Para entender o presente é preciso, sempre, olhar o passado. É dessa forma que o analista político Marcelo Bastos avalia historicamente o marasmo que tomou conta da oposição em Alagoas desde que o prefeito Rui Palmeira anunciou que não vai renunciar ao seu mandato para disputar o governo de Alagoas.

Antes, uma observação: Rui tem razões e discurso que justificam a sua decisão. Afinal era o único do campo oposicionista que tinha o que perder em caso de derrota, uma vez que teria obrigatoriamente que renunciar ao mandato. Além disso, comanda o município mais importante do estado e quando concluir a gestão terá outras eleições para enfrentar, seja para governador, senador, deputado federal, estadual e até prefeito de novo.

Dito isso, volto ao Marcelo. Ele lembra que a grande questão atual da oposição e dos políticos é a falta de ousadia e lembra que em tempos mais antigos, 1986, Ronaldo Lessa tinha como certa a sua reeleição para deputado estadual. Mas não foi candidato. Abriu mão para disputar o governo de alagoas contra os gigantes da época: Fernando Collor e Guilherme Palmeira. Sem estrutura, Lessa teve apenas cerca de 30.073 votos, 3,97%. Muitos apostaram no seu fim político.

Porém, a candidatura dele deu oportunidade aos alagoanos de poder votar em uma terceira opção naquele pleito. Ou seja, nem Collor, nem Guilherme. Depois da fragorosa derrota, em 1992 virou prefeito de Maceió e mais adiante govenador por oito anos, de 1998 até 2006. Portanto, “ousadia é pra poucos”, afirma Marcelo Bastos.

Principal nome citado até o momento para substituir Rui Palmeira, o deputado estadual “Rodrigo Cunha não seria o Ronaldo de 1986, que não tinha o apoio de praticamente ninguém”, crava Bastos.

Se naquela época os apoios se dividiam entre Guilherme Palmeira e Fernando Collor, inclusive por parte das esquerdas - caso do PCdoB que ficou com Collor -, Cunha teria tempo de TV, estrutura partidária, apoio de detentores de mandato no âmbito estadual e federal, inclusive no Senado.

“Se a oposição não tiver candidato ao governo do tamanho de um Rodrigo Cunha da vida será uma desmoralização”, conclui Marcelo Bastos.

Bom, eu daqui sugiro mais uma opção para disputar com Renan Filho: Teotonio Vilela, ex-governador e ex-senador. Como candidato defenderia o seu legado.

E você, caro leitor, concorda que falta ousadia aos oposicionistas?

Que não ter um candidato competitivo é desmoralização?

Vilela seria um bom candidato para defender os seus oito anos de gestão?

EM TEMPO - Do conceituado companheiro Edberto Ticianeli, testemunha do período citado no texto acima, recebi a análise que compartilho abaixo com os leitores deste blog:

Caro Voney,

Como considero que você vem fazendo um excelente trabalho de análise política, achei que fazer as observações abaixo sobre sua última postagem poderia ajudar a entender melhor o que foi o episódio envolvendo Ronaldo Lessa que o meu amigo Marcelo identificou como ousadia e seus resultados.

1. Ronaldo Lessa foi eleito em 1982, com um pouco mais de 10.000 votos (votação semelhante as de Eduardo Bomfim e Selma Bandeira), em momento muito particular das eleições alagoanas. Foi um momento em que os eleitores votaram nos proporcionais em clara manifestação contra a Ditadura. Nessa leva, tanto a Assembleia quando a Câmara de Maceió receberam representações expressivas dos segmentos de esquerda aninhados no PMDB. Eu fui um deles;

2. Para as eleições de 1986, as condições políticas tinham sido alteradas e a dicotomia “democracia x ditadura”, representada eleitoralmente pelo conflito “PMDB x Arena”, tinha dado lugar a dezenas de partidos e levado o eleitorado de volta à “lógica tradicional”.

3. Assim avaliando, não há como se concluir que Ronaldo tinha como certa a sua reeleição em 1986. Pode-se utilizar como referência o que aconteceu dois anos depois na Câmara, quando a esquerda elegeu somente dois vereadores: Ronaldo Lessa e Enio Lins, ambos com votações próximas dos mil e quinhentos votos. Freitas Neto, Fernando Costa, Kátia Born e Jarede Viana foram derrotados. Eu não fui candidato, cedendo a vaga na chapa ao Enio, e o Guilherme Falcão, não lembro se disputou as eleições;

4. Em 1992, quando a polarização na disputa para a prefeitura se dava, desde o início, entre Theo Vilela e José Bernardes, a candidatura de Ronaldo Lessa e a sua consequente vitória não podem ser consideradas como resultado da “ousadia” de 1986, na minha modesta opinião.

A sua candidatura era tão inexpressiva no início das articulações políticas, que uma comissão o procurou para oferecer o espaço de vice na chapa de Theo Vilela. Ele recusou argumentando que a sua candidatura vinha da constatação que não conseguiria manter o mandato de vereador e que estaria retornando ao Rio de Janeiro para voltar a trabalhar como engenheiro. A sua candidatura a prefeito era uma espécie de saída por cima.

5. O que levou Ronaldo a vencer os dois candidatos inicialmente mais bem situados nas pesquisas foi o discurso contra Collor, então presidente da República e que vinha sendo “dinamitado” diariamente pela Rede Globo.

Ronaldo nacionalizou o discurso e disparou nas pesquisas. Enquanto isso, tanto Theo Vilela, quanto José Bernardes ficavam sem ter o que dizer, impossibilitados de se contraporem a Collor com a mesma desenvoltura de Ronaldo Lessa.

Foi outro momento muito particular da política alagoana. Novamente a esquerda consegue grandes espaços explorando questões da política nacional. A vitória de Ronaldo Lessa deu início a um ciclo importante da política alagoana.

Eram essas as considerações, meu caro Voney.

Um abração e parabéns pelo seu bom trabalho.

Edberto Ticianeli, jornalista.