas sociais, retirando direitos de quem mais precisa. As consequências dessa decisão serão históricas e percebidas a partir de 2019”.
A degeneração, como diz o professor pernambucano, não para por aí. Segundo o Jornal de Alagoas (leia aqui), o PT estadual avalia pra quem vai dar o segundo voto para o Senado, o que ficou em aberto na convenção realizada. Fiquei pasmo, mas não surpreso, pois pode ser para Maurício Quintella (PR), ex-apoiador de Dilma, trocou de lado, votou pelo impeachment e virou ministro e aliado de Temer.
“Vamos definir estas questões até 5 de agosto. Quanto ao segundo voto para o Senado, vamos avaliar a possibilidade de apoiar o Maurício Quintella (PR), em função da participação dele na coligação do governador Renan Filho. Mas essa é uma questão que está aberta e depende de uma conversa com ele”, disse Ricardo Barbosa, presidente do PT.
Pra não dizerem que falei apenas do PT, essas ‘negociações’ ocorrem ainda mais em outros partidos. Um exemplo é no Piauí. O senador Ciro Nogueira, presidente nacional do PP, faz parte do grupo do governador Wellington Dias (PT), foi Dilma, é Temer, apoia Geraldo Alckmin para presidente e pode indicar uma mulher como vice do presidenciável paulista. Mas já declarou que se Lula puder ser candidato votará no ex-presidente.
Pode isso? Pode, claro.
Por isso repito a frase do professor Marcos André: “as coalizões se tornaram arranjos degenerados entre políticos e seus meros interesses de sobrevivência sistêmica”. E esse arranjo “soa como ato sexual pervertido”.
É possível.
Mas é uma degeneração-perversão que dá ‘lucro-poder’. É o jogo do milhão.
“Quem quer dinheiro?”