Réquiem para o PSB

12/01/2017 09:38 - Geraldo de Majella
Por redação

 

Em verdade não existem partidos políticos no Brasil com princípios e compromissos; existem frentes onde cabem todos os segmentos ideológicos, onde convivem direita e esquerda no vaivém dos interesses pessoais. Não são partidos, são siglas que se intitulam democráticas, trabalhistas, social-democráticas,liberais, socialistas, sem que tais denominações tenham a ver com tomada de posição, razão de luta ou de governo, uma desfaçatez. Jorge Amado, Navegação de Cabotagem, p.38.    

 

            A crise política, econômica e ética instalada no Brasil nos últimos anos tem sido debitada na conta do Partido dos Trabalhadores (PT), como sócio majoritário da ampla aliança de centro-esquerda construída para a eleição vitoriosa da chapa Lula-José Alencar, em 2002. A eleição foi decidida no segundo turno, entre Lula e José Serra (PSDB).         

A formação do governo de centro-esquerda teve como programa básico a Carta aos Brasileiros, sinal claro de vontade e desejo de aproximação do PT com o empresariado nacional, os banqueiros e as classes médias. Os trabalhadores, estes já faziam parte da conta petista e/ou das esquerdas.

 O Partido Socialista Brasileiro (PSB) nessa eleição lançou Anthony Garotinho, mas no segundo turno apoiou a candidatura petista,e assim se comportou nas eleições seguintes, exceção na última, em 2014, quando lançou a candidatura de Eduardo Campos e Marina Silva. Com a morte de Campos, Marina Silva assumiu a candidatura presidencial com Beto Albuquerque na vice; ao não passar para o segundo turno, o PSB virou o leme e apoiou o tucano Aécio Neves.

O PSB nas três administrações petistas (Lula e Dilma) indicou dirigentes e/ou parlamentares para ministérios e outros órgãos da administração federal. O PSB era um aliado ouvido e levado em consideração por Lula e pelo PT. Com Dilma Rousseff o grau de importância reduziu, pelo menos era o que diziam os dirigentes do PSB com um travo na garganta, mas exercia a defesa da política e das administrações petistas, até o rompimento, que se deu antes do encerramento dos prazos eleitorais.

Após a crise política iniciada com as denúncias que ficaram conhecidas como Mensalão, as vozes do PSB foram no sentido do apoio e defesa do governo e dos petistas. A crise política se alastrou e entornou o caldo no governo Dilma com sucessivas tomadas de decisões erráticas na área econômica. A contaminação do ambiente político com a debacle econômica e a explosão dos escândalos de corrupção deixa cristalina a fragilidade do governo. Com o aprofundamento da crise a que o país está submetido, não tem sido possível visualizar uma saída em que a soberania seja preservada e os interesses nacionais e os ganhos sociais sejam mantidos.

Diante de tão grave situação, o PSB (parcela das bancadas no Senado e na Câmara Federal) intensificou a “discussão” de como participar da partilha dos cargos no governo Temer.

A troca de votos por cargos ou o pagamento dos cargos através das votações, moeda corrente na cena nacional, tem sido o objetivo principal do PSB.

O PSB capitula diante do projeto das elites que pretende sepultar os ganhos sociais conquistados nos embates durante a Assembleia Nacional Constituinte e consagrados na constituição de 1988. Sob os olhares complacentes de dirigentes, alguns que tentam manter o discurso de partido independente, comprometido com o Brasil.

Nada mais é do que a tentativa de estabelecer um discurso para cada público, como ficou demonstrado na tibieza da nota assinada pelo diretório nacional na última reunião realizada em Brasília, em dezembro de 2016.

A covardia política e a frouxidão moral da presidência do PSB são máculas insuperáveis na história do partido. Nunca um dirigente foi tão pequeno diante dos desafios do partido e do Brasil como o atual, Carlos Siqueira, um títere histriônico.

O domínio burocrático-cartorial ou a via pela qual ocorreu o açambarcamento do Partido Socialista Brasileiro é o seu fim, o seu triste e melancólico fim. A alma de um partido, o que o move, o que indica vida inteligente para o que realmente significa um partido político que carrega no seu nome a palavra socialista, é a discussão política, é a luta pela democracia, é a luta para a transformação da sociedade excludente numa sociedade onde os excluídos tenham participação ativa na vida nacional. É o mínimo que se espera. Mas o que se observa é exatamente o contrário.

A permuta dos ideais de democracia e o abandono da construção de um sonho em que homens e mulheres continuassem lutando pelo socialismo como expressão superior da democracia e da construção de uma sociedade menos desigual e fraterna foram levados à bacia das almas e vendidos por cargos num governo tomado de assalto através de um golpe parlamentar, inclusive com a participação de parte dos deputados e senadores. É o fim do PSB.

Resta apenas o que se diz na liturgia católica diante dos mortos, que principia com: “Requiem aeternam dona eis” (“Dai-lhes o repouso eterno”).

Amém!

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