Em um domingo quieto recente, Caio, de 3 anos, brincava em casa com os pais Geisa e Rodrigo, quando o telefone tocou. Do outro lado, a notícia de que a avó paterna não resistiu ao tratamento da doença que estava enfrentando. Apesar da maturidade e de alguma preparação para esse momento, os pais ficaram muito tristes e tinham ali uma missão difícil: dar a notícia ao Caio. Foi então que Geisa se valeu de metáforas para tentar explicar o que havia ocorrido. “Contei que a vovó tinha ido morar na casa do Papai do Céu e que quando o Caio quisesse vê-la ou falar com ela, bastaria fechar os olhos, que ele sentiria a vovó. Expliquei que a vovó tinha colocado um curativo no coração, mas que o 'dodói' não sarou”, lembra a mãe. 

Situações como esta vivida pela família do pequeno Caio são comuns porque a morte é a certeza mais misteriosa da vida. Essa contradição torna a morte difícil de ser compreendida pelos adultos e, principalmente, de ser explicada às crianças. A psicóloga Carla Cristini Cunha, do Hapvida Saúde, orienta que entender como funciona a mente infantil ajuda a ensinar os filhos sobre como lidar e conviver com esse tema. Outro aspecto fundamental para a especialista é que, independentemente da idade do filho e da situação – se a morte foi de um bicho de estimação, um parente próximo ou um conhecido distante –, jamais se deve enganar, mentir ou tentar esconder o fato dos pequenos. “Não é porque são crianças que elas sejam bobas, apenas a capacidade de entendimento é que está em pleno desenvolvimento”, explica Carla Cristini.

Desenvolvimento emocional

Dependendo da fase em que a criança está, ela terá uma compreensão diferente, mas é difícil dizer o que o filho entende em cada idade, até porque isso varia de acordo com outros aspectos. Diferentemente do desenvolvimento motor, as sensações e emoções são absolutamente individuais, além de dependerem das experiências pessoais e familiares de cada um. “Mesmo as crianças mais novinhas, até por volta dos 3 anos de idade, têm a capacidade de identificar alterações no clima da casa e da família, então, elas vão saber quando há algo diferente, vão perceber se os pais estão tristes ou preocupados”, esclarece a psicóloga.

Por exemplo, quando um peixinho ou um cachorro morre, se os pais preferem dizer que o bichinho fugiu ou sumiu, eles podem causar uma confusão ainda maior na cabeça das crianças. Além disso, tem outro aspecto importante que precisa ser zelado: a confiança que o filho tem nos pais. “Se os pais escondem ou tentam enganar a criança e, depois, mesmo sem querer, essa criança ouve uma conversa ou fica sabendo da verdade há, possivelmente, uma quebra da confiança”, alerta a especialista.

A morte é um tema presente em diversos momentos e situações da vida. Todos os seres vivos, um dia, morrerão. Fala-se de morte nos filmes, contos infantis, nos jornais, na televisão, no dia a dia. Outros exemplos são os insetos que morrem, as flores quando murcham. A psicóloga apenas lembra que, até por volta dos 6 anos de idade, as crianças não conseguem compreender que a morte é irreversível. ”Nessa fase, os pequenos não diferenciam a fantasia da realidade”, atesta.

Luto infantil

É fundamental ter em mente que a dor da criança é real e que ela precisa de amparo e compreensão, afinal, sofrer pela perda de alguém que se ama ou com quem se convive é natural, mas mas essa dor não deve se transformar em algo que vá prejudicar a saúde das crianças – e dos adultos também. “As crianças sofrem e cada uma, dependendo da idade e do jeito de ser, demonstra a dor de uma maneira”, ensina a pedagoga Cristina Cançado, autora do livro digital “Como Educar os Filhos e Colocar Limites”.

A estudiosa do universo infanto-juvenil explica que a criança muito pequena, por exemplo, não vai entender a permanência da morte e vai esperar que o ente querido volte a qualquer momento. Já a criança maior vai conseguir chegar à conclusão que um dia a morte chegará para cada um. Cabe aos adultos adotarem atitudes que irão ajudar às crianças a lidar melhor com esses sentimentos. Nos momentos difíceis como esse de ter que lidar com a perda de alguém, o mais importante é que os pais, avós, tios, parentes fiquem atentos ao comportamento da criança e respeitem a forma como ela lida com a dor dessa perda. Quanto mais espontaneidade, melhor. A educadora orienta que nunca se deve obrigar a criança a fazer algo que ela não queira.

A seguir, outras dicas de como agir com as crianças em momentos delicados após a morte de alguém próximo.

NO DIA DO VELÓRIO:

      Leve seu filho ao velório, se ele desejar. Levar flores para colocar no caixão pode ser uma boa forma de despedida.

      Não esconda sua tristeza do seu filho. Se ele perguntar o motivo do seu choro, explique que você está triste pois sentirá saudades da pessoa que morreu, já que ela não vai voltar mais.

     Conte a verdade sobre a causa da morte, por exemplo, que estava doente, um acidente ou porque estava velhinho. Não dê detalhes, principalmente se a morte for trágica, com sofrimento.

     Responda às perguntas do seu filho de maneira objetiva, por exemplo, se ele perguntar: “A gente também vai morrer?” Você poderá responder que sim, mas quando estiverem bem velhinhos ou utilizando metáforas pra melhor entendimento. 

COM O PASSAR DOS DIAS:

    Se seu filho é uma criança muito ativa, leve-a para brincar mais vezes ao ar livre.

    Se seu filho é mais quieto, fique mais tempo só com ele.

    Procure manter a rotina.

   Deixe seu filho falar, chorar, rir e brincar. Seja acolhedor! É importante que seu pequeno perceba que ele tem alguém para confortá-lo.

   Vocês poderão construir juntos uma “Caixa de Memórias” ou um “Livro de Memórias” e guardar fotos e lembranças da pessoa que morreu.