Já ouvi dizer que amizade só se faz com o tempo ou depois que se come uma barrica de sal juntos. No meu caso não foi o tempo, e muito menos comi sal para ser amigo de Luiz Carlos Figueiredo, jornalista e escritor paulista, e de sua companheira Janaina Amado.
Ao tomar conhecimento do seu falecimento, a tristeza se apoderou de mim. Entrei no Facebook e vi algumas fotografias com registros de momentos em que estivemos juntos. Reenviei a mensagem para Isabela, minha filha, falei para Vânia, minha companheira, e para mais quatro ou cinco amigos comuns.
Fui lembrando ocasiões engraçadas, bem-humoradas e de como ele era solidário. Lembrei-me, logo, de uma fase de minha vida, aqui em Maceió, em que fiquei desempregado, e Luiz Carlos, ao saber, sem meias palavras, me perguntou: “Você está precisando de alguma coisa? Tá sem dinheiro, fale, não fique acanhado. Se precisar, me fale”.
Disse-lhe que estava tudo sob controle. E por várias vezes ele me fez a mesma pergunta. Era uma preocupação de amigo, de amigo muito fraterno.
Minha filha não é batizada; isso, por algum tempo, era uma coisa que incomodava, não o fato em si, mas a insistência de minha mãe. Como pode uma menina crescer sem o batismo? O velho catolicismo de guerra da minha mãe de um lado e o meu ateísmo juramentado do outro.
O tempo passou, e eu brincava com Isabela que iria escolher um casal para que fossem os padrinhos dela. Para aporrinhá-la, apontava nomes de pessoas que ela considerava chatas. Isso a irritava.
Mas, certo dia, falando sério, pedi para ela escolher os padrinhos da sua preferência, pois não haveria ato litúrgico nenhum a não ser que fosse da sua vontade.
Isabela escolheu Janaina e Luiz Carlos. Eu nunca falei isso para o casal. Hoje, sinto-me na obrigação moral de revelar. Além de reconhecer o quanto os dois influenciaram na formação de Isabela e como aquela adolescente ficava ligada a eles, sentindo-se ouvida e tendo suas opiniões respeitadas em meio às nossas conversas.
Tudo isso e outras tantas atitudes de Luiz Carlos e Janaina me fizeram tão bem que eles nem imaginam.
O que eu estou sentindo é a perda física de um amigo ‒ mais que amigo, um irmão.
Que a terra lhe seja leve, camarada.
Beijos para Janaina, Bernardo e Janice.