O escritor Evandro Sinotti tem causado polêmica nas redes sociais e nas livrarias do Brasil por conta do seu livro “Não, Sr. Comuna!”, que alcançou o status de “best-seller”, com milhares de cópias vendidas. A obra já figura - conforme a Revista Veja - entre as mais vendidas no país na lista de “não ficção”. Por conta do êxito, Sinotti tem travado diversos debates sobre a visão de esquerda e direita nas redes. Obviamente, defendendo o que considera ser uma posição de direta. Por conta destas polêmicas, conversamos com o autor de Não, Sr. Comuna.
Sem papas na língua, Sinotti destaca que é preciso “desmascarar as falácias” e provoca a esquerda nacional. Odiado por alguns, amado por outros, o autor já parte para mais uma tiragem de sua obra, com leve modificação na capa e com o sele de best-seller. O detalhe é que é uma publicação independente de sucesso no país. “Eu percebi que o livro tinha este potencial depois que comecei a fazer algumas postagens sobre estes temas nas redes sociais e foi gerando algumas polêmicas”, frisou Sinotti.
Confira a entrevista na íntegra concedida ao CadaMinutoPress
O que levou você a escrever esta obra Não, Sr. Comuna!? E qual foi o critério utilizado para os assuntos escolhidos, já que os capítulos do livro trata de buscar desconstruir alguns dos principais axiomas levantados pela esquerda quando mostram as suas teorias a respeito do mundo?
Bom, todo mundo tem a intenção de um dia escrever um livro. Mas a gente sempre acha que não tem capacidade para isto. Eu era um destes. Há algum tempo comecei a escrever sobre um livro de futebol, mas acabou não rolando. Esse livro saiu sem querer. No fim de dezembro de 2014, comecei a fazer uma postagem por dia desmascarando uma falácia da esquerda, bem nos moldes que estão no livro mesmo. A galera começou a curtir as postagens. Depois dos 10 primeiros dias, tinha postagem com mais 100 curtidas, mesmo sendo longos. Vi que tinha alguma coisa acontecendo. Alguém sugeriu um blog, outro um livro. Depois de 10 dias eu tinha certeza de que deveria escrever o livro. O modelo acabou sendo este. Eu faço uma afirmação que é dita pela esquerda, como a de no capitalismo os ricos ficarem mais ricos e os pobres mais pobres, e depois entro com a refutação: “Não, Sr. Comuna!” e explico a visão. O livro surgiu meio sem querer, mas eu senti que eu tinha o mais difícil, que era um jeito de escrever que funcionava. Tanto que funcionou. Eu acabei montando a editora e lançando por conta própria.
Em um dos capítulos, com uma linguagem didática, que serve até de porta de entrada, você discute a quebradeira de 1929. Até hoje esse é um dos assuntos muitos debatidos para se criticar o capitalismo em função dos EUA ter ido parar no olho do furacão. Este discurso voltou na crise vivenciada no início dos anos 2000. Qual a visão que você apresenta da queda da bolsa em 1929 e por qual razão você defende que não se pode jogar a culpa no livre mercado?
Há muito esquerdista que diz que a crise de 1929 foi causada por uma hiper-produção. Isto é ridículo. Há 80 anos se consumia 70% menos do que se consome hoje. Com toda produção que se tem hoje, há muita gente com necessidades e desejos a serem atendidos. Há muito o que se produzir ainda. O que causou a crise de 1929 é o que causa quase todas as crises e a exceção são as causadas por desastres naturais. O que causa é a expansão do crédito. Sempre tem o dedo do governo. Quem detém o mecanismo de crédito? Aqui no Brasil é o Banco Central. Nos EUA é o FED. Dizer que o FED não é público é uma meia-verdade. Há nomeações feitas pelo governo dos EUA. Antigamente, tinha mais ainda o dedo dos EUA. Falar que não tem o dedo do governo? Não dá. E, naquele momento, foi o FED que autorizou uma expansão creditícia. E o que é isso? É jogar uma enxurrada de dólar no mercado. Quando você faz isto - que foi o que eles fizeram na década de 20 - todo negócio parece bom. Foi como fez o Lula ao estimular crédito e jogar mais dinheiro na economia. Se você depositar 100 reais na poupança, o banco poderia emprestar 400. Então, criam dígitos e se expande o crédito. O FED autorizou isto. Como pouco dinheiro está em espécie: 14 vezes menos que o dinheiro em forma eletrônica. Foi assim na crise de 1929. Começa a ter um boom, preços sobem, renda nominal melhorar, todo mundo tem dinheiro, gera emprego, só que chega um ponto que a expansão precisa ser parada para não gerar uma hiperinflação. Quando você estanca, os juros sobem. As pessoas param de tomar empréstimos e estão endividadas por conta da expansão. Os preços baixam, todo mundo corre para vender ações. Isto não teria se perpetuado por muito tempo se em 1929 o governo não tivesse intervido na economia. Eu explico isto no livro. O governo decretou tarifa protecionista e praticamente fechou o comércio internacional, pois os outros também se protegeram. Não é fácil de explicar porque é o capítulo mais longo do livro, mas eu tento sintetizar aqui a ideia.
