“Vamos sair, mas não temos mais dinheiro. Os meus amigos todos estão procurando emprego. Voltamos a viver como há dez anos atrás. E, a cada hora que passa, envelhecemos dez semanas”. O trecho é da canção Teatro dos Vampiros, da banda Legião Urbana. Mas, assim como em Que País É Esse?, outro clássico do mais popular grupo de rock nacional, parece dialogar com a realidade atual do brasileiro, do alagoano, da juventude e de gente com mais idade, que teme estar revivendo tempos sombrios e macabros de um regime sem democracia.
Esta conclusão foi exposta pelo guitarrista Dado Villa Lobos, na madrugada do último domingo (22), diante de um eufórico coro de cerca de seis mil vozes de devotos da banda Legião Urbana, que assistiam ao seu primeiro e certamente último show para o público de Maceió, no estacionamento do Parque Shopping, em Cruz das Almas. Durante o show, Dado e o baterista Marcelo Bonfá celebraram a vida e a música da banda, na onipresença do espírito do letrista e vocalista Renato Russo, que morreu em 1996 dando fim à trajetória da Legião Urbana.
Em entrevista exclusiva ao CadaMinuto Press, publicada nesta edição, Dado Villa Lobos fala sobre as chances de a Legião, sem Renato Russo, seguir fazendo apresentações esporádicas, após o final desta turnê comemorativa, que se encerra no final deste ano.
Além de falar das lembranças trazidas pelo retorno aos palcos da Legião Urbana, Dado explicou os propósitos da concretização da Turnê XXX Anos, sobre a política nacional e batalha judicial com Giuliano Manfredini, o filho único de Renato Russo, que tentou impedir o uso da marca da Legião pelos remanescentes da banda.
Dado afirmou à reportagem que a situação de crise e de ameaças à democracia tem como responsáveis todos os brasileiros. E ao comentar o recente escândalo das gravações feitas pelo ex-presidente da Transpetro, Sérgio Machado, a estrela do rock disse que enxerga o momento como o início do desmoronamento do castelo de cartas da imundície da política nacional. Seu desejo é que, além da primeira carta, a presidente Dilma Rousseff, caiam todos os envolvidos nas imoralidades e nos esquemas de corrupção na cúpula do poder nacional, na capital federal em que nasceu a Legião Urbana.
Na manhã da última terça-feira (24), Dado Villa Lobos ainda respondeu sobre a representatividade política dos alagoanos no Congresso Nacional e o fato de a ex-senadora Heloísa Helena (Rede) não ter vencido as eleições de 2010 e 2014, contra campanhas eleitorais como as do presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB), e do ex-presidente da República Fernando Collor (PTC), suspeitos de corrupção da Petrobras, no esquema do petrolão. Uma realidade que ele afirma caber perfeitamente nos questionamentos eternizados nas músicas de Legião Urbana.
Os versos também atuais de Metal contra as Nuvens lembram bem de uma postura necessária, diante desta vida sob o governo precário de Michel Temer, que evoluiu a tática petista de chamar crises de “marolinhas” e agora ordena que o brasileiro ignore a realidade e “trabalhe”, mesmo no contexto de aumento do desemprego. É bem assim: “Não sou escravo de ninguém. Ninguém, senhor do meu domínio... Esses são dias desleais. É a verdade o que assombra. O descaso que condena... Não aprendi a me render. Que caia o inimigo então”
Este editorial está publicado na Edição nº 130 do jornal CadaMinuto Press, que chega às bancas nesta quinta-feira (26). Confira os destaques: