A dengue e as demais doenças transmitidas pelo Aedes aegypti se tornaram um desafio a ser vencido pelas autoridades de saúde nacional. Além de ser uma situação grave de saúde pública, a dengue, por exemplo, também preocupa empresas e trabalhadores, já que uma pesquisa listou a doença como uma das maiores causas de afastamento do trabalho no Brasil. Aqui em Alagoas já há quem tome precauções para evitar que o cenário se torne crítico.

Os dados que colocam mais preocupação sobre os problemas causados pela dengue foram fruto de uma pesquisa da consultoria Gesto Saúde e Tecnologia divulgada recentemente. O levantamento apontou que em 2015 cerca de 2,5% dos trabalhadores de várias empresas espalhadas pelo país tiveram que se afastar de suas atividades por conta da dengue. A doença saltou da 42ª posição para o quinto lugar, ao lado de doenças como depressão, lesão por esforço repetitivo (LER/Dort) e outros acidentes de trabalho.

Em entrevista ao CadaMinuto, o diretor comercial e de marketing da Gesto, Fábio Diogo, disse que a pesquisa foi feita com base em 2 milhões de pessoas que atuam em 150 empresas atendidas pela consultora. Apesar de não haver números de Alagoas, ele avaliou que o atual cenário faz com que as empresas também atuem na tarefa de prevenção e eliminação de focos do Aedes aegypti.

“Precisamos pensar este tema sob duas óticas: uma delas em relação à qualidade de vida do funcionário e a outra em relação à sua produtividade. O levantamento realizado pela Gesto mostra o impacto que as empresas sentiram na prática com a epidemia de dengue e os gestores precisam olhar para o assunto de forma mais aprofundada para encará-lo de maneira a minimizar as perdas. E isso só possível levando mais saúde aos colaboradores”, disse.

Fábio alerta que além de campanhas de conscientização as empresas precisam avaliar a disponibilização de repelentes no ambiente de trabalho.  “Nesse sentido, para ilustrar, podemos comparar a situação com a disponibilização de protetor solar pelos Correios aos carteiros como item de segurança do trabalho, depois de um estudo sobre casos de câncer de pele. Verificou-se que era mais eficiente e economicamente viável evitar a doença do que tratá-la”, destacou.

Do ponto de vista empresarial, Fábio Diogo disse que o custo per capita de um colaborador que contrai a doença pode aumentar até 200% em comparação com um colaborador de uso médio que não é atingido pela dengue. Ele chama a atenção para a adequação da rede referenciada para que haja capacidade para atender esse aumento de demanda com eficiência, buscando o menor impacto econômico possível.

Apesar do cenário de incertezas em 2016, Fábio alertou que a situação pode se agravar se acrescentar nessas estatísticas os casos de Zika e Febre Chikungunya.

“Não é possível prever um panorama certeiro. O que temos é uma expectativa que 2016 terá um cenário pior do que o de 2015. Em um ano a dengue subiu 36 posições no ranking que mais afastam os colaboradores, passando a ser o 5º principal motivo. Esse dado está de acordo com as informações oficiais do Ministério da Saúde: foram 1,6 milhão de casos prováveis no ano, o maior número já registrado desde 1990. Em 2016, até meados de março, o Ministério fala em 495.266 ocorrências, um aumento de quase 50% em relação ao mesmo período de 2015. Ou seja, ao acrescentarmos zika e chikungunya nessa conta teremos certamente mais afastamentos (acreditamos em algo em torno de 4% do total de colaboradores), mais aumento do benefício de saúde e maior impacto na produtividade”, concluiu.

Cuidados redobrados após dengue

A biomédica Aparecida Barbosa sentiu na pele os sintomas da dengue duas vezes no ano passado e em ambas precisou se afastar de suas funções no laboratório onde trabalha. Após as situações, ela redobrou os cuidados para eliminar focos do mosquito tanto no ambiente de trabalho quanto em sua residência.

“Tive dengue duas vezes no segundo semestre do ano passado, e uma delas foi mais sério, porque tive dengue hemorrágica. Me afastei do trabalho as duas vezes para fazer os exames e me recuperar, eu não tinha condições alguma de continuar trabalhando. Senti muitas dores, enjoos, febre, dor cabeça. Não adianta você ficar forçando o seu corpo e acabar se prejudicando ainda mais, eu não aguentava nem segurar uma caneta e fiquei muito debilitada durante uma semana mais ou menos. Precisei ir ao hospital para ser consultada e tomar as medicações necessárias. Depois fui melhorando e voltando ao trabalho aos poucos. Como trabalho visitando alguns locais mais isolados que possuem muitos terrenos abandonados, acredito que tenha ficado mais exposta ao mosquito. Hoje tomo mais cuidados, como passar repelente e observar se existe focos do mosquito da dengue tanto no meu trabalho, tanto na minha casa”, contou.

Números alarmantes

Os dados divulgados pelas Secretarias de Saúde expõe de forma preocupante a situação dos municípios alagoanos com relação a dengue. Segundo a Sesau em 2015 foram notificados 30.046 casos da doença no Estado e em janeiro de 2016 foram notificados 598 casos. Em Maceió, a Secretaria Municipal de Saúde divulgou em boletim que de janeiro a 12 de março deste ano foram registrados 313 casos notificados. No mesmo período do ano passado foram 395 casos.

Febre Chikungunya e Zika apesar de não terem sido objeto da pesquisa realizada, também são preocupantes e possuem números relevantes de caso sob investigação. A Secretaria Estadual de Saúde já confirmou quase 50 casos de Chikungunya e 32 casos isolados de Zika, segundo dados divulgados em janeiro. Porém, estes últimos números podem ser maiores.

Empresas montam estratégias para prevenir a dengue

Para evitar focos do mosquito Aedes aegypti e consequentemente o contágio de trabalhadores e moradores da região, a Braskem vem desenvolvendo diversas atividades dentro e fora da fábrica localizada no Pontal da Barra para combater as doenças transmitidas pelo mosquito.

Em 2015 a empresa notificou apenas uma pessoa que se afastou do trabalho após contrair dengue, mas não há informação onde ocorreu o contágio. Mesmo com uma estatística pequena, a Braskem diz que vem tomando os devidos cuidados para que não hajam focos do mosquito na sua área.

  O diretor de relações institucionais, Milton Pradines, disse que já foram realizadas inspeções nas áreas da fábrica com foco em prevenção de focos, além de inspeção no terminal marítimo e ações se sensibilização na região do Trapiche e no Pontal da Barra. Ele destacou a preocupação de se promover um ambiente de trabalho sadio e também contribuir para a saúde da população que mora no entorno da Braskem.

“Isso é uma assunto que faz parte da nossa política de saúde e segurança do meio ambiente e das preocupações relacionadas com a qualidade do local de trabalho. Também aproveitamos para fazer um trabalho ampliado com as comunidades. É preciso campanhas, ações de limpeza e de combate ao foco do mosquito periodicamente. Apesar do número de dengue ter aumentado bastante na cidade ainda não registramos nenhum trabalhador com dengue este ano, mas é preciso prover de instalações de trabalho que não sejam propícias a proliferação. Por enquanto vamos intensificar o combate aos focos. Na fábrica é constante, mas vamos realizar também no entorno”, completou.

Morador do Trapiche recebe folheto de ação de conscientização realizada pela Braskem

*Colaborou