Sob ameaça de um processo de impeachment contra o procurador-geral da República, Rodrigo Janot, tramitando em um Senado que tem a clara oportunidade de finalmente “estancar” a Operação Lava Jato, seis associações de procuradores da República divulgaram nota à imprensa para repudiar o que chamam de “tentativas de desqualificar” a atuação do chefe do Ministério Público Federal (MPF) nas investigações do esquema do petrolão, que já tramitam no Supremo Tribunal Federal (STF) contra os figurões do Congresso Nacional e da cúpula do poder em Brasília (DF).

A manifestação divulgada na noite de quarta-feira (15), contrapõe-se à disposição do presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), de aceitar o pedido de impeachment contra Janot, acusando o chefe do MPF de cometer excessos e agir com “abuso de poder”, após ter sido alvo de um pedido de prisão que tentou trancafiá-lo junto com o senador Romero Jucá (PMDB-RR) e o ex-senador José Sarney. Todos são acusados de tramar contra a Lava Jato.

Na tribuna do Senado, ainda na quarta, Renan classificou de “esdrúxulo” e “ridículo” o pedido pela sua prisão, rejeitada pelo ministro do STF, Teori Zavascki. Antes, Renan havia convocado líderes partidários do Senado para comunicar a tendência de aceitar o pedido de impeachment feito contra o procurador-geral da República.

A notícia causou reações adversas entre os interlocutores, enquanto o senador Cristovam Buarque (PPS-DF) considerou a providência um desastre que confirmaria a tese de que o impeachment de Dilma tinha o único objetivo de barrar a Lava Jato, o ex-presidente Fernando Collor (PTB-AL) usou da retórica “contrária às injustiças históricas” para incentivar o comparsa a dar andamento ao processo apresentado por duas advogadas contra Janot, que se tornou o algoz de ambos, ao apresentar uma série de denúncias para análise do STF.

Senador Fernando Collor, durante sabatina de recondução de Rodrigo Janot à chefia do MPF (Foto: Marcelo Camargo/Agência Brasil)

 

Contra faltosos

As entidades de procuradores do Ministério Público defenderam em nota que Janot está cumprindo seu dever de forma imparcial e de acordo com a lei. E ainda garantiram que os integrantes do MPF vão continuar atuando com “serenidade na defesa dos direitos e garantias constitucionais”.

“No momento em que um membro do Ministério Público move o sistema de Justiça para responsabilizar faltosos, é natural a reação adversa dos chamados a se explicar. Quando a sociedade assiste ataques ao procurador-geral da República, presencia exatamente o mesmo comportamento, apenas com a diferença de que entre os investigados com os quais lida o chefe do MPU, por força da Constituição, incluem-se algumas das maiores autoridades do país. O PGR, assim como o Ministério Público, age sempre com total imparcialidade, de acordo com a lei, sem olhar a quem”, diz a nota.

A manifestação foi assinada conjuntamente pela Associação Nacional dos Procuradores da República (ANPR), Associação Nacional dos Membros do Ministério Público (Conamp),  Conselho Nacional de Procuradores-Gerais (CNPG), Associação Nacional dos Procuradores do Trabalho (ANPT), Associação Nacional do Ministério Público Militar (ANMPM) e a Associação do Ministério Público do Distrito Federal e Territórios (AMPDFT).

Já a proposta de Renan Calheiros só quem "assinou embaixo" publicamente foi Fernando Collor, por razões óbvias que inspiram nos demais colegas o sentimento de autopreservação. O convencimento de outros senadores vai depender muito da reação do grunhido das ruas, quase inaudível no momento atual.