Os partidos políticos no Brasil são propriedades privadas com registros em cartórios. Têm e sempre tiveram donos: os antigos chefes políticos, leia-se os coronéis, que durante a República Velha detinham o controle das siglas e dos votos.
A revolução de 1930 rompeu com muitos dos vícios e domínios dos antigos chefes políticos, mas não mudou substancialmente a estrutura e a organização partidária. Os partidos tornaram-se organizações com abrangência nacional, mas continuaram sendo propriedade privada.
Em 1946, a nova ordem constitucional emanada da Assembleia Nacional Constituinte passou a vigorar no país; novos partidos foram criados e obtiveram registro no TSE. O Partido Comunista Brasileiro (PCB),fundado em 1922, atuou todo esse tempo na clandestinidade e elegeu uma bancada com 14 deputados federais e um senador,Luís Carlos Prestes. Em 1947 teve o registro e os mandatos dos parlamentares cassados.
Em 1947, um grupo de intelectuais de esquerda, não marxista, alguns com militância em pequenas organizações clandestinas de inspiração trotsquista, tem a iniciativa de fundar o Partido Socialista Brasileiro (PSB). O partido nasce a partir de um núcleo de destacados intelectuais e patriotas, e logo se torna uma voz considerada no cenário político, pela defesa dos interesses nacionais.
O golpe militar de 1964 destituiu do cargo o presidente eleito, João Goulart, cassou mandatos de parlamentares e governadores, entre eles Miguel Arraes, bem como de ministros do Supremo Tribunal Federal; prendeu, torturou, assassinou e baniu milhares de brasileiros. Em 1966, mais um golpe é desferido ao se extinguir os partidos políticos. A ditadura permite a existência de apenas dois partidos: ARENA e MDB.
Os democratas e os patriotas lutaram de todas as formas para derrotar a ditadura militar, o que conseguiram depois de 21 anos. A nação só então pôde respirar o ar da democracia e da liberdade. O PSB, poucos meses após o fim da ditadura, é refundado por intelectuais e militantes históricos, jovens de esquerda e políticos comprometidos com a causa democrática.
Este partido foi um ator destacado no processo de consolidação da democracia no Brasil. Nesse período, ganhou e perdeu eleições, fez alianças com os partidos de esquerda, notadamente como PT, e com partidos de centro.
Em Alagoas o PSB conseguiu eleger e reeleger prefeitos em Maceió (Ronaldo Lessa e Kátia Born) e em outras cidades. Elegeu e reelegeu Ronaldo Lessa governador e tornou-se a principal força política do campo de esquerda. Teve no PT, no PPS e no PCdoB aliados que ajudaram a mudar a realidade de Maceió e de Alagoas.
O PSB nem sempre acertou ao se aliar com partidos (siglas) e políticos mais ao centro. Talvez esse tenha sido o erro fatal na política de alianças do PSB em Alagoas.
O exercício do poder fez com que os aliados tradicionais fossem tratados como linhas secundárias, quando não hostilizados. As alianças principais passaram a ser feitas com os políticos tradicionais, os deputados de mandatos, originários das oligarquias locais.
O PSB vem passando por um processo de desfiguração política, ideológica e com desvios éticos semelhantes aos outros partidos (siglas) que são todos os dias citados como copartícipes do butim do erário público.
A intervenção em Alagoas e em outros estados, efetuada pelo presidente nacional Carlos Siqueira, é parte de uma política imposta em direção ao centro e à direita, com o objetivo claro de transformar uma organização política, o PSB, num cartório de interesses particulares e de grupos econômicos regionais e nacionais.
A sigla PSB, em Alagoas, foi adquirida na calada da noite pelo deputado João Henrique Caldas, o JHC, por seu pai, o ex-deputado João Caldas, e sua mãe, ex-prefeita de uma cidade no interior do estado. A aquisição da sigla é fruto de tenebrosa transação ainda não totalmente desvendada. Mas o será com certeza, pois não é possível guardar segredo sobre um ato autoritário dessa natureza, principalmente quando se trata da família Caldas. Alagoas os conhece muito bem.
O presidente nacional do PSB, Carlos Siqueira, imaginou que daria um golpe na executiva estadual e não haveria reação, e sim um silêncio obsequioso em Alagoas. Isso é no mínimo desconhecimento da tradição do PSB alagoano. A reação ao golpe vem crescendo. Estamos nas ruas denunciando o autoritarismo do presidente nacional do PSB.
Alagoas resiste ao golpe.
Fora JHC!
Fora Carlos Siqueira!