Os planos de desenvolvimento encomendados às consultorias privadas pelos governos de Alagoas, nas últimas décadas, estão nas prateleiras ou armazenados em algum computador.
Alagoas tem belezas naturais, mar, lagoas e sol. Tem o rio São Francisco. A vocação de Alagoas é o turismo. É um mantra dito durante esses anos e por muitos gestores, gente capaz e bem remunerada pelos trabalhos realizados.
A agricultura familiar não faz parte desses estudos, para ser justo é mencionada en passant, em alguns “estudos”, nada mais que isso.
A Escola Técnica de Satuba (agrotécnica) completou 100 anos de existência, ao longo de um século tem formado técnicos para a agricultura familiar e o agronegócio alagoano e nordestino.
O censo agropecuário diz existir em Alagoas 126 mil agricultores familiares. É um dado para ter como referência, pensar pelo menos.
Antes no boom do Proálcool, na década de oitenta e noventa, essa mão de obra era formada para trabalhar nas usinas de açúcar e para os plantadores autônomos de cana de açúcar. A modernização e a utilização de tecnologias reduziu o mercado de trabalho para esses profissionais.
O Programa Nacional de Reforma Agrária que pertence ao INCRA e o Programa Nacional do Crédito Fundiários, em Alagoas, gerenciado pelo Instituto de Terras e Reforma Agrária de Alagoas (ITERAL), dispõem, somados de aproximadamente 190 mil hectares de terras e de cerca de 18 mil famílias assentadas.
Esses dois programas e os demais agricultores familiares necessitam de assistência técnica pública permanente para melhorar a qualidade, a produtividade e a comercialização dos produtos no mercado alagoano.
Não há assistência técnica, visto que não há política pública para tão importante setor da economia do estado.
A explicação que encontro é a de que manter o atraso é uma política de Estado. A agricultura familiar como se encontra, fora do mapa econômico e da “agenda de desenvolvimento” é um dos pilares do discurso ideológico da elite política e econômica.
O tratamento dispensado aos agricultores familiares e como se fosse um estorvo, para os governantes, basta destinar alguns quilos de sementes que germinam apenas 50%, é o suficiente para propagar que o agricultor familiar recebe o apoio do governo. Mas no intramuros são mantidos na condição de excluídos e com a “pecha” maldita de sem terra, baderneiros, invasores de terras.
A secretaria estadual de agricultura tem cerca de 1000 técnicos e por que não consegue apresentar um projeto bem sucedido de agricultura familiar?
Por um motivo trivial: falta Estado.
O Estado foi quebrado pela elite política e econômica e a conta ficou para a população, e os mais pobres estão pagando com a desassistência.
A agricultura familiar é capaz de gerar emprego direto e indireto, inclusão social, cresce a renda local, produz produtos com preços acessíveis.
Em Alagoas o capitalismo não prospera a não ser que seja subvencionado pelo Estado, mais aí é para os ricos.
Manter Alagoas no atraso é política de Estado.