Por que que dentro de um sistema mais liberal - com redução do Estado, que não é a ausência deste de forma utópica - efeitos como estes seriam muito mais difícil de acontecer?
Aí é um argumento da Escola Austríaca de Economia, como Mises e Hayek, enfim. Para eles, se você não tiver a expansão do crédito você não vai ter esses ciclos econômicos de boom econômico e depois a conta a ser paga e grande parte dos negócios que parecia bom deixam de ser bons e quebram. Sem a expansão artificial do crédito para criar mais dinheiro na economia, o indivíduo deposita no banco e o banco só pode emprestar aquela quantia e lucrar o juros. Esse mecanismo não inflaciona porque não joga mais dinheiro na economia. Então, todo tomador de empréstimo toma de uma poupança já existente previamente. A economia se torna mais sólida. Você sofre um pouco no começo, pois o Brasil - por exemplo - é um dos que menos poupa no mundo. Então, o dinheiro acaba ficando caro. Mas, com o tempo você cria a cultura de que para se ter empréstimo tem que ter poupança. Essa cultura vai trazer estabilidade. E um país estável com moeda forte traz investimento estrangeiro e te deixa mais imune a crises. Aqui no Brasil, não tem estabilidade e vivemos um manicômio tributário. Sem esta expansão artificial do crédito praticamente não existia mais crise.
Uma das questões clássicas da esquerda é enxergar a economia como um jogo de soma zero. Por qual razão na sua obra você defende que a economia não é um jogo de soma zero?
Bom, primeiro é importante explicar o que é um jogo de soma zero. O poker é um jogo de soma zero. Se eu entro e aposto 100 reais e você você aposta 100 reais, a única forma de eu sair de lá com 200 reais é você ficar com nada. É um jogo de resultado fechado. A partir do momento que alguém tivesse ganhando, outro passa a perder. Mas a economia não é assim. O PIB global aumenta constantemente. Se aqui no Brasil caiu, no mundo vai aumentando. Não é linear, nem progressivo, pode ter uma ou outra baixa, solavancos, mas se você pegar um gráfico histórico você percebe que não para de aumentar. Se o PIB não é estático é sinal de que há riqueza criada. É como quando um empresário monta uma empresa do nada. Ele está criando riqueza onde antes não existia. Quando eu monto uma fábrica, crio riqueza onde não existia, estou empregando pessoas, melhorando vidas e da sociedade, ainda que eu esteja enriquecendo. Estarei produzindo bens e serviços. Quanto maior a produção, mais barata ela fica e enriquece a sociedade. Os preços dos bens tendem a baixar quando produzidos em grande quantidade. Nunca se pode falar que os pobres são pobres porque os ricos são ricos. São outras questões.
Saindo um pouco da questão econômica, um outro ponto que você trata no seu livro é sobre regimes autoritários. Você fala do Nazismo e do Fascismo, que são vistos como regimes de direita. Por que você defende que não se trata de direita? Seriam de esquerda?
Eu não classifico como esquerda ou direita. Não faço isto. Não gosto de usar esta terminologia. Mas há algumas características nestes regimes que são aquelas que as visões de esquerda defende: o Estado gigante como motor da economia e não o indivíduo, por exemplo. O pessoal disse que existia empresa na Alemanha de Hitler. Sim, existiam, mas elas não escolhiam o que produziram, os salários eram congelados, que é totalmente o oposto ao que um liberal defende. Não vou dizer que não possa existir taxação. Não se trata disto, pois não sou um libertário. Mas a gente defende que o Estado se mantenha mais distante da economia, que ele seja no máximo definidor de leis que garantam a propriedade privada e deixe o povo trabalhar. Na Alemanha, tinha muita intervenção. Teve um momento em que o patrão não poderia mais escolher quanto do lucro iria poder retirar da empresa. Isto limitado mensalmente. Empresas estrangeiras com subsidiárias na Alemanha não poderia repatriar os livros. Isto é totalmente interventor e contra o que os simpatizantes do livre mercado pregam. A esquerda é quem adora intervenções estatais no mercado. Então, estão mais próximos de visões que são visões defendidas pela esquerda.