O parto é o momento mais esperado de uma gravidez e as mães sempre desejam que o nascimento do bebê seja de forma leve, segura e confortável. Por este motivo, muitas mulheres acabam buscando o parto humanizado. Neste parto, a mulher se sente segura, emocionalmente e clinicamente, tendo sua vontade respeitada e não sendo obrigada a passar por intervenções médicas desnecessárias. Ele busca proporcionar às grávidas e aos seus filhos o máximo de conforto e segurança.
O parto humanizado começou a ser mais procurado após relatos de violência obstétrica que é quando há abusos físico, sexual, verbal ou a ausência de acompanhantes durante o parto da mãe, a falta de estrutura nos hospitais ou até mesmo o preconceito.
Devido aos casos de violência, a reportagem do Cada Minuto conversou com doulas que auxiliam no processo da gestação e alagoanas que tiveram a experiência com o parto humanizado.
Segundo a doula, Caroline Guedes, muitas pessoas pensam que o parto humanizado só acontece na água, na banheira, em casa, mas na verdade o parto é aquele em que os profissionais de saúde tratam a mulher com respeito, como um ser humano que tem desejos e sentimentos.
"Toda a condução do parto é realizada de acordo com os desejos da mulher, tudo é orientado, ela tem conhecimento do que está acontecendo. O ideal é que essa preparação aconteça durante a gestação, já no pré-natal o profissional de saúde explique os tipos de partos, os benefícios de cada um, o que é que acontece neles, os riscos de cada procedimento e assim essa mulher possa escolher o parto em que se sinta mais segura", explicou Caroline.
A assistente social Rafaelly Lima contou à reportagem que passou por violência obstétrica no seu primeiro parto que trouxe sequelas. “Eu tive o meu primeiro filho há 10 anos, em um cenário totalmente diferente aqui no Brasil, foi pelo Sistema Único de Saúde (SUS) e eu não fui respeitada, era muito jovem, do interior, não pude escolher nada e nem me negar a passar por procedimentos porque eu não sabia se eram necessários ou não", comentou.
Além disto, para Rafaelly, o parto foi muito sofrido, não só pela dor física, mas psicológica. "Foi em um local que eu não conhecia ninguém, não pude ter acompanhante, não sabia se a dor que estava sentindo era normal, não sabia que tinha o direito de escolher como ter meu filho. Hoje a gente tem uma gama de informações e quando decidi engravidar pela segunda vez procurei me informar o máximo possível", enfatizou.
Na segunda gravidez, Rafaelly buscou informações sobre o parto humanizado e para ela, foi a melhor decisão. "No início, queria ter no hospital com um médico escolhido por mim, que atendesse meus pedidos, mas a gente sabe que aqui a cultura obstétrica é da cesariana porque é muito mais fácil e simples para os médicos. Durante a gestação troquei de médico três ou quatro vezes porque via que não eram médicos a favor do parto humanizado, não priorizavam o parto normal".
A assistente social optou em ter o filho em casa, mas explicou que no começo, teve medo de que acontecesse algum problema. "Acabei desmistificando esse medo por ver que tinha como chegar ao hospital caso acontecesse algo. A gente sabe que pra ter um parto tranquilo precisa ter uma equipe humanizada, e no hospital isso ainda é muito difícil, então me preparei e tive em casa. Foi a melhor experiência do mundo, com minha família toda em casa, com o apoio de várias doulas e a equipe de parto”, ressaltou.
Doula: mulher que serve
Mas, algumas mulheres ainda desconhecem o que significa Doula e qual a função dela para o parto humanizado. A doula é uma profissional treinada para dar apoio físico e emocional à gestante, antes, durante e depois do parto, em tudo o que ela precisar. Durante a gestação, ou mesmo desde antes da concepção, ela pode orientar o casal sobre o que esperar da gravidez, do parto e pós-parto. Ela ajuda a mulher a se preparar para o parto, das mais variadas formas. Com isso, a presença da doula vem sendo cada vez mais requisitada por parturientes em todo o país.
“Doula ainda não é tida como uma profissão no Brasil, mas sim um ofício, uma ocupação. O acompanhamento da doula já começa no período da gestação, quando orienta a gestante sobre tudo que acontece, auxilia na construção do plano de parto, e também faz coisas alternativas, como pintura na barriga, barriga de gesso, que ajudam a mulher, principalmente na reta final, a diminuir a ansiedade, se aproximar mais do bebê. Aí ela acompanha todo o trabalho de parto, dando todo o suporte necessário, orientando os exercícios que podem facilitar o trabalho do parto, e depois auxilia no pós-parto”, afirma Caroline.
Para a doula, o assunto ainda não é muito discutido no Brasil. "É uma luta mesmo para que as mulheres, que querem, realmente, ter um parto normal, consigam um parto respeitoso, não sejam enganadas pelos profissionais. Antes de fazer o curso, vi vídeos de parto humanizado na internet e achei muito diferente da visão que eu tinha sobre o parto, pensava que era algo muito doloroso e difícil”, conclui.
A artesã e estudante de enfermagem, Cristina Ribeiro, contou que no primeiro parto teve a ajuda de doulas. “No meu primeiro parto tive quatro doulas e amigas incríveis comigo. Terminou em uma cesariana, mas eu nunca esqueci como fui tratada por elas, me senti muito amada, uma rainha. Depois do meu parto, a Carol [doula] foi me visitar e aí eu perguntei como era e comecei a me interessar pelo ofício. Fiz o curso oito meses depois do nascimento do meu primeiro filho, em 2015, e acabei percebendo que eu já tinha ‘doulado’ várias mulheres, eu já era doula e não sabia”.
"Eu mergulhei de cabeça, estudei não apenas o que a doula faz, mas a parte médica mesmo, o linguajar, para traduzir o que os médicos falam e muitas vezes as mulheres não entendem. Então, estudei mesmo, li muitos artigos e quando eu fiz o curso, várias meninas disseram que eu fiz só pra ter o certificado, mas na verdade o curso foi um divisor de águas na minha vida. Existe a Cris Ribeiro antes do curso de doula e a Cris Ribeiro depois do curso”, afirma Cristina.
Segundo ela, a emoção de ver uma criança nascer é explicável e a cada parto, a sensação de felicidade invadia seu coração. "O primeiro parto que eu acompanhei fiquei encantada, chorei, fiquei apaixonada. A cada parto, chegava em casa chorando e agradecendo a Deus pela oportunidade porque cada parto é único para aquela mulher e muitos profissionais chegam a falar que já viram diversas vezes e já estão ‘acostumados’, mas cada mulher tem um filho de um jeito. Por isso que a gente tenta mudar esse cenário, para que cada bebê nasça com respeito e amor, da forma que a mãe se sentir mais confortável, e essa mudança é dando conhecimento e informação pras mulheres”, explica.
Formação de doula
Todas as pessoas que tenham interesse e mais de 18 anos podem buscar o curso de formação de doulas. Caroline explica que a formação é por meio de cursos que devem ter carga-horária e certificação adequada, de pelo menos 40h. Após a capacitação, a doula já pode começar a atuar.
*Estagiária