Caminho da Luz (II)

01/08/2016 17:20 - Geraldo de Majella
Por redação

 

        O Caminho da Luz foi idealizado pelo jornalista Albino Neves, carioca e radicado em Minas Gerais. A Associação Brasileira dos Amigos do Caminho da Luz (Abraluz),criada em 2006 por Albino Neves, tem a finalidade de apoiar os caminhantes, proporcionando-lhes melhor acesso turístico, cultural, religioso, histórico, ecológico, e mantendo sinalizado todo o trajeto do caminho.

        O Caminho da Luz ampliou a visibilidade das cidades da mata mineira, atraiu um tipo específico de turista, o caminhante, peregrino, de caráter religioso ou não. O ativo a ser explorado no caminho é a beleza natural e os monumentos históricos.

Os investimentos essenciais para a montagem foram o intelectual, o emocional e o desprendimento pessoal para a construção dessa obra.                  

Esse trabalho desenvolvido pela Abraluz é meritório. A organização e a estruturação de um caminho com cerca de 200 quilômetros no Brasil não são tarefas fáceis; requerem dedicação e profissionalismo. É uma obra construída por idealistas e apaixonados por esse tipo de atividade.

Quando ainda era jovem, ou mais jovem, li “Cantares”, poema do espanhol Antonio Machado (1975-1939). Logo me identifiquei e jamais me imaginei um caminhante, mas os versos ficaram dentro de mim:

 

[...] Caminhante, são tuas pegadas/o caminho e nada mais;/caminhante, não há caminho,/se faz caminho ao andar/ Ao andar se faz caminho/e ao voltar a vista atrás/se vê a senda que nunca/se há de voltar a pisar/ Caminhante, não há caminho,/ somente sulcos no mar [...].

 

O meu olhar de caminhante não perde a oportunidade de fazer comparações. As dificuldades físicas, fui superando-as paulatinamente durante o caminho. Abstraí as dificuldades e me pus a olhar um mundo que se descortinou: o rural mineiro. 

A paisagem verde e a cor do cafezal me atraíram. Sou um apreciador de café, tomo café com prazer em casa e em cafeterias. Mas estou longe de ser um conhecedor, um especialista, e nem penso em ser profissional do tipo barista, tampouco um degustador.

A mata mineira, além do café, tem outros produtos agrícolas, como banana, feijão, mandioca, milho, e também a criação de gado leiteiro, suínos, galinhas, tilápias.

A agricultura familiar se apresentou no percurso do Caminho da Luz, para o meu agrado. Sei que essa atividade é a que abastece os lares dos brasileiros e efetivamente gera renda e contribui com a melhoria dos indicadores sociais no interior do país. Mas há médios e grandes produtores rurais no percurso do caminho, inclusive alambique de cachaça com a produção quase que integralmente comercializada no exterior.

Aproveitei a caminhada e conversei com moradores das cidades e povoados, e até no trajeto, com proprietários de pequenas glebas, agricultores familiares. O mineiro é desconfiado, de poucas palavras e reticente, me diziam, mas não foi o que o que percebi; as pessoas com quem conversei foram solícitas e falaram francamente.

Os brasileiros do interior, de Minas Gerais ou de Alagoas, são pessoas gentis e de fácil comunicação. Têm a desconfiança natural, diferentemente dos que moram em grandes centros urbanos, que vivem inseguros e não se permitem parar para conversar com estranhos.

Nesse meu caminhar, subindo e descendo serras e montanhas, só me fortaleceu a convicção de que a pequena propriedade rural bem administrada e com assistência técnica e credito passa a ser forte e competitiva, tornando-se uma alternativa ao atual modelo de desenvolvimento brasileiro, que concentra as maiores energias nas culturas de exportação.

Alimentos saudáveis e com preços justos são uma necessidade para todos nós, caminhantes ou não. O caminho me fez continuar acreditando na viabilidade da agricultura familiar e num mundo novo.

 

        

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