Penedo e seus encantos

07/02/2018 16:38 - Geraldo de Majella
Por Redação
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O navegador florentino Américo Vespúcio (1454 – 1512) encontrou o rio São Francisco em 4 de outubro de 1501. Pelo calendário litúrgico, era o dia de são Francisco de Assis. O rio São Francisco dos colonizadores era um velho conhecido dos indígenas, que o chamava de Opara, o que em sua língua tinha o significado de “o rio”.     

Vespúcio, que vinha de batizar o cabo de Santo Agostinho, o rio São Miguel, e seguiu viagem no rumo sul, foi batizando sucessivamente os diferentes rios e acidentes geográficos encontrados na costa recém-descoberta que séculos depois viria a ser o estado de Alagoas.

O português Duarte Coelho Pereira, primeiro donatário da Capitania de Pernambuco e fundador de Olinda ‒ uma joia barroca ‒ em 10 de outubro de 1555, navegou pelo rio São Francisco com as suas embarcações até onde hoje é a cidade do Penedo, meio século depois de Américo Vespúcio.

Duarte Coelho pegou o rumo sul da capitania de Pernambuco com os seus navios e gente trazida de Portugal para ocupar o território.

Porto Calvo é o primeiro polo de povoamento ao sul de Olinda onde os primeiros colonos foram deixados; o donatário seguiu viagem e, mais adiante, adentrou as duas lagoas, hoje, Mundaú e Manguaba.

A segunda leva de colonos desembarcou para constituir o povoamento de Santa Maria Madalena da Lagoa do Sul, depois Vila de Alagoas, primeira capital da província de Alagoas, em 1817, hoje Marechal Deodoro.

O terceiro polo viria a ser constituído à margem esquerda do rio São Francisco, na divisa da capitania de Pernambuco com a da Bahia. Por fim, outro grupo de colonos e suas famílias desembarcaram e fundaram o povoado, que já se chamou de Vila de São Francisco (1636) e Vila do Penedo, denominações encontradas em assentamentos coloniais em 1704. A partir de 1842, é elevada à condição de cidade do Penedo, como relatou José Prospero Caroatá em seu texto Crônica do Penedo, de 1872.

A Penedo barroca, construída à beira-rio e entre ladeiras, é de origem e formação portuguesa, mas entre 1637 e 1645 foi dominada pelos holandeses ‒ era um pequeno burgo, com apenas 82 anos de existência e uma localização estratégica.

O conde Maurício de Nassau, em visita ao sul da capitania, ordenou a construção de uma fortificação para se proteger de invasões e a denominou de Forte Maurício.

Ao regressar a Olinda, Maurício de Nassau deixou cerca de 1.600 homens com armas e munição sob o comando do general Segismundo. O território é conquistado. Vencida a resistência dos portugueses, os holandeses permaneceram até 1645, quando os lusos retomaram o território, expulsando-os.   

Há em Penedo marcas históricas dos portugueses e dos holandeses. A arquitetura barroca de suas igrejas e o casario colonial, passados tantos anos e mesmo sofrendo com o descaso dos governantes, ainda assim acha-se consideravelmente conservada, tendo grande valor e significância como patrimônio histórico nacional. É um exemplar único em Alagoas, irmã de Olinda aqui no Nordeste.

Passados 463 anos de quando teve início o povoamento de Penedo, seus moradores e os visitantes têm ido às ruas nos últimos dez anos, descendo e subindo ladeiras, fantasiados, dançando frevo e seguindo o bloco Ovo da Madrugada. Os becos e as ruas estreitas de paralelepípedos, lotados de foliões, acompanham bandas que tocam marchinhas e frevos.

O artista plástico Cícero Tadeu Gomes, o Tadeu dos Bonecos, sergipano nascido em Neópolis, e que quando criança foi morar em Olinda, na escola aprendeu a fazer esculturas de papel. Aos 13 anos voltou para morar em Penedo com a família.

Em Penedo começou a fazer burrinhas de papelão, aperfeiçoou o estilo até chegar a confeccionar os bonecos gigantes. Já perdeu a conta de quantos bonecos gigantes fabricou; ganhou notoriedade por ser o autor do maior boneco do Brasil, o Galeante da Noite, com 4,5 metros de altura.  

O talento desse artista plástico e a beleza da cidade dão um ar diferente ao carnaval de Alagoas. O pôr do sol sobre o rio visto do hotel São Francisco ou da Rocheira, caminhar pelas ruas observando os detalhes das construções centenárias, entrar e me demorar sem tempo determinado em suas igrejas, a de Nossa Senhora das Correntes, juntamente com o Convento Franciscano de Nossa Senhora Maria dos Anjos, são as minhas atividades preferidas.

Não é dado o direito de ter nascido em solo alagoano, viver e não ter ido uma vez sequer a Penedo. Por certo, se assim fizer, o temente a Deus não entrará no Céu, e se entrar, será de cabeça para baixo.

A folia de Momo é uma celebração do corpo, do prazer e da alma. Para isso eu quero ir sempre ao Penedo das Alagoas: ver e rever os seus cantos, ruas, becos e ladeiras que tanto me encantam.

 

     

 

 

 

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